terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sobre o meu espírito anti-natalino

Tenho uma confissão a fazer: não acho que o mundo fica mais feliz, unido, iluminado ou coisa parecida no Natal. As outras pessoas eu não sei, mas eu fico é mais pobre. Esse ano decidi dar presente só pra família e, ainda assim, lá se foi uma boa grana. Quanto a isso, tudo bem, porque gosto de presentear pessoas queridas. O que eu acho esquisito é esse clima meio forçado de união misturado com "vamos às compras".

Pensando direito, é bem isso mesmo: "vamos todos juntos às compras", a julgar pela multidão cheia de sacolas nos shoppings às vésperas do dia 25. Em vez daquela reflexão sobre "o verdadeiro espírito do Natal" que nossas avós nos sugerem a fazer, o que simboliza verdadeiramente a data é uma massa de gente mal-humorada, com pressa para terminar os preparativos da ceia e refém de parcelas da Renner até a metade do ano seguinte.

Só me animo com o tender e a rabanada (que a família ainda cisma em liberar só depois da meia-noite). Pronto, falei.

(ouvindo "People Are Strange", The Doors)

sábado, 20 de dezembro de 2008

Muito mais que uma cerca eletrificada


Apesar de ser bem vulnerável aos apelos midiáticos (tipos, chorar em episódios de Brother & Sisters e afins), pouquíssimas vezes saí do cinema tão impactada. O filme era "O Menino do Pijama Listrado", sobre a improvável amizade entre o filho de um oficial nazista (Bruno) e o prisioneiro de um campo de concentração (Shmuel), menininhos fofos de 8 anos que não têm com quem brincar. Quando Bruno e a família se mudam para o interior, ele vê da janela algo que imagina ser uma fazenda (na verdade, o campo) com moradores esquisitos que só usam pijamas listrados.   

Grande parte do filme está em mostrar os efeitos de uma verdade perturbadora sobre a família de Bruno - que não tem exata noção do que o pai dele faz nos campos nem do que é aquela fumaça negra e malcheirosa que sai da chaminé dos fornos crematórios -, a lavagem cerebral que legitimou o anti-semitismo para milhares de alemães e uma certa sabedoria infantil frente à irracionalidade dos adultos. 

Depois que descobre Shmuel, Bruno passa a ir todos os dias conversar com o menino e levar comida pra ele. Com os relatos do amigo sobre o cotidiano de exploração e falta de dignidade do campo, Bruno aos poucos vai percebendo que aquele homem de quem tinha tanto orgulho pode não ser nada do que imaginava. Ao contrário do que todos a sua volta dizem (que todos os judeus são ruins e responsáveis pelos males de que sofre o povo alemão), ele vê que a realidade é bem diferente de perto. Surpreendente, tanto pra ele quanto pra mim.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pragas moralistas

Existem alguns boatos que se propagam com o tempo através da tradição oral, como uma forma de disciplinar os indivíduos por meio de ameaças pavorosas. Suas principais portadoras são tias velhas, mães, avós e agregadas da família (geralmente coroas também). Alguns exemplos tradicionais da infância:

* Sair sem companhia é pedir pra ser seqüestrado pelo temido homem do saco;

* Andar sem chinelo faz as pernas encolherem;

* Leite com manga é uma mistura assassina;

* Chiclete que traz tatuagem removível como brinde vem com drogas alucinógenas que são absorvidas pela pele;

* O Papai Noel tem uma lista em que anota as boas e más ações das crianças. Dependendo do saldo, você pode ficar sem presente no Natal como castigo.

Ou na adolescência:

* Beijar muita gente dá sapinho (mazela que eu até hoje, aliás, ainda não sei bem o que é);

* Portadores revoltados do vírus HIV transmitem a doença escolhendo pessoas aleatoriamente na rua e as perfurando com seringas contaminadas;

* Homem que se masturba fica cheio de espinhas no rosto e pêlos na mão;

* Transou, engravidou. Por isso, não transe.

É engraçado como essas lendas urbanas vão ficando mais assustadoras com o passar dos anos e, mesmo na idade adulta, continuam povoando o nosso imaginário e enchendo nossas cabeças de dúvidas e culpa: 

* Casais em que o homem é mais velho e a mulher mais nova ou o contrário só podem significar uma coisa: golpe do baú;

* Mulher que transa "cedo demais" leva pé na bunda;

* Gays podem ser "convertidos" ao mundo hetero;

* Mulher não pode tomar a iniciativa com um cara (afinal, isso é coisa de "quem não se dá valor");

* A neura do "Boa noite, Cinderela". Deixar de olhar um segundo para o copo traz como conseqüência acordar no dia seguinte numa banheira sem um rim nem qualquer idéia de como isso aconteceu.

* Existe um sapato velho pra todo pé cansado, uma tampa pra cada panela, uma metade pra toda laranja ou alguma outra metáfora besta sobre almas gêmeas. 

sábado, 13 de dezembro de 2008

"Cuidado: cenas fortes"

Tá certo que o homem era uma figura execrada pela opinião pública, já que bater em mulher, quebrar motel e ainda por cima encher a cara de pó não tão com nada, mas convenhamos: todo mundo merece um mínimo de dignidade. O Dia postou hoje, em seu site, um vídeo com imagens de Marcelo Silva (ex de Suzana Vieira e bafafá do ano) na garagem em que foi encontrado morto na 5ª feira. Pegou mal. 

De acordo com o código de ética dos jornalistas brasileiros, os profissionais devem basear seu trabalho no interesse público, respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão e não podem divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos. 

A questão do interesse público tem estado um tanto controversa nos últimos tempos, já que a vida pessoal das "celebridades" tem sido tratada como entretenimento (como, aliás, já vinha ocorrendo desde o começo do envolvimento do casal), mas há que se diferenciar interesse público da curiosidade pública. Nesse caso, não havia ganho social nenhum que justificasse a veiculação do vídeo, houve foi desprezo pelo bom jornalismo e exercício da baixaria.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"Como é que se escreve 'Ré...vei...llon'?"

Continuo esperando o Ashton Kutcher sair de trás da porta gritando "you just got punk'd!", mas recebi 12 dias de folga do estágio no final do ano. Tempo pra caramba, praticamente férias antecipadas assim, sem prévio conhecimento. Idéias megalomaníacas logo começaram a passar pela minha cabeça: Fortaleza? Buenos Aires? Chile? 

Alguns segundos foram o bastante para fazer os meus pés voltarem pro chão. "Acorda pra vida, Luanda", como diria meu tio. O dinheiro não dá nem pra ir a Niterói. Serão 12 dias de sobrevivência modesta, à base de busão rumo à praia, baladas custeadas pelo cartão de crédito (que é pra cair só em janeiro) e programas econômicos (tipo cada um leva as suas cervejas pra casa dos amigos e, tadá, é a festa).

A tendência então (porque eu sou otimista e tenho uma esperança/ilusão de que algo aconteça) é passar o Natal no pacote standard (família-missa-ceia-troca sonolenta de presentes). Só o Réveillon é que ainda é um mistério. Praia de Copacabana nem pensar, só em alguma situação excepcional, envolvendo um conhecido imaginário que tenha apê nas proximidades para evitar o apocalipse na volta de metrô.

Com exceção dessa hipótese improvável, a data é uma grande interrogação, portanto lembrem da mocinha aqui ao programarem o Ano Novo, porque passar em casa, vendo TV e ouvindo os cachorros dos vizinhos (igualmente abandonados pelos entes queridos e igualmente putos por isso) latindo apavorados com os fogos ao longe está fora de questão.  

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Batendo mais um pouco em cachorro morto

Eu sei que o assunto já tá enchendo a paciência, mas cara. C-a-r-a. É só comigo ou dá mesmo embrulho no estômago só de imaginar esses dois juntos?


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Epifania no cinema


Hoje, para aproveitar a última semana de cinema nacional a preço de pastel com refresco, vi "Romance" e "Feliz Natal". O primeiro é bonitinho e, pra ser bem redundante, romântico. Overdose de referências à tragédia de Tristão e Isolda, mas vale pelo casal de protagonistas - Wagner Moura e Letícia Sabatella - e por acender de leve a esperança de que eu ainda posso (re) encontrar a tampa da minha panela e viver para sempre bebendo o vinho do amor (não me culpem pela metáfora, peguei emprestada do filme).

Já o segundo, que assisti por causa do Leonardo Medeiros (ator de "Cabra Cega") e de todo o falatório por ser o primeiro filme com direção e roteiro do Selton Mello... Sinceridade? Uma bosta. Um bando de simbologias sem criatividade pra criticar a instituição da família na sociedade, aquela coisa bem "vamos denunciar essa podridão hipócrita para o mundo". Rebeldia preguiçosa e ultrapassada. As distorções de câmera e os closes insistentes também incomodam, só que não no "bom" sentido. Mas tenho que reconhecer: rock and roll a matriarca interpretada pela Darlene Glória tocando o terror chapada o filme inteiro. Winehouse e Narcisa perdem.

Ah, detalhe para o momento "ironias da vida" enquanto eu assistia ao primeiro filme. Eu lá, all by myself, sei lá por quê, pensei: "estou vendo 'Romance' sozinha". Repeti mentalmente a frase algumas vezes, até desassociar a palavra do título do filme, juntei à conversa de ontem com um amigo (em que eu choramingava pela minha solidão) e tive um mini-flashback - à la "Os Normais - das minhas desventuras amorosas. Ri sozinha. Pensei sobre como eu sou reincidente em criar expectativas e imaginar que estou com o cara mais incrível do mundo logo de cara, que "dessa vez vai".

Acabo me revelando muito cedo (o que me lembra da Carrie, de Sex and the City, que se qualificou como "emocionalmente promíscua" pela mesma razão) e metendo os pés pelas mãos. O foda é que, quando finalmente caio em mim e percebo que me estrepei, é um sofrimento só. Choro, noites em claro, sessões intensivas de Jeff Buckley, Astrud Gilberto, Johnny Cash e Billie Holiday. Até eu começar a juntar os caquinhos e dizer que nunca mais vou ser otária desse jeito de novo. A resolução, para prejuízo da minha saúde mental e cardíaca, não costuma ser muito persistente.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Na expectativa do tender com farofa


O movimento de sacoleiras e donas-de-casa ávidas por compras já aumentou nas ruas do Saara, agora tomadas por lojas vendendo pisca-piscas, enfeites para pendurar em pinheiros artificiais, guirlandas e outros artigos típicos para dar o clima da época que vem chegando. Tem gente que se anima tanto para as festividades natalinas que compra até espuma para fazer as vezes de neve no quintal. Em pleno verão carioca.

Os pobres Papais Noéis (será que esse plural tá certo mesmo?), vestidos para enfrentar um frio glacial, já tomaram posse dos tronos destinados a eles nos shoppings cariocas. Ainda terminando suas casquinhas do Bob's para aliviar o calor, pobres crianças são levadas para serem fotografadas ao lado dos caras. Algumas ficam hipnotizadas e acham o máximo, outras parecem constrangidas e há ainda as que choram enlouquecidamente enquanto suas mães gritam "fica aí só mais um pouquinho pro papai tirar a foto, filho".

Assim seria mais divertido:

Uma vez, li que Papai Noel no Brasil deveria ser magricelo, usar camisa de time, bermuda e Havaianas. Não é pra tanto na minha opinião, mas aquela pompa toda do mito - roupas de inverno, chaminé, trenó puxado por renas - já é exagero. Num país em que grande parte da população é cristã (86% se declara católica ou evangélica, conforme estudo divulgado pelo Datafolha em 2007), o Natal se justifica.

Já a figura do Papai Noel acoplada à comemoração me parece meio deslocada na realidade brazuca, assim como na de diversos outros países que a adotaram. Mas, enfim, difícil falar em cultura sem levar em conta essa influência cruzada e difícil falar em Natal sem pensar no Papai Noel. Resultado: anos de nossas infâncias acordando ansiosos no dia 25 pra encontrar um presente que não havia sido deixado por nenhum velhinho vindo do Pólo Norte, mas comprado nas Lojas Americanas da esquina por nossos entes queridos. Que enganação.

A melhor parte do Natal, definitivamente, é a ceia. Dá uma certa culpa falar disso quando tem gente morrendo de inanição na África subsaariana ou até bem aqui mais perto, mas venhamos e convenhamos: vale a pena assistir a todos aqueles especiais sem graça na TV, participar de mais um previsível amigo-oculto e esperar até meia-noite pra exercitar o pecado da gula com ela. Daí em diante, o negócio é se esbaldar com os itens que geralmente só aparecem na mesa nessa data específica, como o chester, a rabanada, o panetone (e seu maravilhoso primo, o chocotone), as nozes e, o meu preferido, o tender. Barbudo nenhum dizendo ho ho ho supera essa alegria.

domingo, 23 de novembro de 2008

Não tiro mais das minhas playlists

Seu Neyla

Zapeando (o que eu faço obsessiva e irritantemente quando paro em frente à TV), peguei o restinho de um programa da Globonews. O entrevistado era Ney Latorraca, por quem eu sempre nutri uma mistura de admiração e antipatia, pelas boas atuações e declarações instigantes acompanhadas de um ar pretensioso (um lance meio Jack Nicholson). Hoje, no entanto, fui pega de surpresa por sua sinceridade, inteligência e seu senso crítico extremos e inesperados. 

Ney falou sobre o destino dos seus bens (que vai doar para entidades beneficentes por considerar o fim mais digno e não pra pagar de humilde), os fracassos de público (como quando assistiu, num cinema vazio, a um dos filmes em que atuou), a sua grande vaidade e o gosto em ser o centro das atenções. Levou ao estúdio santinhos com a sua foto, que diz ter mandado imprimir para autografar e entregar aos fãs, mas que ninguém quer pegar (diz ele que é mais fácil quando oferece a crianças e pessoas de idade). Irozinou os sinais da própria idade, mostrando um truque para esconder o papo nas fotos.

Quando perguntado qual foi a sua maior decepção com uma estrela - depois de contar as tietagens com Sophia Loren e Shirley MacLaine -, disse que havia sido consigo mesmo, quando percebeu que tinha ficado deslumbrado com a própria imagem, numa resposta obviamente dúbia. O jornalista perguntou quando tinha sido a última vez em que ele havia gritado com alguém e Ney respondeu prontamente que tinha sido na manhã daquele dia, com o motorista que se atrasou para buscá-lo.

Mas o ponto que eu achei mais interessante e que provavelmente vai render um próximo post foi quando ele comentou uma declaração anterior, de que os brasileiros se tornaram arrogantes e mal-educados, principalmente ao lidarem com pessoas que estão prestando algum tipo de serviço ou fazendo trabalho de apoio, como porteiros, garçons, técnicos de luz e comissárias de bordo. Disse que as pessoas esqueceram de expressões como "por favor" e também de que a escravidão já terminou faz tempo. E que é necessário haver um resgate da gentileza.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

Cantadas cretinas

Descendo a Rua Augusta - essa já tá velha, mas valhe a pena contar - , chega um pangaré e passa um braço por cima dos meus ombros.

Ele: Garota, você é o meu número...

Eu: Gente, ainda se usa isso? Que brega (tirando o braço do abusado de cima de mim).

Ele: Nossa, que pé grande!

Sério mesmo que ele não conseguiu pensar em nenhuma outra razão para eu recusar aquele galanteio tão gentil além da hipótese de eu ser sapa? Que falta de imaginação (e auto-crítica).

sábado, 15 de novembro de 2008

O casal simbiótico

Rapaz e Donzela não se conheciam, mas tinham um amigo em comum. Se encontraram no aniversário dele, num bar, e começaram a conversar. O papo fluía bem, um assunto trazia naturalmente outro e mais outro. Donzela falou sobre o show que ela estava doida pra assistir, enquanto Rapaz escutava com total atenção. Quando deu 11 horas, Rapaz avisou que precisava ir embora porque tinha prova no dia seguinte e eles trocaram telefones. Alguns dias depois, marcaram um cinema. Donzela estava ansiosa, mas tudo saiu bem. Na despedida, trocaram um beijo que deixou cada um com um sorriso imenso no rosto na volta pra casa. Daí em diante, os encontros foram se tornando mais e mais freqüentes e, em pouco tempo, estavam namorando.

Eles eram mesmo um casal lindo. Se tratavam cheios de mimos e a felicidade deles por estarem juntos era tão grande que dava até para ignorar os apelidinhos bregas que eles usavam pra chamar um ao outro. Um dia, aquele amigo em comum foi mandar um recado para Rapaz no Orkut e viu que seu perfil havia sumido. Estranhamente, o de Donzela também. No dia seguinte, "Donzela & Rapaz forever" pedia autorização. O amigo achou meio esquisito, mas não imaginava que aquele era só o começo. O próximo sinal do que estava por vir foi quando convidaram Donzela para o teatro e ela disse:

- Poxa, eu queria tanto ir a essa peça... Pena que o Rapaz não vai poder esse dia. Tá levando trabalho pra casa, sabe?

Daí em diante, um só saía se o outro pudesse ir também, mesmo que o convite se estendesse a apenas um deles. Até mesmo os programas em que iam juntos começavam a rarear, já que agora eles preferiam dedicar qualquer tempo livre à intimidade do casal. Se telefonavam o dia inteiro, ou porque Donzela queria contar ao "môzinho" sobre uma piada super engraçada da colega de turma ou porque Rapaz "só queria dizer 'eu te amo' ".

Quando falava com amigas, Donzela encaixava a cada quinze seguntos comentários que começavam com "o meu namorado". Já não usavam mais o pronome "eu" ao responder a uma pergunta ou convite; só diziam "nós" ou "a gente". "A gente adora pizza no forno a lenha!". "Não, obrigado, vinho sempre deixa a gente meio tonto...". "Nós torcemos pelo Obama como se a eleição tivesse sido aqui no Brasil!". Os conhecidos agora evitavam a companhia do casal e sobreviviam às longas conversas balançando a cabeça afirmativamente e dizendo "um-hum" para tentar encurtar o suplício.

Era fato: Rapaz e Donzela haviam se tornado um casal simbiótico. Ali não existiam mais dois indivíduos autônomos, mas um organizmo humano semelhante ao de irmãos siameses, só que formado por dois corpos independentes. Quer dizer, em teoria. Na prática, eram incapazes de tomar uma simples decisão - como se o bolo de aniversário da mãe do Rapaz devia ser de brigadeiro ou crocante - sem o aval do outro.  Outro dia, uma amiga veio me contar que eles terminaram. Vai entender, né?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aves do mal

Xavier Gorce é um cartunista francês que teve a idéia sagaz de criar quadrinhos em que os personagens são pingüins ultra-irônicos, sempre em situações pra lá de humanas. Esses daí estão na revista piauí de novembro:



domingo, 9 de novembro de 2008

Obsessões de Woody Allen, agora na Espanha

Hoje fui à pré-estréia de "Vicky Cristina Barcelona", o novo filme do Woody Allen. Pouco antes da sessão começar, a fila já ultrapassava a entrada do Estação Botafogo e fazia curva bem depois do pipoqueiro. Restaram só algumas poltronas vagas nas fileiras do torcicolo, enquanto o restante da sala foi tomado por gente curiosa pra ver como o diretor ia se sair contando uma história ambientada na Espanha e sem que o próprio interpretasse um dos personagens.
.
Na produção, Vicky e Cristina são grandes amigas com personalidades opostas - a primeira é metódica e racional e a segunda, instável e passional - que vão passar uma temporada hospedadas em Barcelona.
.
Vicky está noiva de um carinha sem graça e Cristina está à procura de alguém que dê jeito na sua "insatisfação crônica". Uma noite, inesperadamente, aparece Juan Antonio, um charmoso pintor de quem elas só escutaram as fofocas sobre seu divórcio violento. As duas acabam se envolvendo com ele, e ainda aparece a ex-mulher do sujeito pra completar o quiprocó.
.
A grande questão do filme é a busca pelo amor como a resposta para todas as inquietações, o que pode até parecer piegas. Mas, como aqui o manda-chuva é Woody Allen, o assunto é tratado com altas doses de sarcasmo e ceticismo, como na frase dita por sua Maria Elena (Penélope Cruz), de que "só os amores não-realizados são românticos" (ou algo parecido).
.
"VCB" conta com três dos nomes mais quentes de Hollywood: Javier Bardem (ou "meu pedido de Natal desse ano"), Scarlett Johansson e Penélope Cruz. Estão lá várias das marcas de Allen: os ótimos diálogos, a ironia, a crítica a uma elite que tem muita grana e zero de inteligência, a sexualidade reprimida e as neuroses contemporâneas. No entanto, é interessante observar como o diretor tem evitado a mesmice, tanto no roteiro quanto na estética visual, para tratar mesmo dos temas mais batidos por seus filmes anteriores. A trilha sonora - com deliciosos solos de violão flamenco - e as locações ainda dão um charme a mais ao filme.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ócio nada criativo

Existe uma lenda urbana de que a grande mazela da vida contemporânea é a falta de tempo. Pois eu acho que esta pode ser, pelo contrário, a solução para o nosso caos diário. Nos últimos anos, funcionei na potência máxima quase que o tempo todo, correndo de casa pro trabalho, depois pra faculdade, fazendo cursos nos fins de semana, indo a eventos acadêmicos sempre que podia, me sentindo o Jack Bauer. Olhando rabugenta para os colegas da faculdade que eu considerava abençoados por poderem se dedicar só aos estudos e não aproveitavam a chance. Ah, se eu tivesse aquele tempo todo sobrando...

Até que me vi sem ter absolutamente nada pra fazer, nadica de nada, por 2 meses. Primeiro, fiz uma programação incrível: eu iria ler todos aqueles livros pendentes, revisar as lições de Espanhol e Francês e fazer vários programas culturais. Lindo no papel, mas a realidade era, na maior parte do tempo, eu acordando às 11 da manhã para passar o dia deitada no sofá comendo doce-de-leite de colher enquanto assistia a reprises de seriados na TV. O PC ficava ligado o dia quase todo por nada (mas, mesmo assim, me hipnotizando por horas quando eu parava em frente a ele) e eu padecia de uma brutal ansiedade pra que algo agitasse a vida de novo.

Daí - tadá - foi só começar num estágio pra que a plena administração do meu tempo livre magicamente começasse a se concretizar. As revistas que eu assino já passaram a ser lidas antes da chegada das edições seguintes, por exemplo, o que é um pequeno grande avanço. É como se o comprometimento de parte do meu dia fosse um estímulo pra organizar as horas restantes da melhor forma possível, o que não me dava a menor animação de fazer quando estas significavam o dia inteiro. O ócio simplesmente não funciona pra mim como fator produtivo.

domingo, 2 de novembro de 2008

Defina "velhice"

Sexta-feira em São Paulo, eu e Jaque fomos pra uma balada de rock num club chamado Outs. A casa tinha acabado de abrir e ainda ia demorar um bocado pra começarem os shows da noite (uma banda que tocava tão alto que não se ouvia o vocalista e uma cover do Oasis) e abrirem a pista de cima (onde ia rolar DJ), então a gente sentou numa mesinha pra conversar enquanto bebia uma cerveja. Duas meninas da mesa ao lado puxaram papo. Eis que, um tempo depois, uma delas diz:

- Lá perto de onde eu moro, tem um lugar ótimo, que toca rock das antigas. Só que nenhum dos meus amigos gosta porque lá vai muito tiozão, sabe? De 25, 26 anos...

Eu e Jaque caímos na gargalhada imediata e descontroladamente, e ela, sem entender:

- Gente, é verdade!

Quando consegui retomar o fôlego, perguntei:

- Vem cá, quantos anos você tem?

- 19, e vocês?

Quando dissemos que eu tenho 23 e a Jaque tem 30, ela fez a cara mais surpresa do mundo e disse:

- Não acredito! Nem parece...

Só faltou dizer que a gente estava super conservada.

sábado, 1 de novembro de 2008

Let me in

Secret heart
Why so mysterious
Why so sacred
Why so serious
Maybe you're
Just acting tough
Maybe you're just not bad enough
What's wrong

Let her in on your secret heart

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O show de Harold



Situação A: Você é uma conceituada escritora, que não publica nada há 10 anos e está trabalhando de novo, mas empacou num ponto crucial do enredo: o desfecho do personagem principal. Você começa uma pesquisa para sair do seu bloqueio criativo, mas não aparece nenhuma idéia para salvar a pátria. Um belo dia, ouve a campainha. Quem está do outro lado é ninguém menos que o protagonista do seu novo livro.

Situação B: Você é um auditor da receita federal. Na manhã de uma quarta-feira qualquer, você está escovando os dentes. Escuta uma voz, vinda sabe-se lá de onde, narrando a sua rotina. Ela sabe exatamente o que você está pensando, sentindo, fazendo. Esquizofrenia? Não parece. Assistindo a uma entrevista na TV, você reconhece a voz como aquela que vem lhe perseguindo nas últimas semanas. É a de uma célebre e reclusa escritora, que tem a marca registrada de matar seus protagonistas de formas inusitadas.

É dessa combinação insólita que "Mais estranho que a ficção" (escondido na sessão de comédia da locadora) é feito. Eu, que lembrava do Will Ferrell como mais um dummy do "Saturday Night Live" - que, contra a opinião geral, acho um dos programas mais chatos da televisão, apesar de ser o berço de alguns dos melhores comediantes americanos - fiquei surpresa: o cara acaba de ganhar o meu respeito graças ao atrapalhado Harold Crick, protagonista do filme. 

Outro curinga da produção é a sempre gracinha Maggie Gyllenhaal, que adoro desde "Secretária" (é, tenho uma queda por personagens excêntricos), como seu par romântico. Um plus são os efeitos gráficos para enfatizar a infinidade de números que dominam a vida meticulosamente calculada de Harold. Quer dizer, até ele decidir virar tudo de cabeça pra baixo.
 
  


                        

sábado, 25 de outubro de 2008

Feito cegos num tiroteio

Lá pelos idos de 2005, entrei na sala escura do Paço, alguns minutos depois do começo do filme. Na tela, "Edukators". O roteiro combinava perfeitamente com tudo o que martelava as minhas idéias na época, além de ter sido o meu primeiro contato com o Jeff Buckley (presente do começo ao fim com uma versão de "Hallelujah", do Leonard Cohen). A desorientação ideológica, o esvaziamento das bandeiras, a perspectiva do fracasso de todas as revoluções e a hegemonia do individual sobre o coletivo; foi uma daquelas experiências raras em que algo consegue traduzir com exatidão o que nem a gente podia explicar.

Lembrando disso, pensei também em filmes como "Os sonhadores", "Cabra-cega", "Across the universe" e "Batismo de sangue", todos cheios de nostalgia por tempos em que era muito claro o papel de cada indivíduo para mudar o mundo, em que havia uma atmosfera de revolução e se tinha certeza do que combater e de onde se queria chegar. Devia ser bom se confortar nas utopias. Hoje, a gente olha pra trás e vê que os projetos de igualdade e equilíbrio social resultaram em repressão, massacres e distorções. Os planos mais bem-intencionados se demonstraram impraticáveis ou inocentes.

Sim, houve mudanças, mas cadê aquela realidade prometida de felicidade generalizada? As religiões ainda dão conta de reconfortar alguns com a idéia de que existe um sentido pra tudo o que acontece, alguma forma de compensação entre os fatos (por isso alguns seriam agraciados pela vida e outros, derrotados por ela) e que a tal perspectiva não é desse mundo. Alguns elementos do consumo contemporâneo - livros, filmes, terapias, psicotrópicos - tentam atenuar, mas a verdade é que estamos todos perdidos.


sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Mulheres são, definitivamente, bichos esquisitos

(do blog do João Paulo Cuenca - post de 21/10 - http://oglobo.globo.com/blogs/cuenca/)

***

Eu quero um homem que me faça esquecer dos outros. E que daqui a pouco me ajude a esquecer dele mesmo.

***

Eu quero um homem que me entenda e me explique.

***

Eu quero um homem com quem eu me case e que depois morra. Meu sonho é ser viúva. É tão bonito.

***

Eu quero um homem que me banque. Já tô de saco cheio de sair com mendigo, só tem maloqueiro na night. Você tem que se ligar nos detalhes, no relógio, na marca da camisa... E tomar cuidado com os manés que usam roupa fajuta e aqueles chaveiros de carrão pra fora do bolso da calça e que na verdade só servem pra guardar as chaves da bicicleta. A gente tem mais é que se cuidar mesmo que o negócio não tá pra brincadeira e vai ficar cada vez pior. E ainda tem essa crise, você viu no jornal? O lance é se ligar nos caras estáveis. Funcionário público, estatal... E pegar de jeito que a gente sabe como faz.

***

Eu quero um homem que me faça chorar. Porque eu só chorei duas vezes na minha vida, e isso faz muito tempo.

***

Eu quero um homem que, antes de tudo, me faça rir muito. E que tenha olhos também pra o que não seja ele. Olhos, ouvidos e perguntas pra mim.

***

Eu quero um homem que me fotografe com os olhos.

***

Eu quero um homem porque eu não agüento mais ir ao cinema sozinha.

***

Eu quero um homem que seja louco por mim e que me deseje o tempo todo. Que seja complexo, que sofra, chore e converse comigo sobre as coisas mais diversas. Um homem por quem eu seja completamente apaixonada, e com quem eu queira ter um filho. Eu me recuso a acreditar que uma pessoa assim não exista porque eu já tive momentos assim antes com várias pessoas. Você, por exemplo.

***

Eu digo que quero um homem assim e assado, mas, no fundo, eu quero um homem que faça tudo por mim, que viva por mim - mas que disfarce um pouco.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Nossas mentes não evoluíram para a versão 2.0

Hoje à tarde, vi uma promoção na internet que interessava a uma amiga e liguei pra ela pra contar.

Eu: "Oi, tudo bem? Seguinte: eu tava aqui vendo o site tal e tem uma promoção..."
Ela: "Ai, droga, tô aqui enrolada com a máquina, acabei de colocar o cartão (pausa); que merda!"
Eu: "Cuidado, senão o caixa eletrônico pode querer se vingar de você e engolir o seu cartão. Então, como eu ia dizendo..."
Ela: "Uma promoção, é? Qual (pausa de novo)
? Agora ela tá me pedindo pra clicar na função; eu já escolhi a função!"

Ainda continuamos nesse papo de bêbado por mais alguns minutos, passei a tal informação (que eu não tenho certeza se ela assimilou, graças à batalha contra a máquina do banco) e desligamos.

À noite, outra amiga me ligou e começamos a conversar. Eu contava uns causos pra ela enquanto lia os tutoriais da Apple sobre como restaurar os padrões do iPod (que estava com uma maldita luzinha piscando sem parar) e falava com dois amigos no MSN até que... silêncio. Eu não conseguia assimilar todas aquelas informações ao mesmo tempo. Interrompi as atividades online e retomei o fio da meada no telefone, depois de um "o que é que eu tava dizendo mesmo?".

Ao contrário do maravilhoso mundo da tecnologia e da microinformática, em que zilhões de processos acontecem simultanea e independentemente, o nosso raciocínio tem certas peculiaridades e limitações. Às vezes, chega a ser um alívio lembrar disso, porque a gente acaba tentando acompanhar o ritmo avassalador de informações circulantes e simplesmente não consegue. Nós não somos sistemas de conversão e leitura de dados infindáveis, nós interpretamos o que recebemos de forma diferente. Nem adianta tentar trocar o processador: alto risco de bug.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

De tanto bater, meu coração parou

Já escutei por aí que as brabeiras da vida vão ensinando a gente a crescer, especialmente nos momentos mais difíceis. Que, depois de passar pelas choradeiras e dores-de-cotovelo, nós saimos mais fortes. Em geral, vejo a teoria como bem aceitável até, mas hoje comecei a pensar se, na verdade, não vamos ficando é mais duros, como se estivéssemos eternamente fazendo treinamento com o Pai Mei (lembra do Kill Bill volume 2?), com cicatrizes se sobrepondo umas às outras, até ficarmos insensíveis a tudo. Fortes e maduros, eu não sei. Cascudos, irônicos e desconfiados, com certeza (Beatrix Kiddo que o diga).


terça-feira, 21 de outubro de 2008

SOS

Na espera de resposta de um estágio, com a faculdade (ainda) em greve e com pouco dindim em caixa, me restam poucas opções para preencher o dia. Monges budistas do Butão devem ter um cotidiano mais empolgante. Começo a observar marcas no piso de casa e depressões no sofá e no colchão, resultado da repetição dos mesmos gestos todo santo dia. A internet está perdendo a graça e só o que me salva é a TV a cabo. 

Se, antes eu resmungava que mal conseguia ligar a televisão durante a semana pela falta de tempo, agora a situação se inverteu. Programação do Sony e da Warner? Sei inteirinha. Ainda estou resistindo aos leilões bovinos do Canal Rural, mas vejo os tempos sombrios da decadência total se aproximando. O bom é que consigo ver todas as séries amadas e conhecer novos programas (como o seriado bacaninha My Boys, o caça-subcelebridades-gringas TMZ e o talk show da Ellen Degeneres).

Além dos filmes e programas sobre música do Canal Brasil, assisto ao GNT e recebo doses nada homeopáticas de Grey's Anatomy, Gilmore Girls, House, Law & Order e Scrubs. Redescobri um seriado de que eu nem lembrava o quanto sentia falta: That 70's Show. Passo mal de rir com as vinhetas psicodélicas e com aquelas conversas dos personagens no porão da casa do Eric, sempre com uma fumaça muito suspeita em volta. Que saudades do Fez e da música de abertura. Com exceção desses singelos momentos de alegria, estou ficando entediada e com um desejo incontrolável de dizimar todos os doces da geladeira. Salvem-me.


domingo, 19 de outubro de 2008

Sambinha elegante

Acho que se alguém o chamasse na rua de Angenor, ele nem devia responder. Afinal, o apelido que recebeu desde jovem - Cartola - se tornou muito mais conhecido do que o nome registrado nos seus documentos. Além de ter sido um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, o rapaz franzino e sempre "muito bem posto" (como diria a minha avó) ainda era um cantor e compositor de qualidade raríssima. 

Se hoje ainda existe pangaré pra dizer que samba é coisa de vagabundo, imagina nos tempos dele, que nasceu em 1908. Tanto que, apesar de hoje a gente ouvir gente de todos os cantos regravando Cartola, foi só já bem coroa que ele passou a ser reconhecido nacionalmente como um artista de excelência. O sambista foi redescoberto pelo escritor Sérgio Porto, aos 48 anos, enquanto trabalhava como lavador de carros e vigia, após um período em que alguns pensavam que ele já tinha morrido e haviam gravado até sambas em sua homenagem.

Mas não. Cartola ainda estava vivinho da silva e com muita poesia dentro dele. O primeiro LP saiu pouco antes dele completar 66 anos e, até realmente cantar pra subir (porque nenhum eufemismo seria mais conveniente pra ele) em 1980, ele ainda gravaria muitos dos sambas compostos por ele e outros, se apresentaria e seria regravado pelos quatro cantos do país. Quem escuta os seus sambas elegantes e delicados, do calibre de "Alegria", "As rosas não falam", "O mundo é um moinho", "Corra e olhe o céu" e "Peito vazio", simplesmente não consegue se manter impassível.


sábado, 18 de outubro de 2008

Toda mulher merece seu dia de Alison Goldfrapp

A rotina às vezes enche a paciência até do ser humano mais equilibrado. Correr de um compromisso para o outro, passar o dia inteiro com a mesma roupa (o que, num calorão de 36°, faz toda a diferença) e ansiar obsessivamente por aquele momento doce de colocar a cabeça no travesseiro e dormir como um cataléptico pelas próximas horas acabam com a alegria de qualquer um. Zero de glamour.

Com isso, pode surgir um desânimo crônico e generalizado. Tudo parece demandar um esforço monumental para ser feito, ficar em casa acaba sendo a solução mais cômoda para o tempo livre e, aos poucos, a gente começa até a esquecer de como é ver o nosso próprio reflexo no espelho. Pra quem é mulher, pelo menos, essa última parte é uma miséria, já que se sentir bonita é fundamental para a auto-estima e a construção da identidade. Acabar com a vaidade em nome da praticidade pode até ser mais econômico, mas é um péssimo negócio.

Divagando sobre o assunto (e garimpando a minha biblioteca do iTunes), cheguei à conclusão de que o antídoto ideal para quando o dia-a-dia faz a gente se sentir mais sem graça que purê de hospital tem nome: Alison Goldfrapp. A cantora (da ótima banda chamada, duh, Goldfrapp) tem, além da voz grave e potente, um estilo sensual e autêntico, sem jamais ultrapassar a linha tênue da vulgaridade ou do ridículo. Nem mesmo rolando como um poodle pedindo carinho na barriga (vide o clipe de "Number 1"). Tanto nos clipes quanto nos shows, lá está Alison fazendo carão, com os figurinos, makes e penteados mais loucos possíveis. Quer ver uma mulher poderosa? É ela. 

A idéia é, em uma noite qualquer, escolher "o" lugar pra ir, fazer "a" produção para o evento e sair se sentindo genuinamente "a" toda-toda. Perder o receio do que quem está em volta vai achar. Um lance bem Carrie Bradshaw mesmo. Altamente recomendável para recuperar o bom humor e aproveitar o gostinho de ser alvo de olhares cobiçosos de marmanjos (ou donzelas, pra quem curte). Sublime.





quarta-feira, 15 de outubro de 2008

2008, uma odisséia na Barra da Tijuca

Eu e a Barra sempre nos demos muito bem: eu aqui e ela no canto dela. Láááá depois de subir o Alto da Boa Vista com o estômago revirado e os ouvidos tapados pela pressão, naquele pedaço de terra que se separou de Miami e veio flutuando sobre o mar até parar aqui. Eu, acostumada em andar tranqüilamente pelas calçadas cheias de lojas, prédios com consultórios médicos, farmácias, bancos e camelôs atrapalhando o fluxo de pedestres, não consigo entender a lógica daquele bairro. O mais esquisito é que estão todos se mudando pra lá: emergentes, sedes de empresas, até meu dermatologista deve se estabelecer de vez na Barra daqui a pouco. Com isso, as idas pra lá têm sido mais e mais freqüentes a cada dia que passa.

A Avenida das Américas é uma via sem fim, ocupada por centros comerciais e supermercados gigantescos. Quem está a pé sofre para fazer algo simples como atravessar a rua ou simplesmente flanar. Flâneur, na Barra, tem que ter treinamento de maratonista e andar com cantil e barrinhas de cereal. Os condomínios são verdadeiras fortalezas vigiadas 24 x 7, imensos e com toda a infra-estrutura necessária para a sobrevivência. Há uns anos, passou no Fantástico uma matéria com um grupo de adolescentes que NUNCA (jamais) tinham saído da Barra da Tijuca, então o repórter foi fazer um passeio (safari?) com os teens pelo Centro da cidade. É o próprio panóptico posto em prática.

E a praia? Bem, a praia de lá é uma delícia. Mas sempre me dá a impressão de ser uma praia cenográfica, não tem muito cara de praia pra mim. Pensando bem, os nativos da Barra também me parecem ser figurantes da Malhação ou de alguma novela das 7. Eta lugarzinho esquisito...

Contemplemos o futuro:




terça-feira, 14 de outubro de 2008

Dá-lhe

Ela não era mais uma teenager com ares de lolita quando começou a fazer sucesso. Pelo contrário, já entrava na casa dos 30, enfiando o pé na porta com a sua voz rouca e uma guitarra folk, entre a rebeldia rocker e o romantismo. Sem grandes pretensões (e às vezes só com um violão), a escocesa KT Tunstall foi chamando a atenção de quem já não aguentava mais a hegemonia das pseudo-divas do pop e esperava por alguém diferente e autêntico para agitar o cenário musical. Aqui, a cantora ainda é pouco conhecida, quando alguém lembra dela é só por "Suddenly I see" (aquela do comercial da Claro, sabe?) e olhe lá.

Até ela chegar ao meu discman (é, eu ainda usava esse aparelhinho jurássico na época) ainda demorou um tanto, mas daí em diante não parei mais de ouvir a moça. Desde a lentinha "Other side of the world" até a (como eu posso adjetivar?) "Black horse and the cherry tree", as faixas do primeiro cd ("Eye to the telescope") viraram presença cativa nas minhas setlists. Para eu me convencer a ouvir o álbum mais novo ("Drastic Fantastic"), que de cara não curti muito, foi mais demorado, visto o meu apego pelo outro. De umas semanas pra cá, comecei a ouvi-lo com mais persistência e não é que tô adorando também?


Um dia, passando perto do Canecão, pensei "poxa, ela bem que podia vir tocar por aqui, hein? Ah, mas mesmo que ela venha, deve ser lá pros confins da Barra". Poucas semanas depois, garimpando a programação do site da tal casa de shows, hiperventilei (como escreve o pessoal do "Te dou um dado?"): KT Tunstall vai se apresentar lá dia 16! O ingresso para a pista (porque assistir a show sentadinho é frescura) já está garantido e guardado na agenda. Já chegou a hora? E agora?


KT na apresentação que fez sua carreira deslanchar lá na gringa, no programa britânico "Later... With Jools Holland":



domingo, 12 de outubro de 2008

Top top top

Essa semana, ouvi de uma amiga: "eu quero mais é que vá todo mundo tomar no cu!". Merece, no mínimo, uma camiseta, quiçá uma tatuagem.

A frase é simples e taxativa, quase uma filosofia de vida à la "don't worry, be happy" (numa versão mal-humorada, naturalmente). Nada de esquentar a cabeça com o que outras pessoas pensam, de deixar que terceiros estejam em primeiro plano nas nossas vidas ou de pôr o próprio futuro nas mãos de qualquer um além de nós mesmos.

Parece óbvio, mas na prática nem sempre funciona assim, né? Adotemos, então, o mantra. Segue trilha sonora inspiradora:




quarta-feira, 8 de outubro de 2008

O povo já se cansou de tanto o céu desabar

Já tá bom, né? Começou a dar no saco isso de ter que trocar as rasteiras de dedo pelos tênis porque o tempo virou de uma hora pra outra e de sair com a bolsa mais pesada por causa dos acessórios just in case (guarda-chuva, casaco e papel pra secar os óculos). De fechar as janelas e ficar com preguiça de sair. Dos meus programas furarem porque desabou uma tempestade e os meus amigos desanimaram. Saudades de não precisar desviar das poças no caminho. É sério que as ruas já foram secas um dia? Nem lembro mais.





É isso: decreto a banalidade

Senhas
(Adriana Calcanhotto)

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu agüento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos

Eu agüento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu agüento até os caretas
E suas verdades perfeitas

Eu agüento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem

Não sei porque eu continuo nessa de Alice. Dar o benefício da dúvida, não ter reservas, tentar ver os dois lados da história, pensar primeiro em mal-entendidos, essas besteiras. Invariavelmente, quem tem se dado mal na história tenho sido eu mesma. De besta que eu sou.

Quando eu tento dosar as coisas, aí é que eu me embanano toda. Exagero de mais ou de menos, sem saber equilibrar o quanto de mim é o bastante para determinado momento (será que isso existe mesmo?). Pra mim, não faz sentido planejar metodicamente como vou agir ou deixar de agir. Sou partidária da transparência e da cega fidelidade ao que eu penso e sinto, sem me guiar por supostos padrões de lógica e comportamento.

Já larguei sei lá quantos trabalhos que me deixavam insatisfeita, ainda que eu precisasse da grana e fosse passar um perrengue depois. Terminei um namoro pouco antes do jantar de noivado por perceber que aquilo não fazia mais sentido pra mim. Entrei de cabeça em histórias já sabendo de cara que eram furadas. Já insisti até a última chance enquanto achei que algo valia a pena. Já chega. Mais uma vez, decidi que vou ser uma pessoa ordinária, comodamente restrita aos limites da mediocridade. Vamos ver se dá certo dessa vez.

domingo, 5 de outubro de 2008

A mulher de olhos e textos agudos


Hoje foi o último dia da exposição "Clarice Lispector - A hora da estrela" no CCBB. Apesar de já tê-la visto em Sampa ano passado, eu tinha que ir de novo. Telas com fotos preto-e-brancas dela cobrindo frases de alguns de seus livros, o vídeo com uma entrevista de pouco antes de sua morte (em que aparece uma Clarice angustiada), a sala cheia de gavetas em que há cartas de amigos, manuscritos, fotos, diplomas e documentos. Muito mais escuridão do que claridade nas salas, talvez numa tentativa de simbolizar a introspecção da escritora.

Comecei a ler Clarice faz pouco tempo, 2 anos no máximo. Escolhi justamente "A hora da estrela" pelo título e por ficar curiosa para saber se ela iria conseguir contar uma boa história em tão poucas páginas. Conseguiu. Ela escreve sobre Macabéa, uma nordestina jovem e simples. "Quanto à moça, ela vive num limbo impessoal, sem alcançar o pior nem o melhor. Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando. Na verdade - para que mais que isso? O seu viver é ralo." Me apaixonei pelo jeito simples e sincero dela de escrever, apaixonado e contraditório, como se tivesse acabado de se dar conta de algo extraordinário, quisesse compartilhar com alguém e esse alguém fosse apenas você. Pena não ter dado tempo de sermos contemporâneas.

Ah, olha que curioso: no site que a editora Rocco fez para a escritora, achei um trecho de um livro dela que tem tudo a ver com o post de ontem.

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

sábado, 4 de outubro de 2008

Estupidez educativa

Reza o conhecimento popular que fazendo merda é que se aduba a vida. Que diabos isso quer dizer? Basicamente (e usando outra máxima das antigas), que errando é que se aprende. Até concordo. Não que a idéia seja de fazer besteira no atacado para se tornar um indivíduo mais sábio e ter histórias para contar aos bisnetos mas, realmente, os erros fazem de nós pessoas mais maduras. Teoricamente, pelo menos, sem levar em conta aqueles que nunca param para refletir sobre si mesmos e, naturalmente, que sejam consideradas besteiras modestas, nada como pegar o namorado da amiga ou afins.

Porque quando a gente diz algo idiota, dá piti, sabe o que precisa fazer e age de forma completamente oposta, dá vazão ao seu lado mais mala (que você acreditava estar superado ou muito bem escondido), bebe além da conta, enfim, faz merda, sente uma vergonha danada. Há variações de efeito que dependem da área (trabalho, vida amorosa, família, conversas com pessoas pouco íntimas etc.) em que a besteira foi feita e a dimensão da estupidez. O momento em que esta é assimilada pode se seguir de um enrubescimento momentâneo até dias de reclusão acompanhada de ressaca moral (e/ou alcóolica de fato).

Quem são os indivíduos afetados pela sua besteira e a intimidade com os mesmos também é crucial para a importância dada à merda feita. Com a mãe não vale, ela tem o coração mole e já se apegou nos tempos em que você era gorducho e engraçadinho. Com o melhor amigo, pode até gerar um certo aborrecimento, mas depois você sabe que ele vai perdoar e vai ficar tudo bem de novo. Com alguém que se conhece pouco, já complica mais, porque os laços ainda são muito frágeis e algo que seria superável num relacionamento com bases firmes pode gerar um pé atrás ou o dano mais amargo de todos: corte definitivo de relações. Nem sempre a gente tem como dizer : "ó, eu fiz um negócio muito idiota, mas sou uma pessoa legal".

Num mundo ideal, sempre aprenderíamos com os erros e aqueles afetados por nossas idiotices seriam sempre compreensivos. O contrário também valeria. Jamais seríamos intransigentes, arrogantes e cabeças-duras. Teríamos o dom da reflexão distanciada. Eu não seria míope nem teria rinite, meu sobrenome seria Onassis, haveria ar-condicionado central no Rio de Janeiro e a vida de verdade teria trilha sonora. Tudo perfeitamente possível.



quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Money, it's a gas



Eu e Taís temos o costume de dizer que só nós nos entendemos (assim como todas as amigas do mundo devem dizer uma à outra). Hoje liguei pra ela para pedir uns conselhos sobre a minha eternamente capenga vida financeira e começamos a conversar a respeito. Chegamos à conclusão de que as pragas e salvações da vida cotidiana são o cartão de crédito, o cartão de débito (por vezes juntos, num combo de destruição) e o limite de cheque especial.

A cena: você sai de casa para o teatro. No caminho, algo chama a sua atenção em uma loja. Algo supérfluo ou tranqüilamente adiável, mas que em 5 segundos se torna completamente indispensável a sua existência daqui pra frente. Você não tem dinheiro, mas lembra que está com um dos benditos (adjetivo altamente questionável) cartões. Faz a compra, passa o cartão, recebe um boletinho azul - a cor da tranqüilidade, segundo a cromoterapia - e sai todo satisfeito do estabelecimento. Foi quase mágico: você comprou um mimo para si mesmo sem ver uma notinha de real saindo da carteira. Mágico, como você descobre depois, é o chá-de-sumiço no seu saldo positivo quando tira o próximo extrato bancário ou o crescimento das suas dívidas ao receber a fatura do cartão de crédito. Pior ainda quando o extrato vem acompanhado de um discreto sinal de negativo ou um valor digitado em vermelho. Cor de sangue.

Vejam como são tinhosos os administradores de banco e cartões de crédito. Apenas o ato de retirar as cédulas da carteira e vê-la ficando vazia já era um fator de controle dos gastos. Quando era a última notinha, então, era um apego só. Mais ainda se a agência do seu banco fosse longe, porque isso significava o seu deslocamento até lá para sacar mais. Ou seja, a visão do dinheiro sendo gasto e a preguiça nos ajudavam a economizar.

Daí surgiram os caixas eletrônicos fora das agências (estrategicamente posicionados em shoppings e supermercados, por exemplo) e os tais adventos mencionados mais acima. Quase todas as lojas, boites e até botequins têm uma maquininha do Visa e do Master (Amex é coisa de rico e é mais difícil de achar). Em alguns lugares, você nem precisa levantar da mesa e interromper a conversa para pagar a conta, porque alguém leva o aparelho até você.

O limite do cheque especial, então, é uma coisa louca, um verdadeiro vício. Money addiction. No começo, você diz que nunca vai usar e se orgulha muito de ter tanto auto-controle. Daí, um dia, resolve usar só um pouquinho, só dessa vez. Meses depois, você não consegue mais viver sem e se livrar dele é como perder um braço. A gente sabe que aquele dinheiro não é nosso e que vamos pagar juros altíssimos por ele, mas daí a cortar as asinhas do hedonismo já são outros quinhentos. "Pai rico, pai pobre" não me ensinou nada.



quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Uma coisa leva à outra


Fui ao pavilhão do Festival encontrar os colegas do blog e entrevistar o diretor de um documentário. Tudo ok: conversamos, gravamos, começamos a preparar o texto. Encontrei, por coincidência, um amigo por lá, que ia para Botafogo. Aproveitei para pegar carona com ele e ir ao Rio Sul trocar o ingresso do Tim Festival (do Tim no Tim pelo da apresentação das cantoras de jazz).

Liguei para uma amiga que queria ir ao mesmo show e ela resolveu comprar logo o ingresso também. Deixei meu amigo na saída e fui encontrá-la. Começamos a conversar, chamei-a pra o café da livraria. Brownie com sorvete de creme, papo muito fértil, risadas altas e despreocupadas.

Fui deixá-la na faculdade ali perto pra depois pegar o ônibus pra casa. Passamos pelo boteco estrategicamente posicionado no caminho, acabamos ficando por lá mesmo e a aula dela foi pras cucuias. Continuamos o papo e nossas filosofias de botequim (agora acompanhadas pela cerveja) até que a chuva apertou e resolvemos ir embora antes que aparecesse um velhinho barbudo com a idéia de pôr casais de bichos numa arca. Muito bom quando o que acontece por acaso acaba sendo melhor que o planejado, não?

Stacey Kent - "Ces petits riens" ("Esses pequenos nadas"):




domingo, 28 de setembro de 2008

Alguém invente (logo) o pára-brisas para óculos

Mais um domingo atipicamente frio e chuvoso no Rio. Dia de usar cachecol, bota de cano alto e me empanturrar de doces de São Cosme e Damião (doados gentilmente pela minha vizinha) usando a desculpa de que preciso de reserva lipídica. Não tem Kleenex que deixe as lentes dos óculos menos turvas.

Como em Magnólia (aquele filme com Tom-Cruise-cabelinho-chanel e Philip Seymour Hoffman), acredito que o clima afeta o humor dos indivíduos. No frio, a gente acaba ficando mais introspectivo e solitário, com vontade de ter os pés aquecidos por outros pés. De comer chocolate e ver tv a cabo, de ouvir jazz ou música tocada no violão ou piano (nesse exato momento, a opção é Aimee Mann, por sinal, trilha de Magnólia). As horas demoram mais a passar; melhor aproveitá-las em boa companhia.

A serotonina da barra de chocolate devorada em segundos já começa a fazer efeito e aplacar o motim hormonal de hoje mais cedo. Chegam boas novas por telefone. Life's sweet sometimes...



 

Overdose de Placebo (captou?)

Do outro lado da lente


Se existe algo que faz parte do cotidiano de todo carioca é a violência urbana. Se não diretamente, ao menos pelas notícias veiculadas na imprensa. "Abaixando a máquina", documentário do Festival (na mostra Cenas do Rio), dirigido por Guillermo Planel e Renato de Paula, mostra um lado pouco conhecido dessas notícias: o dos fotógrafos.

A câmera acompanha profissionais de alguns dos maiores jornais do Rio de Janeiro no seu dia-a-dia, em que correr em tiroteios, se esconder atrás de carros para fugir dos tiros e acompanhar enterros de vítimas é tão habitual quanto tomar café de manhã. Além disso, o filme discute questões éticas envolvidas no ato de fotografar e na relação com os fotografados.

Além das imagens de campo, há também depoimentos dos próprios fotógrafos, de líderes comunitários, psicanalistas e autoridades. É uma boa oportunidade para, além de conhecer mais sobre o trabalho daqueles profissionais, observar a situação atual do Rio de Janeiro por um outro ângulo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A miséria de todo dia


Hoje fui ao sobrado do Festival para me reunir com os outros voluntários do blog (by the way, http://festivaldorio2008noticiasdofront.blogspot.com/), mas quando chegamos, tinha havido uma pane na rede e ninguém tinha internet. Resolvi dar uma passada nas Americanas da esquina e comprar alguma coisa pra comer enquanto a gente não podia trabalhar. 

Quando cheguei lá, já tonta de fome, vi que estava rolando aquela "promoção" de três barras de chocolate por R$10,00 e escolhi um Alpino, um Crunch e um meio amargo. Já saí da loja comendo uns pedaços de Alpino, enquanto conversava com o Breno e a Paula. Eis que um menino de rua bem novo, de uns 9 anos, negro e descalço (nesse dia chuvoso e frio de hoje) para ao meu lado e diz "oi, tia, dá um pedaço aí!". Sem pensar duas vezes, enfiei a mão na sacola da loja, tirei a barra de meio amargo e entreguei a ele.

O moleque ficou, literalmente, de queixo caído olhando pra barra de chocolate. Tanto que, só uns 10 segundos e alguns metros depois, escutei ele gritando "que pedaço, hein, tia? Obrigado!". Fiquei pensando naquela cara embasbacada dele... Foi engraçada e triste ao mesmo tempo. Será que ele já tinha comido alguma coisa durante o dia? Pra quantas pessoas ele teria que pedir dinheiro até juntar aquilo que eu tinha gasto sem a menor importância? Alguém costuma lhe dar alguma coisa simplesmente pra vê-lo feliz? Com quem ele vive? Até quando ainda vou lembrar desse menino?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Prenúncio

Português (sempre eles) vê uma casca de banana à frente. Pára com ar preocupado e diz: "ai, c... , lá vou eu me f... todo outra vez..."

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O tempo das coisas (for the times they are a-chaaangin')

Sei lá quantas vezes já disse e ouvi "não era o momento", "isso aconteceu na hora certa" ou "ainda não está na hora", muitas vezes confundindo conveniência e inflexibilidade. Como assim? É conveniente não comentar sobre a ex do seu amigo na presença da atual. É inflexível não mudar planos cuidadosamente criados por algo que tenha a possibilidade de ser melhor.

Lembrei de um caixote que levei na praia há uns anos. Estava lá eu, tão feliz quanto se pode estar nesse mar gelado do Rio (ai, que saudades do mar morninho da minha terra, por mais estranha que a frase tenha ficado), quando levantei de um mergulho e vi uma onda monstruosa se formando na minha frente. Fiquei pensando: "Jesusmariajosé, eu mergulho ou tento 'pular' a onda?". Por causa desses segundos em que hesitei, me ralei toda, engoli meio oceano Atlântico e fui parar lá na beira com o top do biquíni torto e o cabelo cheio de areia. Ainda acho que alguém vai me reconhecer na rua e se mijar de rir lembrando do episódio.

Taí o perigo de ser inflexível quando algo interessante aparece de repente: ficar paralisado pelo medo de fazer a escolha errada, acabar não fazendo nada e se arrepender depois. Nem sempre existe uma segunda chance e, às vezes, o jeito é se contentar com aquela máxima de nossas avós de que "o que não tem remédio, remediado está" que, convenhamos, é um prêmio de consolação muito do vagabundo.

Não existe receita, simpatia nem livro de auto-ajuda (eca) que seja universal e dite as regras do que e de quando fazer, dizer, desistir ou começar. Ou que indique o erro ou o acerto absoluto. Vez ou outra eu até quero que exista, mas sempre me rendo a mudar de idéia e concluir que a vida seria muito sem graça se houvesse um roteiro para ela. Bate 3 vezes na madeira.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pesadelo urbano

As ruas são as de São Paulo, mas poderiam ser as de qualquer metrópole. Estão desertas, silenciosas, dominadas pela sujeira e pelos cães vira-latas. As pessoas, desorientadas e animalescas, vagueiam em busca de comida, saqueando supermercados com algum estoque e passantes com um pouco mais de sorte. Todos foram, pouco a pouco, atingidos por uma epidemia de cegueira. Danou-se a idéia de civilização.

Os primeiros foram isolados em quarentena, sem que ninguém tivesse ainda aprendido como se virar naquela nova situação. A casa coletiva se tornou uma grande latrina e, não demorou muito, uma ditadura também. O "rei da ala 3" pedia jóias e dinheiro (pra quê mesmo?) e, quando esses se esgotaram, as mulheres das outras alas em troca de comida. Deu no que deu.

Ensaio sobre a cegueira é angustiante não só pela idéia em si, quando o público se imagina naquela situação e pensa "será que eu agiria assim também"? "Eu estaria mais para a Julianne ou para o Gael"? Pior ainda é considerar a metáfora.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O bicho

Às vezes digo que tem um animal preso dentro de mim que eu não sei como conter. É uma força que só consigo atenuar, me apertando o peito como 1 tonelada de concreto. Um encantamento misturado com o desejo de sentir tanto que me faça explodir e simplesmente sumir, delicadamente sumir em câmera lenta, degustando os últimos milésimos de segundo um a um.

A paz que existe em mim combina de um jeito estranho com essa intensidade que me arrebata vez ou outra, em alternância. Talvez seja a razão para gostar tanto de ser embalada por Madeleine Peyroux quanto por ser atingida no estômago por System of a Down. Ou curtir Cinema Paradiso tanto quanto Trainspotting. Ou para conseguir observar racionalmente os contras (às vezes, muitos) e, ainda assim, pular de cabeça. Ser extremamente prudente ou insensata.

Fico pensando como é estranho que alguns esperem que a gente seja personagem plano de novela. Bom ou mau. Mocinho ou bandido. Racional ou passional. Uma coisa ou outra, pra sempre. O indivíduo real não é maniqueísta. E nem sempre o que é certo ou errado está claro.

Sabe "Bom conselho", do Chico Buarque?

"Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade"

Já desperdicei demais as minhas vontades. Foi-se o tempo.

domingo, 14 de setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

Em modo standby ou Make your mind

Um dos itens que fazem parte do meu "Top 10 inferno na Terra" (logo abaixo de panfletistas da Presidente Vargas, pastores evangélicos pregando em ônibus e crianças fazendo manha na rua) é passar o dia com a sensação de que deixei algo por fazer ou alguém com quem falar, sem saber direito a razão. Pior ainda quando eu sei o que (ou quem) é que falta, mas não posso fazer nada, rien du tout, para resolver. Maldita consciência de como as coisas têm que ser...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Em greve

Vejam que maravilha: a minha programação para setembro era de, basicamente, dar mais atenção à faculdade e procurar um estágio. Pois não é que anteontem, em assembléia, os professores da UERJ decidiram entrar em greve a partir de segunda-feira? Os técnico-administrativos ainda vão decidir se entram no barco ou não. Não discuto que seja um direito legal, que o governo e a reitoria não estejam buscando nenhuma forma racional de diálogo, que a situação é precária, mas que é um baita banho de água fria para os alunos, isso é. 

Sou da comissão de formatura da minha turma e estamos tentando fechar contrato com alguma empresa para fazer a nossa colação de grau em 2010. Será que já vamos ter concluído mesmo o curso em 2010? E mais ainda, será que ainda vai haver UERJ em 2010? Sempre tem um cabeça-de-vento pra dizer "oba, férias!" quando se anuncia uma greve, mas a maioria dos alunos com quem eu tenho conversado está profundamente puta com a situação a que a universidade chegou. Não com os professores ou com os outros servidores, mas com a greve em si, que representa a intransigência e o caos a que chegou a tentativa de obter melhorias justas e ter como resposta muita porta na cara.

Quando cheguei à UERJ, já peguei uma greve, que atrasou o início do semestre em 2 meses, com resultados pífios. Fico me perguntando se a greve, mais uma vez, é a medida de mais impacto para chegar a um acordo viável e satisfatório ou se os únicos a saírem prejudicados serão os alunos e os próprios servidores, com quem o diálogo vai se tornar ainda mais tenso.

Fiquei sabendo agora que os alunos decidiram invadir a reitoria. Estou indo pra lá ver como está a situação, se é coisa séria ou só um motivo pra reunir gente em torno de uma rodinha de violão. Algo me diz que é a primeira opção. Quem quiser acompanhar mais a respeito, convido para dar uma olhada em http://uerjiano.com/ (blog em que escrevo com alguns amigos).

sábado, 6 de setembro de 2008

Best for last (Adele)

Wait, do you see my heart on my sleeve?
It's been there for days on end and
It's been waiting for you to open up
Just you baby, come on now
I'm trying to tell you just how
I'd like to hear the words roll out of your mouth finally
Say that it's always been me

That's made you feel a way you've never felt before
And I'm all you need and that you never want more
Then you'd say all of the right things without a clue
But you'd save the best for last
Like I'm the one for you

You should know that you're just a temporary fix
This is not rooted with you it don't mean that much to me
You're just a filler in the space that happened to be free
How dare you think you'd get away with trying to play me

Why is it everytime I think I've tried my hardest
It turns out it ain't enough cause you're still not mentioning love
What am I supposed to do to make you want me properly?
I'm taking these chances and getting away
And though I'm trying my hardest you go back to her
And I think that I know things may never change
I'm still hoping one day I might hear you say

I make you feel a way you've never felt before
And I'm all you need and you never want more
Then you'd say all of the right things without a clue
But you'd save the best for last
Like I'm the one for you

You should know that you're just a temporary fix
This is not rooted with you it don't mean that much to me
You're just a filler in the space that happened to be free
How dare you think you'd get away with trying to play me

But, despite the truth I know
I find it hard to let go and give up on you
Seems I love the things you do
Like the meaner you treat me the more eager I am
To persist with this heartbreak and running around
And I think that I know things may never change
I'm still hoping one day I might hear you say

I make you feel a way you've never felt before
And I'm all you need and that you never want more
And we'll say all of the right things without a clue
And you'll be the one for me and me the one for you