quarta-feira, 8 de outubro de 2008

É isso: decreto a banalidade

Senhas
(Adriana Calcanhotto)

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu agüento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos

Eu agüento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu agüento até os caretas
E suas verdades perfeitas

Eu agüento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem

Não sei porque eu continuo nessa de Alice. Dar o benefício da dúvida, não ter reservas, tentar ver os dois lados da história, pensar primeiro em mal-entendidos, essas besteiras. Invariavelmente, quem tem se dado mal na história tenho sido eu mesma. De besta que eu sou.

Quando eu tento dosar as coisas, aí é que eu me embanano toda. Exagero de mais ou de menos, sem saber equilibrar o quanto de mim é o bastante para determinado momento (será que isso existe mesmo?). Pra mim, não faz sentido planejar metodicamente como vou agir ou deixar de agir. Sou partidária da transparência e da cega fidelidade ao que eu penso e sinto, sem me guiar por supostos padrões de lógica e comportamento.

Já larguei sei lá quantos trabalhos que me deixavam insatisfeita, ainda que eu precisasse da grana e fosse passar um perrengue depois. Terminei um namoro pouco antes do jantar de noivado por perceber que aquilo não fazia mais sentido pra mim. Entrei de cabeça em histórias já sabendo de cara que eram furadas. Já insisti até a última chance enquanto achei que algo valia a pena. Já chega. Mais uma vez, decidi que vou ser uma pessoa ordinária, comodamente restrita aos limites da mediocridade. Vamos ver se dá certo dessa vez.

2 comentários:

Felipe Melo disse...

Estou pra comentar este post faz um tempo, mas não tive tempo (hehehehe). Certa vez escrevi sobre a teoria dos jogos, não aquela mais conhecida, a do J. Nash (vide "Uma mente brilhante"), mas uma que eu andei pensando em meus devaneios. Resumindo, a vida é um cassino no qual nós jogamos e perdemos (na maioria das vezes). Não somos obrigados a apostar. Quem joga, quase sempre perde, mas quem não o faz, nunca ganhará. Talvez o viver seja a motivação e a esperança de ganhar, e não a conquista do prêmio em si. Viajei, né? hauhauhauahuaha No texto estava mais bem explicado (?), se eu achar aqui nos meus pertences eu te mando. Mas a moral da história é: "Aposte, mesmo sabendo que vai perder. Mas aposte. E viva."


F. Melo

Anônimo disse...

eu gosto dos que tem fome
dos que morrem de vontade
dos que secam de desejo
dos que ardem"

a-mo.