domingo, 19 de outubro de 2008

Sambinha elegante

Acho que se alguém o chamasse na rua de Angenor, ele nem devia responder. Afinal, o apelido que recebeu desde jovem - Cartola - se tornou muito mais conhecido do que o nome registrado nos seus documentos. Além de ter sido um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira, o rapaz franzino e sempre "muito bem posto" (como diria a minha avó) ainda era um cantor e compositor de qualidade raríssima. 

Se hoje ainda existe pangaré pra dizer que samba é coisa de vagabundo, imagina nos tempos dele, que nasceu em 1908. Tanto que, apesar de hoje a gente ouvir gente de todos os cantos regravando Cartola, foi só já bem coroa que ele passou a ser reconhecido nacionalmente como um artista de excelência. O sambista foi redescoberto pelo escritor Sérgio Porto, aos 48 anos, enquanto trabalhava como lavador de carros e vigia, após um período em que alguns pensavam que ele já tinha morrido e haviam gravado até sambas em sua homenagem.

Mas não. Cartola ainda estava vivinho da silva e com muita poesia dentro dele. O primeiro LP saiu pouco antes dele completar 66 anos e, até realmente cantar pra subir (porque nenhum eufemismo seria mais conveniente pra ele) em 1980, ele ainda gravaria muitos dos sambas compostos por ele e outros, se apresentaria e seria regravado pelos quatro cantos do país. Quem escuta os seus sambas elegantes e delicados, do calibre de "Alegria", "As rosas não falam", "O mundo é um moinho", "Corra e olhe o céu" e "Peito vazio", simplesmente não consegue se manter impassível.


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