O tema geral era de como a sociedade contemporânea é opressiva com os padrões de beleza e com a obsessão de criar um modelo de "vencedor". Um dos tópicos que apareceram foi de que, hoje em dia, na verdade, haveria uma pressão menor e uma tolerância maior às diferenças, já que ser loser agora é moda. Na hora, a frase passou meio batida, mas depois comecei a pensar mais a fundo a respeito.
Já faz um tempo que personagens improváveis no entretenimento se tornam sucesso. Nos atendo só ao mundo da música, vemos Buddy Holly, por exemplo. O cara usava óculos fundo-de-garrafa com aros grossos e era magricelo, meio careca e dentuço, mas se tornou uma influência pra uma cambada de músicos renomados, como o mestre Bob Dylan. A música "American Pie", regravada pela Madonna, foi escrita por Don McLean em homenagem a ele e, em um dos versos, se refere ao 3 de fevereiro de 1959 - quando o cantor sofreu um acidente fatal de avião - como o dia em que a música morreu.
Billie Holiday era negra, pobre, chegou a se prostituir para sobreviver e, segundo alguns, era homossexual. Pra completar, aquele estranho fruto nascido nos Estados Unidos dos anos 10 tinha uma voz incomum. Aquela rouquidão podia ser bonita numa música? Pois era. Não é a toa que, até hoje, Lady Day é considerada uma das grandes divas do jazz.
Dando um salto no tempo, o Weezer chegou com um jeito diferente de fazer rock and roll. Um jeito nerd, pra ser mais exata. O Nirvana é mais um exemplo de banda esquisita - no som sujo e nos integrantes sem a menor pinta de galãs - que deixou a sua marca definitiva na música. A onda emo também: ou alguém aí tem alguma dúvida de que os caras não eram os mais populares da escola?
A vocalista do trio The Gossip, Beth Ditto, é gay e está muito acima do peso considerado aceitável. Cê acha que ela liga? Coisa nenhuma: está sempre com as roupas mais extravagantes e se acha linda, saiu até nua na capa da revista gringa NME (New Musical Express). E ainda temos Susan Boyle, a escocesa coroa e baranga que encantou o mundo cantando I dreamed a dream (do musical Les Misérables) no programa Britain's Got Talent.
O que chama a atenção nos fenômenos loser não é apenas o visual. Além de não terem o "visual certo", eles não falam apenas de tudo que é lindo e florido, sobre amores perfeitos, como são o máximo ou como é maravilhoso ter grana. Os losers cantam as dores de cotovelo, a sensação de ser inadequado, as dúvidas, a solidão.
Talvez venha daí sua identificação com um público imenso que não está mais a fim de tentar se encaixar num padrão inalcançável e que quer ouvir e ver alguém que se pareça com ele. Tá certo que, com o sucesso, surge a questão de se os "perdedores" acabam se tornando "vencedores", mas aí é outra história, que eu estou com uma preguiça dos diabos de abordar.
Passo a bola pra vocês: será que os losers estão mesmo na moda?