domingo, 24 de janeiro de 2010

Com a cara e a coragem

Quando ainda estava no colégio, lá pelos meus sweet sixteen (há quase 10 anos, cruzes), lembro de enviar meu primeiro currículo. A vaga era para ser assistente de vendas numa dessas joalherias em que você precisa abrir um crediário só pra passar da porta. Enfim, não foi daquela vez, mas no ano seguinte, já fora da escola, consegui trabalhar pela primeira vez. A situação em casa nunca foi lá muito boa, mas também não era um perrengue total. Não era por necessidade extrema que eu queria trabalhar, mas por algo que eu nem sabia direito como explicar na época. Eu queria ser independente.
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Pra mim, ser independente era ter dinheiro (mesmo que pouco) pra bancar as coisas que eu quisesse fazer. Com o passar do tempo, vi que a palavra queria dizer mais do que isso. Grana é só uma pequena parte da coisa. Independência tem muito mais a ver com atitude. Com se responsabilizar pela própria vida, tanto pelos acertos quanto pelos erros. É não ficar na mão de ninguém, mas saber os próprios limites pra saber impedir quando alguém ultrapassar a linha. É dizer, como se a gente tivesse cinco anos de novo, "você não manda em mim!". 
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Ainda hoje, o objetivo está lá, bem longe de ser alcançado. Mas a gente é teimoso e segue insistindo, né? A alternativa não vale a pena.
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domingo, 10 de janeiro de 2010

O mundo, sorrindo, se enche de graça - reloaded

Imaginem a cena, situada nos idos de 1962: Tom e Vinícius estão sentados numa mesa do Bar Veloso, curtindo a brisa da praia e vendo Helô Pinheiro passar, no esplendor de sua juventude. Seus cabelos balançam suavemente com o vento e a beleza da moça deixa todos embasbacados, hipnotizados com a imagem. A atmosfera do momento é tão envolvente que a dupla se sente inspirada para compor e daí nasce Garota de Ipanema

Corta pra 2010. É janeiro, um verão infernal. As pessoas suam, grudentas, pingando pelo caminho. O calorão e a muvuca da praia as deixam de mau humor, então todo mundo está meio nervoso. No bar, o que vale é a lei da selva. "Zéééé, traz mais uma aqui! Ei, você! Eu chamei primeiro, seu merda!". Os lugares em que o ar condicionado parece mais forte são disputados a pontapés. As mulheres se abanam, improvisando leques com a revista da semana. Os homens, resignados, cultivam círculos úmidos debaixo do braço. As filas da Sorveteria Itália e do Yogoberry são intermináveis.

Um grupo de rapazes está sentado num boteco perto do calçadão, conversando, bebendo cerveja e, é claro, suando. Saindo da praia, vem uma bela jovem, caminhando naquela preguiça característica do momento. Seu rosto é suave e, como o corpo ainda está molhado pelo último mergulho no mar, ela está só de biquíni e chinelo, na esperança de secar até chegar do outro lado da rua. Um dos caras percebe sua aproximação e cutuca os outros. Um deles vira na direção da moça, que agora passa ao lado do bar, e susurra "Hummmm... te chupava todinha!". É, outros tempos (quem sabe não rendia um funk?).