terça-feira, 2 de novembro de 2010

sábado, 16 de outubro de 2010

Colocando o barco pra navegar

De uma hora pra outra, surgiu uma proposta tentadora com grande potencial de fazer a minha vida dar uma guinada de 180°. Trabalhar em Recife? Hum... por que não? Estou começando minha carreira agora, sou solteira, não tenho filhos, tenho família em Recife e, logo ali, em Fortaleza, mais um bocado de gente querida. Analisei as condições do convite e pensei: "na pior das hipósteses, é uma viagem patrocinada". Topei.

Mas aí eu penso e repenso mil vezes. Como viver longe da minha família daqui? E dos meus amigos, essa família tão unida que foi ganhando cada vez mais agregados ao longo do tempo? Sinceramente, eu não sei.  Que a vida seguiria seu ritmo e, aos poucos, uns iam se mudar, outros iam casar e ter filhos, que a gente não estaria tão perto quanto hoje, disso eu já sabia.

Só não sabia que eu seria a primeira a partir. Pode ser que eu fique fora só um mês, mas foi o que faltava pra cair a ficha de que as coisas vão mudar muito, pra mim e pros outros e que esse é só o começo. Mesmo assim, sinto que preciso aceitar o desafio e viver essa experiência. Cadê o manual de instruções? E o Ctrl + Z?

Vou, não sei quanto tempo fico - pode ser um mês, um ano ou de vez -, mas deixo um pedaço meu aqui. E é um pedaço que vai me fazer falta todos os dias.

domingo, 10 de outubro de 2010

O grande amor que nunca foi

Começou como uma coisa qualquer, sem pensar muito, sem achar que ia dar em nada, imaginando que não podiam existir duas pessoas com menos em comum nesse mundo. Aliás, da melhor forma de acontecer: inesperadamente. Entre uma vontade incomum de ver durante o dia e uma ponta de saudade no final da noite, aquele encontro despretensioso foi ganhando força. 

E era por não esperar nada que a surpresa por simplesmente sentir falta e querer ter por perto foi tão grande. Mas junto com a surpresa, veio o medo de se arriscar, de deixar o que era supostamente seguro e sobreviver àquele momento desesperador de se ver sem chão e sem saber o que vem depois. Era medo de lá e medo de cá e a gente não segurou a onda. Se esvaiu em nada.

Já faz um tempo. Eu tô bem e você também. É o que parece, mesmo que "bem" seja ter escolhido não ultrapassar os limites do território seguro. Mas de vez em quando, ao acaso, não consigo deixar de me perguntar: "e se?"

domingo, 30 de maio de 2010

Vícios acidentais ou Eu uso óculos

Essa semana, no banheiro do estágio, aconteceu algo curioso (calma, que eu não sou de escatologia). Bem, fui ao banheiro e, antes de sair, senti falta dos óculos. Passei um bom tempo procurando por eles lá. Eles não estavam encaixados no decote e não estavam ao lado da pia. De repente, o desespero: teriam eles caído da minha blusa no vaso sanitário? Foi então que eu me olhei no espelho e lá estavam. Bem na minha cara. Literalmente. Sempre achei que isso fosse sinal de caduquice - e não estou dizendo que não seja mesmo -, mas é engraçado quando acontece com a gente. Ainda mais considerando o meu histórico.

Apesar da infância meio fudida em alguns aspectos, em relação a minha saúde acho que posso considerar  que fui uma criança sortuda. Tive catapora, caxumba e algumas noites maldormidas causadas por febres, mas nunca tive cárie, nenhuma doença grave. Uma vez, rolei escada abaixo (maldita mania de descer escada pulando os degraus) e fiquei com uns arranhões, mas nunca quebrei nada. Só lá pros 14 anos que torci o pé e  realizei o sonho de usar gesso (vai entender). 

Eis que, depois dos 20 anos, o oftalmologista tem a audácia de me dizer que eu sou míope. Porra, agora?  Eu faço consulta de rotina todo ano desde pequena, nunca apareceu nenhum defeito de visão e agora você  tem a cara-de-pau de me dizer que eu sou míope? Enfim, revolta superada, lá fui eu mandar fazer os óculos, porque já estava meio complicado de pegar ônibus e enxergar a letra do professor no quadro da faculdade. Escolhi um modelo com armação leve, com lentes pequenas e retangulares, bem bonitinho até. No primeiro dia em que eu usei, o choque: tudo parecia no lugar errado, eu andava sem saber direito como medir distâncias e profundidade. Levei uns dias pra me acostumar e, mesmo assim, demorou bastante pra me sentir bem com eles.

Mais ou menos um ano depois disso, comecei a notar que eu enxergava cada vez pior sem os óculos. Ler uma placa a poucos metros já tinha se tornado difícil. Fui ao oftalmo de novo, o grau (que já era pequeno) havia mudado quase nada num olho e continuado o mesmo no outro. Foi então que eu percebi: eu havia me tornado dependente dos meus óculos. Alguns dias antes do episódio do banheiro, aconteceu outro interessante. Antes de dormir,  passei a mão no rosto pra tirar os óculos, mas... eles não estavam lá. Eu já havia tirado alguns minutos antes. Ainda bem que essas coisas só acontecem quando eu estou sozinha, pelo menos.

Comecei a pensar então em como vamos criando dependências ao longo da vida. Algumas são temporárias, outras permanentes. Biológicas, materiais, sentimentais. Elas nos deixam mais confortáveis ou às vezes são só uma forma de nos deixar seguros de que podemos nos apoiar em algo. Um lugar seguro às muitas mudanças que, querendo ou não, a gente vive. Às vezes, elas nos são benéficas. Em outras, nos maltratam, mas não sabemos como nos desvencilhar. Do que, de fato, será que a gente precisa?

quarta-feira, 19 de maio de 2010

De quando eu sonhava mais

Naquele dia, lembro de acordar e estar sozinha na cama. De, ainda sonolenta, ouvi-lo me oferecer café, pela fresta da porta. Resmunguei um "não, obrigada", e voltei a dormir. Ainda eram tempos em que eu tinha o hábito de construir pessoas. De a cada olhar, beijo, carinho e palavra ir criando uma personalidade, encaixando as minhas projeções e expectativas de uma forma que seria até bastante proveitosa literariamente, mas na vida real nunca terminava bem. Hoje já aprendi que pode ser muito mais interessante ir descobrindo aos poucos quem é o outro, por ele mesmo. Enfim, voltando àquele tempo, eu tinha o costume de ir juntando os fragmentos de alguém e, quando via, já o tinha inventado.

Por isso, a surpresa naquela manhã. Estava eu olhando encantada, tentando disfarçar a todo custo o encantamento que já tinha se enraizado no peito. Quem me olhou de volta foi outra pessoa. Aquele que eu havia engendrado dentro de mim não estava ali. Quem estava era outro, era o cara da vida real. E o cara da vida real vivia no mundo real, tinha suas coisas pra fazer e eu estava atrapalhando. De alguma forma, eu sabia que seria a última vez. Voltei pra casa chorando.

domingo, 2 de maio de 2010

Carrossel

Um dia eu acordei e tinha contas pra pagar. Um compartimento só meu na pasta-sanfona de documentos de casa. Os pais dizem pros filhos agradecerem "à moça" quando eu seguro a porta do elevador. Quando foi que isso aconteceu e eu não vi?

Os dias são cheios de prazos, planos ainda não realizados, cálculos, projetos, correria. As noites têm gosto de vodka e cheiro de cigarro. "O quê?", eu pergunto aos berros, sem escutar o que a outra pessoa diz por causa da música alta. Repito duas vezes. Se não tiver entendido depois da terceira, me rendo. Apenas gargalho e concordo. 

Melhores amigos por uma noite, as estranhas criaturas da madrugada, a maquiagem borrada ao acordar.  O domingo preguiçoso, as roupas pra lavar, a agenda pra rever. A campainha do despertador e a leitura da revista semanal às segundas-feiras, durante o trajeto do ônibus. E repete terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, indefinidamente.

domingo, 18 de abril de 2010

É complicado

Seria mais simples se tudo o que a gente precisa decidir viesse pra nós de maneira clara, né? Que a gente tivesse epifanias com mais frequência, talvez. Pensando bem, isso certamente ia provocar danos psicológicos irreparáveis, melhor não. Enfim, a vida seria muito mais fácil se todas as respostas aparecessem objetivamente.

O problema é conseguir enxergar com clareza, porque quando a gente está envolvida com alguma questão que precisa resolver, é difícil se distanciar. Daí a gente fica nessas, sem saber direito pra onde ir, com medo de escolher o caminho errado e se estrepar toda. Lucidez... é de comer?

segunda-feira, 8 de março de 2010

Da série "tem que ver"

O que é o medo? É aquele frio no estômago? A insônia inesperada? A crise de choro? É o que nos paralisa ou o combustível pras nossas mudanças? 

Pensando nisso, lembrei de um filme delicado e despretensioso que vi há uns anos: Minha Vida Sem Mim, dirigido pela Isabel Coixet. Nele, uma jovem de 23 anos, casada com o primeiro homem da sua vida, com duas filhas pequenas e vivendo em um trailer, descobre que tem uma doença terminal. Brabeira, né? Depois do choque inicial, o que ela faz é criar uma lista de tudo o que quer fazer antes de morrer e começar a pôr os planos em prática, serena e obstinadamente.

Como protagonista, está a ótima Sarah Polley. O elenco traz ainda Mark Ruffalo, Scott Speedman, Debbie Harry (sim, ela mesma, a vocalista do Blondie) e Maria de Medeiros. Pra completar, uma das trilhas sonoras mais lindas desse mundo. Só pra dar o gostinho, taí o trailer, ó:

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Médio, mediano, medíocre

Conheço gente que trabalha fazendo exatamente a mesma coisa há anos, mais por comodismo que por vocação. Gente que acorda e dorme todo santo dia ao lado de quem não ama. Ou será que ama? Já nem se sabe mais. Não estou falando daquelas pessoas que vivem assim conscientemente, mas das que se acostumam a não exigir da vida. Que sentem conforto em levar a vida em banho-maria, em ter uma boa ideia de como vai terminar o dia, o mês, o ano e assim por diante.
Dos que ignoram o prazer de se aventurar no abismo, de vez ou outra apostar no incerto, de ultrapassar a zona segura em volta de si, dos que preferem ficar embaixo da marquise a tomar sereno. A vida é mais segura assim, verdade, mas será que vale a pena manter os limites assim tão rígidos? Dá até uma pontinha de inveja de vez em quando - afinal, os ignorantes parecem mesmo ser mais felizes -, mas no fim das contas o meio-termo não é tão vantajoso quando a gente sabe que pode muito mais. Melhor mesmo é voar livre feito passarinho.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Pra dizer a verdade

"Então, vamos marcar alguma coisa?", ele disse. Respondi: "Olha, sabe que que é? Na verdade eu tô vendo que isso não vai dar certo, você já deve saber disso também, então a resposta é não. Vou ficar em casa fazendo a sobrancelha que é mais jogo". Mentira. Falei: "Claro, vamos sim. Que horas?".

Posso discutir com alguém, me magoar e chorar até desidratar as glândulas lacrimais, mas se encontrar com a pessoa por aí, vou segurar o sorriso no rosto e dizer: "Imagina, tô ótima!". E quantas vezes a gente não ouve alguém dizendo que não tá nem aí pra fulano, que quer mais é que o fulano vá pras cucuias, daí no instante seguinte lá está a pessoa toda resignada e cheia de amores? Quem nunca foi a algum lugar só porque os amigos insistiram e depois ficou com cara de bunda o resto da noite?

A gente curte dizer que faz e diz o que quer, que é transparente, mas a verdade é que às vezes a gente não segura o tranco de simplesmente ser sincero com o que sente. Acaba dizendo e fazendo exatamente o contrário do que quer, muitas vezes sem sequer perceber. Será medo? Orgulho? Autoproteção? Seria por  esperança de que o que a gente diz passe a ser o que se pensa? Ou, talvez, que a nossa intuição esteja errada dessa vez? Sejamos francos: franqueza é coisa pra heróis e heroínas.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Com a cara e a coragem

Quando ainda estava no colégio, lá pelos meus sweet sixteen (há quase 10 anos, cruzes), lembro de enviar meu primeiro currículo. A vaga era para ser assistente de vendas numa dessas joalherias em que você precisa abrir um crediário só pra passar da porta. Enfim, não foi daquela vez, mas no ano seguinte, já fora da escola, consegui trabalhar pela primeira vez. A situação em casa nunca foi lá muito boa, mas também não era um perrengue total. Não era por necessidade extrema que eu queria trabalhar, mas por algo que eu nem sabia direito como explicar na época. Eu queria ser independente.
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Pra mim, ser independente era ter dinheiro (mesmo que pouco) pra bancar as coisas que eu quisesse fazer. Com o passar do tempo, vi que a palavra queria dizer mais do que isso. Grana é só uma pequena parte da coisa. Independência tem muito mais a ver com atitude. Com se responsabilizar pela própria vida, tanto pelos acertos quanto pelos erros. É não ficar na mão de ninguém, mas saber os próprios limites pra saber impedir quando alguém ultrapassar a linha. É dizer, como se a gente tivesse cinco anos de novo, "você não manda em mim!". 
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Ainda hoje, o objetivo está lá, bem longe de ser alcançado. Mas a gente é teimoso e segue insistindo, né? A alternativa não vale a pena.
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domingo, 10 de janeiro de 2010

O mundo, sorrindo, se enche de graça - reloaded

Imaginem a cena, situada nos idos de 1962: Tom e Vinícius estão sentados numa mesa do Bar Veloso, curtindo a brisa da praia e vendo Helô Pinheiro passar, no esplendor de sua juventude. Seus cabelos balançam suavemente com o vento e a beleza da moça deixa todos embasbacados, hipnotizados com a imagem. A atmosfera do momento é tão envolvente que a dupla se sente inspirada para compor e daí nasce Garota de Ipanema

Corta pra 2010. É janeiro, um verão infernal. As pessoas suam, grudentas, pingando pelo caminho. O calorão e a muvuca da praia as deixam de mau humor, então todo mundo está meio nervoso. No bar, o que vale é a lei da selva. "Zéééé, traz mais uma aqui! Ei, você! Eu chamei primeiro, seu merda!". Os lugares em que o ar condicionado parece mais forte são disputados a pontapés. As mulheres se abanam, improvisando leques com a revista da semana. Os homens, resignados, cultivam círculos úmidos debaixo do braço. As filas da Sorveteria Itália e do Yogoberry são intermináveis.

Um grupo de rapazes está sentado num boteco perto do calçadão, conversando, bebendo cerveja e, é claro, suando. Saindo da praia, vem uma bela jovem, caminhando naquela preguiça característica do momento. Seu rosto é suave e, como o corpo ainda está molhado pelo último mergulho no mar, ela está só de biquíni e chinelo, na esperança de secar até chegar do outro lado da rua. Um dos caras percebe sua aproximação e cutuca os outros. Um deles vira na direção da moça, que agora passa ao lado do bar, e susurra "Hummmm... te chupava todinha!". É, outros tempos (quem sabe não rendia um funk?).