domingo, 13 de janeiro de 2008

Monogamia, opção sexual e outras lendas urbanas (13/01/2018)

Por algum motivo (transtorno obsessivo-compulsivo, por exemplo), sinto uma certa inclinação a fazer retrospectivas, e geralmente com períodos de tempo redondos (1 semana, 1 ano, 1 década). Hoje me peguei pensando em como são as relações amorosas hoje e como elas eram há 10 anos. O que mudou? O que continua igual?
Lembro que as pessoas estavam experimentando e se flexibilizando cada vez mais, mas sem aquele peso todo de romper tabus. Não que estes não existissem. Ter um relacionamento aberto (como se chamava, na época, quando o casal podia ficar com quem tivesse vontade) era um compromisso explícito apenas para o casal. Uma menina conversar a respeito com os pais era exigir se tornar a decepção da família e ouvir "esse mundo tá perdido" por meses a fio.
Relacionamento aberto, ficar com pessoas do mesmo sexo, alternar relações com homens e mulheres etc ainda gerava discussões inflamadas onde se ouviam teorias sobre a natureza humana, Deus, gostos pessoais, moral e imoral, liberdade e desejo. Mas os jovens, filhos e netos da geração de 1968, primeira geração da internet, já começavam a encarar de modo natural fazer o que quisessem e que não tinha nada de ilegal.
Um casal de homens tinha conseguido, pela primeira vez, adotar uma criança no Brasil há pouco. Duas mulheres já podiam cear no Natal com o restante da família sem precisar fingir que não eram o que todos já sabiam que eram. Vez ou outra, aparecia uma notícia de que nesse ou naquele estado já se fazia casamentos de pessoas do mesmo sexo. Igrejas consideravam o homossexualismo possessão demoníaca e igrejas ministravam o matrimônio entre homossexuais.
Hoje essa definição de homo, hetero e bissexual tem caráter muito mais prático, para definir interesses predominantes, do que em 2008, em que tinha a classificação risível de "opção sexual". Juro, se dizia "opção" há 10 anos. Homossexual (junto com suas formas pejorativas bicha e viadinho) ainda era um personagem folclórico da teia social, um estereótipo usado para ofender alguém. O gay se escondia no trabalho e fingia achar graça nas piadas sobre a "tendência sexual" de quem gosta de caipirinha de morango. Bissexual era um indeciso, um freak com algum desvio psicológico.
Fidelidade, que a gente hoje entende como escolha do casal, então, era uma regra. Se um casal se formava, era implícito que um só podia ficar com o outro. Mesmo porque o contrário de fidelidade carregava nas costas o nome de traição. Existe palavra mais relacionada com crime, culpa e falta de caráter do que traição? O que a gente vê como uma relação de honestidade, amor e cumplicidade sem privação das vontades humanas naturais era uma depravação ou, como se dizia, galinhagem. Mas já crescia com força a semente do hedonismo.
Aos poucos, sem revoluções explícitas ou sutiãs pegando fogo em praça pública, as relações passaram a ser compreendidas entre interação entre seres humanos, e não necessariamente entre homem e mulher. Entre dois ou mais. Ou mesmo entre um ser humano e o mundo, afinal, por que a obrigação de casamento no molde "felizes para sempre" para significar sucesso na vida e saúde emocional? Permanentes ou esporádicas. Livres, enfim, de preconceitos e regras.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Vida de gado

"Tia, compra um chiclete pra mim ir almoçar?", diz o moleque de chinelos encardidos. "Desculpa, eu não tenho nada aqui" respondo como sempre, numa mistura de culpa, pressa e medo de ser assaltada.
"Moça, dá um dinheiro pra eu comprar leite pra ele?", diz a moça esparramada na escada do metrô, com um bebê maltrapilho no colo.
Finjo que não escutei e passo com pressa, tentando afastar aquela visão o mais rápido possível e continuar o meu dia sem pensar nela.
Barulho de moedas quicando numa lata. O velho cego e miserável sentado do lado de fora da loja não diz nada. O meu procedimento é igual ao anterior.
Ou ainda o rapaz que grita "água, coca-cola, guaravita e H2o" na beira da estrada. Está um calor infernal dentro do ônibus, mas sempre imagino que o sinal vai abrir antes que eu consiga pegar a água.
Trabalho 9 horas por dia em frente ao computador, na minha mesinha, trancafiada no escritório. À noite, mais 4 horas na faculdade. Ou seja, geralmente só passo na rua quando estou me deslocando pra esses lugares ou pra casa. Mesmo assim, encontro diariamente uma multidão marginal, vivendo de caridade, pequenos furtos e dos restos alheios. Ignorante e ignorada. Fico pensando que tenho que fazer alguma coisa, mas o quê? Penso, então, que alguém deveria fazer, mas quem? Por uns 30 segundos, fico pensando que posso dar dinheiro, mas que este vai ser gasto com alguma besteira, que chega no final do dia e a mulher devolve o bebê pra mãe antes de voltar pra casinha dela ou que vou alimentar um círculo vicioso de miséria. Por minha culpa, a pessoa nunca vai sair dali. Lembro do cara que estava pedindo dinheiro em frente à UERJ e que, quando ofereci a maçã que estava na minha mochila, riu. Acabo passando direto. E depois esqueço.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

On the radio (Regina Spektor)


This is how it works

It feels a little worse

Than when we drove our hearse

Right through that screaming crowd

While laughing up a storm

Until we were just bone

Until it got so warm

That none of us could sleep

And all the styrofoam

Began to melt away

We tried to find some words

To aid in the decay

But none of them were home

Inside their catacomb

A million ancient bees

Began to sting our knees

While we were on our knees

Praying that disease

Would leave the ones we love

And never come again

On the radio

We heard November Rain

That solo's really long

But it's a pretty song

We listened to it twice

'Cause the DJ was asleep

This is how it works

You're young until you're not

You love until you don't

You try until you can't

You laugh until you cry

You cry until you laugh

And everyone must breathe

Until their dying breath

No, this is how it works

You peer inside yourself

You take the things you like

And try to love the things you took

And then you take that love you made

And stick it into some

Someone else's heart

Pumping someone else's blood

And walking arm in arm

You hope it don't get harmed

But even if it does

You'll just do it all again

And on the radio

You hear November Rain

That solo's awful long

But it's a good refrain

You listen to it twice

'Cause the DJ is asleep

On the radio(oh oh oh)

On the radio

On the radio - uh oh

On the radio - uh oh

On the radio - uh oh

On the radio