terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sobre o meu espírito anti-natalino

Tenho uma confissão a fazer: não acho que o mundo fica mais feliz, unido, iluminado ou coisa parecida no Natal. As outras pessoas eu não sei, mas eu fico é mais pobre. Esse ano decidi dar presente só pra família e, ainda assim, lá se foi uma boa grana. Quanto a isso, tudo bem, porque gosto de presentear pessoas queridas. O que eu acho esquisito é esse clima meio forçado de união misturado com "vamos às compras".

Pensando direito, é bem isso mesmo: "vamos todos juntos às compras", a julgar pela multidão cheia de sacolas nos shoppings às vésperas do dia 25. Em vez daquela reflexão sobre "o verdadeiro espírito do Natal" que nossas avós nos sugerem a fazer, o que simboliza verdadeiramente a data é uma massa de gente mal-humorada, com pressa para terminar os preparativos da ceia e refém de parcelas da Renner até a metade do ano seguinte.

Só me animo com o tender e a rabanada (que a família ainda cisma em liberar só depois da meia-noite). Pronto, falei.

(ouvindo "People Are Strange", The Doors)

sábado, 20 de dezembro de 2008

Muito mais que uma cerca eletrificada


Apesar de ser bem vulnerável aos apelos midiáticos (tipos, chorar em episódios de Brother & Sisters e afins), pouquíssimas vezes saí do cinema tão impactada. O filme era "O Menino do Pijama Listrado", sobre a improvável amizade entre o filho de um oficial nazista (Bruno) e o prisioneiro de um campo de concentração (Shmuel), menininhos fofos de 8 anos que não têm com quem brincar. Quando Bruno e a família se mudam para o interior, ele vê da janela algo que imagina ser uma fazenda (na verdade, o campo) com moradores esquisitos que só usam pijamas listrados.   

Grande parte do filme está em mostrar os efeitos de uma verdade perturbadora sobre a família de Bruno - que não tem exata noção do que o pai dele faz nos campos nem do que é aquela fumaça negra e malcheirosa que sai da chaminé dos fornos crematórios -, a lavagem cerebral que legitimou o anti-semitismo para milhares de alemães e uma certa sabedoria infantil frente à irracionalidade dos adultos. 

Depois que descobre Shmuel, Bruno passa a ir todos os dias conversar com o menino e levar comida pra ele. Com os relatos do amigo sobre o cotidiano de exploração e falta de dignidade do campo, Bruno aos poucos vai percebendo que aquele homem de quem tinha tanto orgulho pode não ser nada do que imaginava. Ao contrário do que todos a sua volta dizem (que todos os judeus são ruins e responsáveis pelos males de que sofre o povo alemão), ele vê que a realidade é bem diferente de perto. Surpreendente, tanto pra ele quanto pra mim.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pragas moralistas

Existem alguns boatos que se propagam com o tempo através da tradição oral, como uma forma de disciplinar os indivíduos por meio de ameaças pavorosas. Suas principais portadoras são tias velhas, mães, avós e agregadas da família (geralmente coroas também). Alguns exemplos tradicionais da infância:

* Sair sem companhia é pedir pra ser seqüestrado pelo temido homem do saco;

* Andar sem chinelo faz as pernas encolherem;

* Leite com manga é uma mistura assassina;

* Chiclete que traz tatuagem removível como brinde vem com drogas alucinógenas que são absorvidas pela pele;

* O Papai Noel tem uma lista em que anota as boas e más ações das crianças. Dependendo do saldo, você pode ficar sem presente no Natal como castigo.

Ou na adolescência:

* Beijar muita gente dá sapinho (mazela que eu até hoje, aliás, ainda não sei bem o que é);

* Portadores revoltados do vírus HIV transmitem a doença escolhendo pessoas aleatoriamente na rua e as perfurando com seringas contaminadas;

* Homem que se masturba fica cheio de espinhas no rosto e pêlos na mão;

* Transou, engravidou. Por isso, não transe.

É engraçado como essas lendas urbanas vão ficando mais assustadoras com o passar dos anos e, mesmo na idade adulta, continuam povoando o nosso imaginário e enchendo nossas cabeças de dúvidas e culpa: 

* Casais em que o homem é mais velho e a mulher mais nova ou o contrário só podem significar uma coisa: golpe do baú;

* Mulher que transa "cedo demais" leva pé na bunda;

* Gays podem ser "convertidos" ao mundo hetero;

* Mulher não pode tomar a iniciativa com um cara (afinal, isso é coisa de "quem não se dá valor");

* A neura do "Boa noite, Cinderela". Deixar de olhar um segundo para o copo traz como conseqüência acordar no dia seguinte numa banheira sem um rim nem qualquer idéia de como isso aconteceu.

* Existe um sapato velho pra todo pé cansado, uma tampa pra cada panela, uma metade pra toda laranja ou alguma outra metáfora besta sobre almas gêmeas. 

sábado, 13 de dezembro de 2008

"Cuidado: cenas fortes"

Tá certo que o homem era uma figura execrada pela opinião pública, já que bater em mulher, quebrar motel e ainda por cima encher a cara de pó não tão com nada, mas convenhamos: todo mundo merece um mínimo de dignidade. O Dia postou hoje, em seu site, um vídeo com imagens de Marcelo Silva (ex de Suzana Vieira e bafafá do ano) na garagem em que foi encontrado morto na 5ª feira. Pegou mal. 

De acordo com o código de ética dos jornalistas brasileiros, os profissionais devem basear seu trabalho no interesse público, respeitar o direito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão e não podem divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos. 

A questão do interesse público tem estado um tanto controversa nos últimos tempos, já que a vida pessoal das "celebridades" tem sido tratada como entretenimento (como, aliás, já vinha ocorrendo desde o começo do envolvimento do casal), mas há que se diferenciar interesse público da curiosidade pública. Nesse caso, não havia ganho social nenhum que justificasse a veiculação do vídeo, houve foi desprezo pelo bom jornalismo e exercício da baixaria.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

"Como é que se escreve 'Ré...vei...llon'?"

Continuo esperando o Ashton Kutcher sair de trás da porta gritando "you just got punk'd!", mas recebi 12 dias de folga do estágio no final do ano. Tempo pra caramba, praticamente férias antecipadas assim, sem prévio conhecimento. Idéias megalomaníacas logo começaram a passar pela minha cabeça: Fortaleza? Buenos Aires? Chile? 

Alguns segundos foram o bastante para fazer os meus pés voltarem pro chão. "Acorda pra vida, Luanda", como diria meu tio. O dinheiro não dá nem pra ir a Niterói. Serão 12 dias de sobrevivência modesta, à base de busão rumo à praia, baladas custeadas pelo cartão de crédito (que é pra cair só em janeiro) e programas econômicos (tipo cada um leva as suas cervejas pra casa dos amigos e, tadá, é a festa).

A tendência então (porque eu sou otimista e tenho uma esperança/ilusão de que algo aconteça) é passar o Natal no pacote standard (família-missa-ceia-troca sonolenta de presentes). Só o Réveillon é que ainda é um mistério. Praia de Copacabana nem pensar, só em alguma situação excepcional, envolvendo um conhecido imaginário que tenha apê nas proximidades para evitar o apocalipse na volta de metrô.

Com exceção dessa hipótese improvável, a data é uma grande interrogação, portanto lembrem da mocinha aqui ao programarem o Ano Novo, porque passar em casa, vendo TV e ouvindo os cachorros dos vizinhos (igualmente abandonados pelos entes queridos e igualmente putos por isso) latindo apavorados com os fogos ao longe está fora de questão.  

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Batendo mais um pouco em cachorro morto

Eu sei que o assunto já tá enchendo a paciência, mas cara. C-a-r-a. É só comigo ou dá mesmo embrulho no estômago só de imaginar esses dois juntos?