sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Pra dizer a verdade

Outro dia achei uma comunidade no orkut cujo nome é "Eu odeio fazer joguinho" e, sem nem precisar pensar demais na afirmação, concordei plenamente. Vez ou outra, sem nem perceber a tempo, me vejo no meio de uma historinha sem sentido em que dizer a verdade sem rodeios resolveria tudo.
Com um amigo, a premissa básica é essa, não? Os indivíduos dividem uma relação especial de confiança, amor e cumplicidade, o que pressupõe honestidade. Isso geralmente acontece comigo, mas às vezes, não sei se por enxergar uma amizade onde ela não existe ou por pura estupidez mesmo, descubro uma fofoca em que caí de pára-quedas disparada por quem eu considerava amigo. Esses casos, ainda bem, são raros na minha curta experiência de vida.
Agora os joguinhos que me chateiam mais e fazem eu me sentir uma babaca com B Arial Black tamanho 30 é joguinho de homem. Você sai com o indivíduo. Tudo flui bem, conversa interessante, química etc, o indivíduo parece um cara legal. Naturalmente, você aguarda esperançosa que a história siga seu curso natural e vocês invistam pra saber se têm a ver mesmo um com o outro.
Conversa com o indivíduo, ele parece interessado. Conversa mais um pouco, ele continua parecendo interessado, mas até um brócolis tem mais atitude do que ele. Qual é a dificuldade de dizer "aquele dia foi ótimo, você é uma pessoa legal e tudo mais, só que não tô a fim"? Não, é claro que é muito melhor pro cara ficar te cozinhando em banho-maria sem piiiii nem sair de cima! Tá certo que é embaraçoso ter que dizer assim claramente, mas também não há necessidade nenhuma de ficar dando corda à toa, né? O indivíduo fica achando que é a última garrafinha de H2O do verão, então é um shiatsu no ego pra ele. Pra gente é que é uma bosta, um desperdício de energia e expectativas.
Quando percebo que entrei de novo num joguinho desses, começo a pensar que deve ser castigo divino, lei do carma, sei lá. Será que eu também faço isso com os caras? Deixo eles pensarem que têm chance de sair comigo sem estar interessada de verdade? Hum... Acho que o mais perto que faço é não ser explícita por educação. Se eu nunca tiver ficado com ele, digo "ok, então quando a gente sair, vou levar uma amiga que tem tudo a ver com você" ou "claro, vou chamar o X (se eu já estiver saindo com outra pessoa) pra ir também". Acho que a mensagem é clara, ou não? Se eu já tiver ficado, digo "poxa, você é ótimo e a gente pode ser amigo, mas não tô a fim de ficar de novo com você".
Ainda não conheci ninguém que goste de joguinho. De pensar que a outra pessoa compartilha dos seus pensamentos e descobrir, vencido pelo cansaço, que estava enganado. Ser literalmente induzido a se envolver pela vaidade ou falta de coragem do outro. Vamos lá, jogadores, um pouquinho de vergonha na cara, né?

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Listinha pra 2008

Ano Novo chegando, chega também a hora de fazer a retrospectiva do ano que passou, contabilizar prós e contras e planejar o ano que vem... Provavelmente, uma boa parte dos meus planos vai ser mudada ou colocada de lado, mas outra vai se tornar fato e entrar no balanço de 2008. A partir da meia-noite de 31 de dezembro, quero:
1-Juntar dinheiro
2-Fazer minha fono pra parar de falar como locutora de corrida de cavalos
3-Ler aqueles trocentos livros que comprei e só passei os olhos pela contracapa
4-Ir ao Festival do Rio e ao TIM Festival (eu vou juntar dinheiro, eu vou juntar dinheiro...)
5-Me dedicar mais à faculdade (essa é uma constante nas minhas listas)
6-Comer menos doce (acho que sou eu que sustento a indústria de bombons de cupuaçu)
7-Parar de falar "tipo"
8-Escrever regularmente no blog
9-Aprender, finalmente, a tocar violão
10-Amor. Banal? Vago demais? Não quero nem saber! Espero que os amigos queridos, minha família, as pessoas que eu ainda nem conheço e quem sabe um carinha bem legal possam simbolizar esse sentimento nos 366 dias de 2008 (sabia que 2008 vai ser bissexto?).

domingo, 23 de dezembro de 2007

Ho ho ho

Já é dezembro. Ainda não consegui me recuperar da notícia. Acordei um belo dia, já estávamos na reta final de 2007 e eu não tinha me preparado pra isso. Resultado: o Natal, beleza, vai ser com a família mesmo, aquela programação clássica em que todo mundo fica conversando e olhando de canto de olho para a coxa do chester e pensando "ah, quando der meia-noite...". Enfim, Natal básico.

Quanto ao Ano Novo, depois de passar os últimos 3 Reveillons iguais (com o combo namorado-família do namorado-perto da casa do namorado), fiquei meio sem saber o que fazer do meu primeiro Ano Novo como solteira novamente. Festa, qual? Praia, só com um pessoal muito bacana pra compensar a muvuca. Ficar em casa, muito triste. Aceito convites (e olha que eu nem sou muito exigente)!

Lugar de segunda

Ontem, estava eu conversando com a minha mãe sobre o plano de passar um tempo estudando espanhol no Chile. Eis que ela, indignada diz: "Ah, não, Luanda, junta dinheiro e vai pra um lugar legal!" (querendo dizer que eu devia era ir pra Europa). Subi nas tamancas: "Ué,mãe, só porque é América do Sul tem que ser uma bosta?" (é,a gente conversa nesse nível).
Tá certo que a Europa oferece a oportunidade de também conhecer países com outros idiomas nativos para praticar (inglês, francês, alemão e tcheco se eu soubesse falar alemão e tcheco) e é um continente que eu sou doida pra conhecer, mas há opções de lugares lindos e ricos culturalmente aqui pertinho. Além do Chile, há Argentina, Uruguai, Peru, Venezuela...
É um pensamento bem brasileiro esse de considerar os territórios da América do Sul (inclusive os do Brasil) como indignos de interesse, completamente desprovidos de validade, como se investir seu tempo em visitá-los fosse igual a ir pro Piscinão de Ramos podendo ir pra Ipanema.
Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, Europa e algumas regiões da Ásia (se o viajante estiver numa fase"de-busca-espiritual" ou "querendo-me-encontrar"), tudo bem, mas colocar a mochila nas costas pra conhecer o Brasil ou os nossos vizinhos é quase risível. Por que quando o viajante ousa dizer "vou passar uns dias no Paraguai", recebe como resposta um "ah,tá" desanimado, mas se comentar que vai passar as férias na Califórnia, um "nossa, que máximo!"?
Temos que aprender a valorizar o que está à nossa volta. Pra que perder uma experiência que pode ser incrível, de conhecer gente legal, lugares bacanas, lidar com realidades sociais diferentes da nossa, estudar, aprender com uma cultura nova, eliminar isso tudo da nossa vida por um preconceito besta desses?

domingo, 16 de dezembro de 2007

Minha companhia? Eu mesma, ué!

Quando eu era adolescente, tinha agonia só de pensar em sair sozinha. Pra ir à padaria da esquina, tinha que ter uma amiga a tiracolo, como se só assim as experiências adiquirissem valor. Depois veio a fase de começar a namorar e, com ela, mais grude. Não dava pra escolher uma pasta de dente na farmácia sem chamar o dito-cujo.
Não estou dizendo que sair e se divertir acompanhada seja ruim (pelo contrário, é ótimo na maioria das vezes), o problema é quando a vontade de estar junto vira dependência. Quando você deixa de fazer algo que quer muito simplesmente por falta de companhia ou quando você não fica à vontade só.
Com o passar do tempo, fui aprendendo a saborear esses momentos all by myself para ter paz, refletir, agir de acordo com o meu tempo e me conhecer mais. Hoje, por exemplo, cheguei no Jardim Botânico (sozinha) às 8 da manhã e saí meio-dia. Caminhei, quase caí na lama, tentei interagir com os pavões (mission failed), observei os passantes, descansei deitada num banquinho ao lado do roseiral, li um pouco, ri da coroa jogando biscoito de polvilho para os pobres peixes do laguinho (ao lado da placa de "não alimente os animais"), me compadeci de uma debutante sendo fotografada (muito a contragosto, aliás) para um videobook do qual ela vai morrer de vergonha por toda a eternidade. Dolce far niente na veia.
Sair acompanhada é, quase sempre, uma delícia para compartilhar a vida com pessoas queridas (a rima brega não foi intencional), rir, debater etc. Estar só, como eu felizmente acabei descobrindo, também é, mas por outras razões. Ou seja, é apenas uma oportunidade diferente e igualmente rica.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Eco - Jorge Drexler

Esto que estás oyendo
ya no soy yo
es el eco, del eco, del eco de un sentimiento

su luz fugaz
alumbrando desde otro tiempo
una hoja lejana que lleva y que trae el viento

Yo, sin embargo,siento que estás aquí
desafiando las leyes del tiempo y de la distancia
Sutil, quizás,tan real como una fragancia
un brevísimo lapso de estado de gracia

Eco, eco
ocupando de a poco el espacio
de mi abrazo hueco

Esto que canto ahora,continuará
derivando latente en el éter, eternamente
inerte, así, a la espera de aquel oyente
que despierte a su eco de siglos de bella durmiente

Eco, eco
ocupando de a poco el espacio
de mi abrazo hueco

Esto que estás oyendoya no soy yo

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Ressaca moral

É preciso fazer o que se precisa fazer. A percepção lógica das decisões a tomar, aquela lampadazinha que acende de repente na sua cabeça, nem sempre traz paz de espírito imediata. Muitas vezes, descobrir qual a atitude mais conveniente a tomar é apenas o início de um processo doloroso e difícil.
Incerteza, culpa, vazio e dor se misturam num insuportável nó na garganta que demora pra se desfazer. Tudo isso, parafraseando as meninas do 02 Neurônio, constitui a "ressaca moral". Só faltava existir um Engov que fizesse sumir ou pelo menos diminuísse todo esse desconforto.
Afinal, não parece justo: fazer o certo não é bom? Então por que o mal-estar?
Com o passar do tempo e o acumular das novidades na vida, o desconforto vai passando e o contentamento de ter feito o melhor (ou o que achamos ter sido o melhor) termina por nos conformar. Ou seja, a boa notícia é que uma hora passa.

domingo, 14 de outubro de 2007

Inferno astral

Posso até ser meio relapsa, mas tive boas razões para sumir nas últimas semanas. Há muito tempo, sei que tenho certa inclinação para o azar, mas nunca havia passado por uma conjunção de fenômenos estranhos como esta.
Dependendo do meu humor no dia, me imaginei como Jack Bauer, alguma santa com a vida bem atribulada ou personagem de uma sitcom em que acontecem coisas demais e bizarras demais em muito pouco tempo. Esse período esquisito envolveu dois suicídios, três colapsos nervosos, um terreiro de macumba, um incêncio, a descoberta do alcoolismo de alguém próximo, uma reconversão ao catolicismo e um pedido de noivado (não necessariamente nessa mesma ordem).
Alguns eventos não aconteceram diretamente comigo, mas todos me afetaram de maneira mais ou menos profunda. Minha criatividade foi para o limbo e não tem mais corretivo que esconda as minhas habituais olheiras. Assim que estiver mais segura de que essa maluquice toda acabou, eu volto.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Não seria da ignorância pedante?

Algumas frases e palavras parecem ter o poder de cobrir de inovação quem as profere. "Vivemos na era da informação", por exemplo. Junto com "meios técnico-científico-informacionais", é o bambambam das conversas de quem pretende se demonstrar antenado. Já escutei tanto que tenho tiques a cada vez que ouço de novo (apesar de que, vez ou outra, eu mesma caio nesse lugar-comum). Nesse caso, a afirmação já praticamente perdeu o significado e virou um comentário que a gente faz com relação à enorme quantidade de estímulos e produtos culturais aos quais estamos todos expostos.
Afinal, será que estamos tão bem informados assim? Tenho pensado muito a respeito. Que temos acesso a uma quantidade imensa de dados, não há duvida. Os poréns são que poucas são as fontes dignas de confiança, poucos os meios de buscá-las e pouco também é o tempo para assimilar toda essa informação. Ler um jornal todos os dias, trabalhar, estudar e dedicar algum tempo para a vida pessoal (namorar, ver os amigos, descansar) já é um desafio. Estou chegando à conclusão de que fazer isso tudo e se aprofundar em questões políticas, culturais, esportivas, científicas, tecnológicas etc é uma causa perdida. Como estudante de jornalismo, em teoria eu deveria saber quase tudo o que acontece, mas só se eu fosse o Quinto Elemento (lembra da cena em que a Milla Jovovich aprende História?).
Tenho mania de listas. Programação diária (inclusive contando o tempo que passo no metrô ou o que sobra no almoço), orçamento, filmes que quero ver, cursos interessantes, indicações de livros feitas pelos professores da faculdade. Quase todas resultam em nada (se bem que, há pouco tempo, me endividei na FNAC e na Saraiva pra conseguir comprar pelo menos alguns dos livros indicados, só Deus sabe quando vou conseguir lê-los). Da última vez em que tentei me programar para me manter informada, foi uma frustração só. Assinar um jornal, ler duas revistas semanais e duas mensais, ir ao cinema ou alugar um DVD pelo menos uma vez por semana e acompanhar mais a programação da TV revelou-se impossível. Sugiro um abaixo-assinado pedindo um dia com 36 horas (mas para quem?).

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Nem Freud, nem Chico Buarque, Nietsche ou o raio que o parta explica

O legal da atualidade é que todo mundo pode se sentir especial, né? Existem diversas patologias pós-modernas em que todos invariavelmente se encaixam. Ao mesmo tempo em que a sociedade vive sua era mais permissiva, cada ser humano agora se tornou portador de infindáveis fobias, déficits, psicoses, manias e distúrbios.
Cada hora leio alguma coisa diferente a respeito, designações em latim ou grego que eu definitivamente não vou gravar. A culpa, as frustrações, os altos e baixos do comportamento humano, o estado por vezes obsessivo que acompanha um grande interesse, a vontade de estar só, tudo é doença, ameaça à "felicidade integral". É claro que existe aquela história de que qualquer coisa em excesso é prejudicial e motivo de preocupação. Comer demais, de menos, gastar o que não se tem para alimentar a própria vaidade ou desprender-se totalmente dela é sinal de que algo não vai bem mentalmente. Mas sob que parâmetros, me diz?
Estranho também como existem os distúrbios da moda. Transtorno bipolar está super in, por exemplo. Uma amiga uma vez me contou sobre uma menina que fazia tipo dizendo ter "um déficit na química da felicidade". A criatura então "se isolava" para repousar na casa de Teresópolis, mas essa minha amiga sempre a via transitando toda serelepe com os amigos por aí.
Sabe-se lá o que realmente se passa com a tal, mas é só para ilustrar como a tristeza pode ser cult. Isso sem mencionar o fênomeno "emo".
Chega a ser curioso como somos pressionados a alcançar a felicidade suprema e como ironicamente é isso o que nos impele à melancolia. Ao mesmo tempo, nos sentimos frágeis, ansiosos e neuróticos por qualquer inquietação e acreditamos que deve haver uma solução na psiquiatria, algo que explique o que não possui uma explicação lógica e exatamente no momento em que nós, mimados, exigimos.

Prezado mané

Há algum tempo que vem me incomodando a babaquice de certos indivíduos. Com certeza isso acontece desde sempre, mas hoje eu quero falar sobre um caso especial de comportamento Butthead. Eu parto do princípio de que todo mundo merece um voto de confiança e simpatia, então quando conheço e convivo com alguém rio, conto piada, pergunto se a pessoa vai bem. Daí vez ou outra percebo um ogro se estufando todo, se sentindo o gostosão da propaganda do Avanço. Será que eu preciso berrar "não, eu não quero dar pra você" ?!?
What the fuck is your problem, buddy? Não dá pra entender se é auto-estima na sobrancelha do Cristo Redentor ou no fundo do poço da Samara! Por que algumas pessoas não conseguem ter a civilidade de concluir que alguém legal não está necessariamente dando mole, mas simplesmente sendo legal?
Às vezes o mané é tão, mas tão pouco dotado de semancol que mesmo com o meu total descaso insiste (há que se admirar a persistência dos manés) na atitude "Right said fred". Solução de choque: viro aquela namorada mala que só consegue criar frases como "meu namorado é tão fofo, fez sei lá o quê" ou construídas na primeira pessoa do plural, como se eu fosse parte de uma simbiose. Geralmente funciona.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

À beira de um ataque de nervos

Estava eu toda satisfeita voltando para casa depois do trabalho, no 220. Logo depois que sentei no banco perto da saída do ônibus (aquele mais alto, que é o meu preferido apesar dos sacolejos), uma moça sentou ao meu lado. Até aí tudo bem, pas des problèmes. Continuei lendo o meu livrinho tranqüilamente até que...clec. Franzo as sobrancelhas. A menina tinha estalado um dedo. Em seguida, vários clecs. A criatura estava estalando todos os dedos das mãos. E nada me irrita mais que barulho de dedos estalando. Em poucos segundos, eu já odiava a coitada da moça e fantasiava sobre maneiras de separar sua cabeça do corpo.
Pensando bem, sou altamente irritável. Uso "nada me irrita mais que" com infinitas combinações. Não suporto barulho de saco plástico no cinema, evangélicos que crêem na surdez divina, trapos me cantando na rua com criatividade zero, descobrir que não tem doce na geladeira no auge de uma crise de abstinência, grosserias em geral, mensagens de "a sua ligação é muito importante para nós/estaremos lhe atendendo (sic) em alguns instantes", vendedoras plantadas na entrada da cabine perguntando "ficou bom?", caneta falhando, fatal error, gente sem noção que dá pitaco na vida alheia sem ter intimidade.
Quando eu era mais nova, ficava no meu canto porque eu sempre fui meio bicho-do-mato. Agora, aguento até um certo nível (como aquele palhaço dos vídeos do you tube). Do limite para cima, já era. Uma vez eu fiquei discutindo com um indivíduo que estava pregando no meu ônibus. Não tenho preconceito contra religião nenhuma e o ser humano é livre para falar o que quiser. Mas ficar berrando num meio de transporte público em que nem se pode ouvir rádio ou fumar para evitar atrapalhar os outros passageiros é demais. Um mané ameaçou atirar em mim se eu não deixasse o cara pregar. No dia seguinte, contei para as minhas colegas do trabalho e todas elas me olharam como se eu fosse doida. Fiquei sem saber quem era o maluco da história: eu, o crente ou o que ameaçou me matar por causa do crente...
Mas eu também tenho um certo bom-senso (e quem acha que não tem?). Nunca iria chegar pra menina que estava se estalando no ônibus e falar "vou dizer onde você pode enfiar esses dedos". Até porque eu continuo sendo tímida, só reclamo depois de confirmar mentalmente que o barraco é justificável e vale o nervosismo que vai me causar. Isso ou até o meu oscilômetro chegar ao topo.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Poeminha

Te adoro mais que brigadeiro de panela
Que dormir até tarde
Ou que uma sexta-feira no final do expediente

Estar com você é melhor que ver Grey's Anatomy
E seu beijo mais gostoso que brownie com sorvete
Que passar no vestibular

Não prometo que vou te amar pra sempre
Mas sempre que puder
Vou estar pertinho pra te chamar pra um sushi
(ou uma lasanha congelada)

Quando você estava longe
Ficou triste que só essa menina
Mas agora somos nós dois de novo
Oba, até que enfim uma rima!

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

The girlie show

Homem tem mania de ridicularizar grupinho de mulher, né? Como se mulher junta significasse sempre um bando de debilóides que só sabem bater perna e falar sobre futilidades. Não que não existam mulheres debilóides que não tenham capacidade de desenvolver um diálogo mais complexo que a descrição das cores de esmalte que resultaram no tom das unhas mas, em geral, não é o caso.
Fomos acostumadas desde sempre a falar, a expressar tudo o que pensamos e sentimos por meio de palavras. Já os homens foram criados achando que sentimento é coisa de boiola e que essa história de dividir é só pra conta da pizzaria. Então é óbvio que nós falamos pelos cotovelos.
É interessante observar as sutilezas das nossas conversas, porque usamos os assuntos mais banais como meio de atingir temas mais profundos. Começamos perguntando se franja fica legal e terminamos debatendo os nossos planos profissionais a longo prazo. A minha hipótese é que essa é uma forma de aliviar a tensão sobre assuntos mais íntimos, que assim podem surgir naturalmente e ser tratados de maneira mais leve do que quando se estabelece uma conversa com foco pré-definido.
Um amigo, embasbacado com a verborragia feminina, me disse "mulher é um bicho doido: ainda nem entendeu o que está pensando e já começa a falar", e eu até concordo com ele. Porque, muitas vezes, é falando a respeito que conseguimos tirar nossas conclusões, assim como acontece também quando eu escrevo, por exemplo. É simplesmente um processo de compreensão.
Então, machos, eu realmente acredito que falar, falar e falar é bom. Debater, questionar, discordar, se expor, se impor e descobrir sempre algo sobre outras pessoas e principalmente sobre si mesmo (porque só alguém muito estúpido pode afirmar que se conhece por inteiro) é muito bacana. Parem um pouco de rir da nossa cara, experimentem e evitem ser aquele tipo de pessoa atrofiada, ignorante e que está satisfeito com o milésimo que sabe (ou imagina saber).

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Carta para a Jackie

Jackie,

a gente se conhece desde quando mesmo? Lembrei, desde 2004. Mesmo assim, sempre fomos mais íntimas da Tatá, que foi durante muito tempo o nosso elo de união. Há algum tempo (não sei exatamente quanto), começamos a estabelecer a nossa própria história. Hoje, acho que já podemos nos considerar amigas, e não mais amigas-da-amiga.
E agora (Adriana Calcanhoto ao fundo cantando "justo agora"), você vai pra São Paulo. É claro que vamos continuar nos falando por scrap, MSN e Skype (porque ligação interurbana tá cara pra cacete), mas a idéia de que ver você pessoalmente não vai ser mais só questão de marcar o horário pro dia seguinte me deixa meio melancólica.
Por outro lado, fico pensando em todas as coisas legais que esperam por você e aquela ponta de tristeza logo se dissipa. A experiência de começar algo inédito, sair de casa, viver em uma cidade que ferve profissional e culturalmente, o trabalho novo, sem falar naquelas pessoas chiquérrimas vestindo sobretudo por causa do climinha frio, tudo isso compensa.
Não tenho como saber com certeza, mas acho que você combina com São Paulo. Sempre penso em você como "a" mulher cosmopolita, definitivamente uma personagem do Manoel Carlos. Além disso, perco uma amiga do Rio, mas ganho uma anfitriã em Sampa!
Jackie, vou sentir falta das anedotas que você conta com os seus dotes dramáticos e que eu nunca sei se são reais ou inventadas, das explicações mirabolantes para todos os mistérios do universo (afinal, você é a minha coleção completa da Barsa), das dicas super antenadas sobre a programação cultural do Rio, da amiga que se revela inesperadamente doce, até mesmo das crises de hipocondria. Vou sentir saudades de você mais perto.
Mas, quer saber? Vai sem medo. E se descobrir que os paulistas não usam chinelo com meia, não me conte.

"E agora, quem poderá me defender?"

Desde criança, eu adoro Chaves e Chapolin, principalmente o segundo (que era mais criativo e tinha histórias menos repetitivas). Lembro de um episódio em que havia um incrível artefato que servia pra parar o tempo. A mocinha se esbaldava sacaneando os outros e se livrando de um namoro arranjado pelo pai. Se a minha memória ainda não está totalmente senil, o tal artefato era uma buzina, que se pressionada uma vez, fazia o tempo parar (o dono da buzina então podia analisar e mesmo mudar a situação em volta) e, se pressionada duas vezes, colocava o relógio pra seguir seu curso normal de novo.
Nos meus devaneios, dignos do "Fantástico Mundo de Bob", fico imaginando como seria legal ter um de vez em quando. Seria uma ferramenta multiuso: pra tirar um time break quando eu não soubesse o que fazer ou dizer, aproveitar um momento mais um pouco, retirar algo inadeqüado (um alface no dente, por exemplo) do cenário, mandar alguém (chefes, síndicos, atendentes de telemarketing, as opções são infinitas) ir praquele lugar e depois retomar a conversa como se nada tivesse acontecido.
Outra fantasia minha é a de quando eu estou super enrolada numa situação que eu não sei como resolver, o Chapolin vai surgir e me ajudar a solucionar tudo de uma maneira divertida. Vai se embananar um pouco, como de costume, mas vai acabar resolvendo tudo de um jeito bem satisfatório, com o plus das suas pílulas de nanicolina e anteninhas de vinil. Droga de imaginação...

terça-feira, 21 de agosto de 2007

O que eu quero ser hoje?

Hoje estava frio, uma ventania do caramba. Aproveitei pra usar uma jaqueta de couro preta que ganhei da minha tia no fim-de-semana (tinha ombreiras, mas nada que comprometesse muito). Eis que chego no trabalho e ouço comentários desde "vai me dar carona na sua moto?" até "olha como ela tá malvada hoje", tudo por causa da tal jaqueta.
Fiquei pensando sobre como as roupas podem servir de símbolos para certos status e características da nossa personalidade (ou de como queremos parecer). All Star é estiloso, quase um cult: sinal de que o usuário é antenado com a moda, mas não liga para o preço do que veste. Mocassim com aqueles balagandãns prateados na frente é um mal sinal: quem está usando tem alma de nerd e, se puder, vai morar com a mãe pra sempre. Blusa da Q Vizu diz que a pessoa é bem-humorada e in. Vestido florido no joelho mostra uma mulher romântica e natural. Decotão com calça justa é coisa de vagabunda. Bolsa da Kipling é um must, só por causa daquele maldito macaquinho pendurado. E, no meio disso tudo, eu viro uma motoqueira sadomasoquista só por causa da minha jaqueta de couro! Pode uma coisa dessas?

domingo, 19 de agosto de 2007

Quando o impulso vale a pena

Definição de um dicionário online furreca:

"Impulso
do Lat. impulsu
s. m.,
ímpeto;
esforço, estímulo;
acto de impelir;
empurrão;
força que actua durante um intervalo de tempo muito curto;
Fisiol.,
sinal conduzido ao longo de uma fibra nervosa na forma de uma onda móvel de natureza eléctrica;
Psic.,
força de origem biológica que provoca a actividade psicomotora do Homem e dos animais."

A primeira pergunta diz respeito ao título: e quando é que o impulso não vale a pena? Pra mim é quando a gente não pára um segundo sequer sobre o que vai fazer ou falar. Mas se a gente pensa, é impulso? Bem, pode ser (daí começa a parte do "quando o impulso vale a pena"). Às vezes a gente pensa, repensa, analisa tanto que não sai do lugar, porque sempre existe algum motivo (por menor que seja) para não agir. Então prefiro pensar um pouco, avaliar conseqüências, aceitar uma dose de risco e ir em frente. Principalmente quando é algo que você sente que tem que fazer, que vai se arrepender e se achar uma idiota até a próxima era glacial se não fizer. Pensando agora pela definição do dicionário, qualquer atitude tem uma dose de impulso. A gente é que usa como desculpa de vez em quando pra fazer merda.

" When you say 'yes', amazing things happend "!

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Good morning,heartache

A falta que você me faz é traiçoeira. Se esconde no escuro e nos cantos, chega sorrateira. Quando eu penso que foi embora, ela me envolve de novo, me esmaga, me deixa sem ar. Só sabe me deixar fraca.
Mesmo quando me alivia mantendo certa distância e eu me iludo acreditando que talvez ela não volte dessa vez, continuo receosa pensando: será que ela foi mesmo?
Mas não foi. Que amarga a sua herança!

domingo, 12 de agosto de 2007

Dia branco

O despertador do celular tocou às 7:30 (porque eu havia planejado ir à praia) e aquele pipipi me causou uma mistura de desânimo e conforto por lembrar que, pelo menos hoje, eu poderia desligá-lo sem maiores conseqüências (não que manter minha palidez cadavérica não fosse algo alarmante).
Ainda deitada, abri uma brecha da janela e vi que o céu estava nublado. Puxei o edredom por cima dos ombros de novo, sorri satisfeita e voltei a dormir. Às 9:15, levantei e fui arrumar a bagunça do quarto, lavar roupa, jogar fora papéis inúteis etc.
Assisti a um filme que eu não canso de ver (Colcha de Retalhos) no Telecine Light e depois a alguns seriados do Sony. Almocei esparramada na poltrona da sala vendo Desperate Housewives. O ritual seria entediante em qualquer outra situação, mas ter um dia na semana em que não tenho que seguir o cronograma e posso fazer o que eu quiser quando eu quiser é quase uma sessão de shiatsu.
Como as férias da faculdade ainda não acabaram, não preciso me concentrar em passar o dia estudando. São 15:40 e ainda não tomei banho. Estou descabelada, mal vestida, com os pés imundos de tanto andar descalça pela casa e feliz da vida.
Parece que domingo é um dia feito em homenagem à preguiça, né? Lojas e serviços fora de funcionamento, reprise dos melhores seriados no Sony, as frotas de ônibus e metrôs diminuem, os shoppings abrem mais tarde.
Curtir esses momentos de ócio a dois tem os seus atrativos e eu bem que sinto falta deles de vez em quando, mas estou redescobrindo o prazer de dedicar o domingo inteirinho para mim. Autocentrismo? Pode ser. Segunda-feira eu penso nisso.

sábado, 11 de agosto de 2007

Sessão de descarrego

What You Are
(Audioslave)

And when you wanted me
I came to you
And when you wanted someone else
I withdrew
And when you asked for light
I set myself on fire
And if I go far away I know
You'll find another slave

(chorus)
Cause now I'm free from what you want
Now I'm free from what you need
Now I'm free from what you are

And when you wanted blood
I cut my veins
And when you wanted love
I bled myself again
Now that I've had my fill of you
I'll give you up forever
And here I go, far away
I know you'll find another slave

Then a vision came to me
When you came along
I gave you everything
But then you wanted more

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Mais uma velinha

Eu pensei em não escrever sobre isso, porque o assunto é bem clichezão e pessoal até dizer chega. Mas não dava pra deixar a tradicional reflexão pré-aniversário de fora do blog.
Apesar de algumas turbulências recentes que os íntimos (ou nem tanto, devido à cara inchada de choro que nem o Duda Molinos disfarçaria) conhecem , cheguei à conclusão de que houve muito mais pontos positivos que negativos do ano passado pra cá.
Comecei a trabalhar num lugar que eu adoro, estou gostando cada vez mais da faculdade (ainda mais depois do congresso de jornalismo investigativo, em São Paulo), consegui começar cursos que eu já queria fazer há um tempão, um namoro em que o cara exigia muito de mim e fazia muito pouco chegou ao fim, consolidei amizades com pessoas incríveis, estou elaborando planos legais para o futuro (além do de dominar o mundo, é claro).
Acho que o único porém é o de ter pouco tempo disponível para me dedicar à faculdade, mas tenho a fantasia de que um dia vou ser uma daquelas mulheres ricas e independentes do Manoel Carlos. Daí vou me dar ao luxo de exercitar o ócio criativo pedalando entre tulipas holandesas sem a menor pressa (desculpem o devaneio, mas meus dois amores secretos são as novelas do Manoel Carlos e as tramas mexicanas do SBT).
Voltando para o balanço desses últimos dias antes de completar 22 aninhos (vixe, o que me lembra de um pacto que fiz com uns 15 anos de casar com um amigo meu se a gente continuasse solteiro aos 25). Também tenho tido crises de consciência pensando no que eu posso fazer de realmente construtivo para o mundo (em relação ao aquecimento global, à futura falta d'água, à miséria etc). Vivo tendo pesadelos em que estou me afogando num tsunami, um horror. Sim, eu sou meio neurótica.
Meu irmão começou a falar por si só (sem repetir o que a gente fazia ele dizer) e agora está empenhado em acertar palavras com "r". Na última vez em que a minha mãe veio passar o fim de semana aqui em casa, ele travou umas quatro vezes tentando dizer "professor" até a palavra sair certa. À medida que essa evolução foi ficando mais marcante, comecei a pensar mais preocupadamente sobre o futuro dele. Considero responsabilidade minha educar e dar mais chances para ele se desenvolver, e às vezes fico com medo de não conseguir dar conta. Paciência, o moleque ainda tem 3 anos e eu espero me tornar uma mulher do Manoel Carlos em breve.
Ah, descobri Grey's Anatomy! O seriado médico mais legal, com as melhores músicas na trilha e com, benza Deus, o Dr. McDreamy para deixar em êxtase as telespectadoras assíduas do Sony (nem a enjoada da Meredith consegue estragar o par romântico de tão fofo que ele é).
Depois de mais de 2 anos com um violão parado (não que eu esperasse que ele saísse andando pela casa, foi só jeito de dizer) perto da mesa do computador, resolvi finalmente chamar um amigo pra me dar aulas. Por enquanto estou me sentindo uma retardada musical, mas ontem consegui emendar 3 acordes e fiquei toda boba.
Estou num esforço espartano para não guardar mágoa, ter opiniões inflexíveis, descontar raiva à queima-roupa e desanimar quando algo não acontece como eu esperava (em vez de ligar o foda-se pro mundo). Também descobri os fins terapêuticos do palavrão. De sair pra dançar com os amigos também (nada supera fazer o twist do Pulp Fiction com a Tatá).
Bem, a 4 dias do meu aniversário dá pra dizer que estou bem animada comigo e com a situação atual (ainda mais hoje, que tive um wake up call daqueles). Dessa vez eu quero comemorar, de verdade.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Agora em ponto

Viva a diferença! Ou não? Não estamos num ponto de evolução social em que conseguimos aceitar cada indivíduo com as suas particularidades? Que cena linda, todos nos damos as mãos e rumamos felizes em direção à tolerância (sem trocadilho com "casa de tolerância", que nem se diz mais).
Então por que todo mundo ainda teima em dizer que está no tempo certo disso ou daquilo? Para alguns aspectos concretos, realmente existe o tempo ideal ou mais indicado. Mas não entendo a cara-de-pau que é dizer a alguém quando já se atingiu o limite de sentir ou deixar de sentir algo.
Se já passou um ano e o viúvo continua triste pela morte da esposa com quem viveu 45 anos, já empurram o coitado para o baile da terceira idade do clube da esquina.
Quando a mãe continua enchendo a casa com fotos do filho já falecido, um belo dia ela vai chegar e os retratos vão estar escondidos em cima de algum armário.
A garota que ainda não se sente bem para namorar de novo se vê rodeada de gente dizendo que tudo o que ela precisa é se envolver com outro cara. Chovem encontros arranjados e gente querendo apresentar "um amigo simplesmente perfeito".
Mais do que cara-de-pau, é um desrespeito aos sentimentos alheios. E o pior é que a pressão externa é tão intensa que quem "parou no tempo" começa a se sentir até culpado pelo que sente. Porque sofrer é uma aberração, algo que deve ser evitado e afastado a todo custo.
Será que é tão abominável assim aceitar que não há padrão para o sofrimento? Diante de situações semelhantes, cada pessoa tem uma reação diferente. Em "Munique", Avner (personagem do Eric Bana) volta da missão de vingar os atletas israelenses mortos nas Olimpíadas com o psicológico destroçado. Mas também poderia ter chegado em casa, nunca mais pensado nos assassinatos dos quais participou e seguido normalmente com a vida (o filme é supostamente baseado no relato de um agente do Mossad que teria participado da operação).
O que alguns chamam de superação eu chamo de escapismo, tanto do que cinicamente tenta controlar os sentimentos do outro quanto do que se esconde sorrindo por não se dar a chance de agir conforme o próprio tempo.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Alguma matéria quebradiça


É raro eu acordar de manhã lembrando do que sonhei. Das últimas vezes em que aconteceu, eu estava tendo sonhos recorrentes sobre algo que eu desejava muito. À medida que o sono ia se dissipando, eu percebia que nada daquilo era real e ficava numa melancolia só.
Há pouco tempo, me deparei com um fato severo sobre as nossas certezas: o de que elas são imensamente mais frágeis do que se possa imaginar. São muito parecidas com os sonhos bons. O grande amor que termina de repente, a pessoa que morre, o acidente, a amiga que se revela desleal, a saúde.
Para manter um nínimo de sanidade, nos acostumamos a acreditar na estabilidade de certos aspectos da vida, e é isso que causa o choque quando algo totalmente inesperado acontece. É como ver tudo o que se considera seguro ruir; é despertar de um estado de torpor, o qual se revela saudosamente confortável.
Quando algo realmente significativo muda abruptamente, nos sentimos indefesos, acuados, sem saber o que fazer. Mas sabe aquela história de que o tempo é o melhor remédio? Deve ser verdade. Aos poucos, mesmo sendo mais cautelosos para evitar aquela agonia de novo e podendo surgir características novas no modo de vida, a confiança vai voltando e a rachadura na nossa carapaça é reparada.
Nos acostumamos novamente. Fico pensando então, se o tempo, ao invés de cura, não seria na verdade a droga, o ópio que embala os nossos sonhos. Ao mesmo tempo, imagino como seria viver tendo plena consciência de tanta delicadeza. Viveríamos todos em pânico, isolados uns dos outros e paralisados pelo medo. A realidade simplesmente inviabilizaria a vida social!
A fantasia em certa medida, que curioso, é vital. Simplesmente precisamos dela. Quando somos crianças e pedimos colo para a mãe, quando estamos apaixonados por alguém ou fazemos planos para o futuro a base é a construção que fazemos da realidade, é tudo aquilo que parece certo. E sem essa ilusão, não conseguiríamos superar os traumas provocados, quem diria, justamente por ela.

Damien Rice e eu



And if there's someplace else you'd rather be
Then go, then go

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Elenco de apoio do Fellini

Sei que qualquer pessoa pode dizer esquisitices sobre a sua vizinhança. Sempre tem o casal animadinho que passa a noite fazendo sons suspeitos, a mulher que abriga mais gatos que a SUIPA, a família que vive quebrando o pau e o sem-noção que deve ser meio surdo e ajusta sempre o volume do som no 30.
Tudo bem, de perto ninguém é normal. Mas tenho sérios motivos para acreditar que o meu condomínio é o que reúne os indivíduos mais bizarros e caricatos por metro quadrado na Terra. Tem um cara que, sempre que alguém faz gol num jogo, berra : "Vasco é vasco!!!". Não importa quais times estejam em campo. A partida pode ser Itaquacetuba do Norte x Íbis que o mané declara (aos gritos) seu amor pelo time do coração.
Ainda na categoria futebolística, há uma moradora de uns 40 anos que não resiste a gritar "Meeeengooooo!", dar play no cd com o hino do rubro-negro e xingar a torcida rival sempre que a Globo tem a infeliz idéia de transmitir um jogo (ao menos ela se contenta em só pirar nos jogos do Flamengo). A maluca tem um filho da minha idade. Acho que ele tem problemas mentais (sério), mas nem o meu senso de humanidade suporta quando ele liga o som no último volume e fica cantando músicas infantis e temas de desenhos japoneses a tarde toda, todo santo dia (devo ter ganho vários pontos na minha tabelinha cármica da última vez em que peguei uma virose e não fui trabalhar).
Isso sem falar no anão tarado (sim). Quer dizer, não sei se ele é tarado mesmo, mas quando eu era criança, ele era tipo o homem do saco para a pirralhada e mesmo eu agora sendo uma mulher madura (huahauahauahauha), saio correndo se encontrar com ele na escada.
Ah, e como eu posso ter esquecido desse (suspeito que talvez tenha sido um bloqueio mental)? Obrigada por me lembrar, Tatá. No meu andar, vez ou outra estou esperando o elevador e ouço uns gemidos vindos de um dos apartamentos. Como o elevador não chega e eu sou curiosa mesmo, me aproximo da porta. O som está alto. Mais gemidos e oh, yeahs abafados. O morador (e, como eu nunca vi o indivíduo, por que não "a moradora"?) deve ser a primeira pessoa que eu conheço que assiste um pornô e não coloca a TV no mudo ou, pelo menos, num volume bem baixinho.
E como não poderia deixar de ser: yes, we have barracos! Era uma vez uma menininha de 10 anos chamada Luanda. Num belo dia de sol, ela está andando em volta do bloco B com sua amiga Carol. Eis que as duas menininhas vêem um filtro de barro aos cacos no chão. Que tipo de pessoa, discutindo com seu cônjuge, resolve jogar um filtro de barro pela janela? Sempre fico imaginando como seria humilhante e indigno caso alguém morresse atingido por ele.
Uns dois andares abaixo do meu apartamento, tem um mané que faz happy hours com os amigos em plena quinta-feira. Tenho que reconhecer que o indivíduo até que tem bom gosto (sempre rola U2), mas começo a desenvolver fantasias homicidas quando estou estudando para alguma prova fuderosa da faculdade e tenho que me concentrar ao som de uhuuuuus a poucos metros do meu quarto.
Ainda há a Dona Elza. É uma senhora bem velhinha, que está toda noite cercada de sacolas do Mundial dormindo no sofá da portaria. Tenho pena, ela deve se sentir sozinha em casa, então prefere ficar lá, onde pode ver gente passando. Mas que é esquisito, é.

Je veux seulment l'oublier

Geralmente considero qualquer divindade uma invenção do ser humano como reflexo do subconsciente. Não tenho certeza da existência de Deus, ou de alguma entidade superior e onisciente com passe livre para interferir sabiamente sobre tudo o que existe na Terra. Mas hoje eu queria muito acreditar nisso, ter fé sem reservas ou dúvidas. Pensar que há alguém que sabe exatamente o que estou sentindo e pode apagar essa angústia filha-da-puta que não passa.
Que é só eu pedir, mentalizar (credo, que new age), crer e pronto. Não entendo muito bem como funciona o processo: seria uma troca? Mas o que então Ele receberia que pudesse se equiparar aos benefícios concedidos? Acho que o pensamento tradicional é de que Ele é uma espécie de pai de toda a Humanidade que ama todo mundo incondicionalmente, sendo justo com a prole. O que quer dizer que se você é um filho legal, ganha a sua Caloi no aniversário. Se não, Ele corta a sua mesada e você vai ter que juntar o dinheiro do lanche até dar pra comprar a tal da bicicleta. Às vezes, mesmo você agindo certo (seja lá quais forem os padrões pra isso), Ele quer que você aprenda alguma coisa. Então dificulta a sua vida pra você descobrir um jeito de se virar. Talvez eu me encaixaria na última opção, da filha legal que se fudeu aparentemente sem motivo. Acho que estou seguindo os passos certos, mas a angústia continua, os pensamentos que eu quero evitar ainda estão aqui, indo e vindo nos momentos mais inconvenientes. Não tem conselho, time out, livro ou sei lá que outras coisas tenho inventado pra ocupar a cabeça que faça passar. Daí é que vem “je veux seulment l’oublier” : “eu só quero esquecer”. Se eu pelo menos tivesse fé podia ser que facilitasse...

domingo, 5 de agosto de 2007

De praxe

De onde veio a idéia de, num domingo às 22:20, fazer um blog? É clichê. É palavrinha da moda, mas lá vai: compartilhar. Eu tenho uma necessidade vital de escrever, que parece às vezes a única maneira de desfazer o nó na minha garganta. Por que não deixar que outras pessoas leiam o que eu escrevo e participem em algum nível? Quem quiser pode criticar, discordar, dizer o que for. Então, puxe uma cadeira, que eu vou ali na cozinha fazer um Nescau pra gente e já volto. A casa é sua.