domingo, 29 de junho de 2008

Da janela

Pensando no futuro, não faço um mapa completo e detalhado, não idealizo mais supondo que o que quero hoje acontecerá exatamente como eu espero. Mesmo porque o que eu quero nem sempre é o meu desejo de um segundo à frente. Penso agora apenas no que é indispensável, no que me parece básico para sobreviver feliz.

Por exemplo, quero amigos sempre por perto, poder ligar tarde da noite para alguém sem embaraço, marcar sessões-pipoca para o fim-de-semana e ter conversas sinceras. E um amor de verdade, daqueles que unem tesão, afinidade, cumplicidade, planos em comum e querer bem. Dos que se transformam, mas não desvanecem no tempo.

Hum, e dinheiro? Não imagino ser rica ao estilo do Tio Patinhas (quer dizer, imaginar eu imagino, mas convenhamos que a possibilidade de ser atropelada por uma vaca é maior), mas quero o bastante para não viver contando os trocados. Algo que segure as contas, uma casa só minha, os estudos e as vontades que eu tiver (de viajar, jantar fora quando der na telha, me dar algo de presente).

Um trabalho que me satisfaça, no qual eu até me aborreça de vez em quando, mas que no geral seja o melhor que eu saiba fazer, algo que não me faça perder o entusiasmo. Hoje só me vejo como jornalista, especialmente de cultura, escrevendo, produzindo, apurando, colaborando, o que for.

Lembrei de algo fundamental: um cachorro. Labrador? Hum, aí depende do tamanho da casa. Uma rede seria bom também (afinal, nada mais gostoso que ficar se balançando na rede com só a ponta do dedão de um pé no chão). Livros, muitos livros, numa estante com sempre alguma opção interessantíssima para o domingo à tarde. E escutar sempre boa música, ao vivo ou gravada. Ah, e quero finalmente aprender a tocar violão.

Acho que só.

sábado, 14 de junho de 2008

Deixa estar

Com o imperativo contemporâneo máximo"do it", contrariar suas próprias vontades pensando num benefício maior não parece certo. Não se sente como certo se desligar de situações que correspondem aos seus desejos imediatos mas em que se pode enxergar a dor logo ali na próxima esquina. Quando tomamos decisões baseadas no que sentimos queimando no fundo da alma, tudo parece tão mais correto do que quando nossas escolhas são racionais o bastante para se oporem ao que desejamos...

Um dos grandes desafios à maturidade é aceitar que não se pode ter tudo o que se quer ou, pelo menos, no momento em que se quer. A reação mais natural é voltar aos tempos de criança e bater o pé, dizer que quer e ponto, gritar, espernear, se sentir frustrado e fazer cara feia para um mundo feio e injusto. Humpf.

Outra opção, menos catártica porém mais instrutiva, é tentar entender o caso de forma mais ampla (além da circunferência do seu próprio umbigo, convém dizer): se você já tentou uma, duas, cem vezes seguir por um caminho que acaba se revelando sem saída, talvez seja melhor voltar ao princípio e repensar se não está na hora de seguir outro rumo. Mesmo tendo quase certeza de que aquele outro era o melhor, que talvez haja uma passagem escondida em algum cantinho que você (idiota) não viu ou que talvez você
simplesmente não saiba mais como voltar.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Mais um 12 de junho

As papelarias foram invadidas por uma enxurrada cor-de-rosa com coraçõezinhos cobertos de glitter (onde foram parar os cartões de aniversário?). Nas vitrines das lojas, casais lindos e sorridentes tentam convencer os passantes de que o amor de seus respectivos vai aumentar proporcionalmente ao valor da próxima fatura de seus cartões de crédito. Aquelas mesmas matérias na TV, com solteiros procurando "o grande amor" e com dicas de presentes ou programas para a data.

E o pior é que esse clima todo de "vamos celebrar o amor acompanhados e tomando vinho tinto, de preferência" pega a gente. Eu já passei muitos Dias dos Namorados solteira e hoje em dia, levo muito mais naturalmente do que há alguns anos, mas ainda fico me sentindo café-com-leite na brincadeira quando passo o dia sozinha. É uma data simbólica e comercial (uma vez ouvi que ela foi literalmente criada porque junho era um mês fraco para as vendas), mas já faz parte da nossa cultura e acabou adquirindo um significado.

É como um aniversário: o dia em que se declara trégua para a pieguice. Podemos dizer o quanto alguém é especial, presentear a tal pessoa com palavras doces, cartões ou algo pensado especialmente para ela. O dia em que queremos ser lembrados do quanto somos queridos. Duvido que haja uma pessoa sequer que não fique chateada quando ninguém liga no seu aniversário. Quando alguém lembra, é o céu. Quando você só escuta o cri cri dos grilos, se sente o último ser humano na Terra. Com o Dia dos Namorados, a sensação costuma ser parecida, com o agravante de que tudo na cidade reafirma que você está só (lero-lero), enquanto buquês, sacolas, sorrisos de orelha a orelha e mãos dadas se multiplicam pelas ruas.

Nessas situações, eu me pergunto: "o que Carrie Bradshaw faria?"

domingo, 1 de junho de 2008

E o outono na Tijuca é quase glacial

Meus dedos dos pés estão congelando nesse domingo em que os cariocas se recolheram debaixo de seus cobertores para evitar os 16° que fizeram a tão esperada praia do fim-de-semana ir para o beleléu. Passei o dia inteiro entre o computador, a geladeira (usando a desculpa de que preciso de reserva adiposa para suportar o frio) e a TV (afinal, domingo é o dia de reprise de todos os seriados bacanas).

À noite, decidi passar no Café Baroni para tomar um capuccino (que sinto um desejo louco de beber sempre que esfria) e comer um brownie com sorvete (no frio, no calor, no nem frio nem calor, sempre é o ponto alto do meu dia).

O cenário é atípico: pessoas de cachecol, botas de cano longo, golas rolê, sobretudos. Algumas parecem ter sido pegas de surpresa pela baixa temperatura e amontoam peças de roupa na tentativa de aquecer o corpo. As cores claras no vestuário demonstram como o carioca é pouco afeito ao frio. O shopping bem mais vazio que o habitual (ufa!) também.

Subindo para ver a programação do cinema, vi um rapaz perto das escadas rolantes com um buquê nas mãos. Fiquei imaginando qual seria a ocasião; seria aniversário de namoro, primeiro encontro, uma delicadeza sem motivo (particularmente a minha idéia fantasiosa preferida)? Nada de muito interessante no cinema. Quando descia, o mesmo rapaz ainda estava lá, mas já havia entregue as flores a uma menina de expressão meiga, que parecia desconcertada e encantada com o agrado. Uma graça, mas deu aquela pontinha de melancolia, aquela idéia de "ah, eu também quero...".

Voltando para casa, aquela paisagem urbana típica de dias chuvosos: meia dúzia de gatos pingados, a calçada molhada e cheia de poças estrategicamente posicionadas para respingarem nas calças dos distraídos, os moradores de rua encolhidos sob as marquises. Vontade de pés juntinhos debaixo do edredom e preguiça compartilhada.