segunda-feira, 30 de março de 2009

Pornô romântico

"Cara, então o Kevin Smith é o Silent Bob?!", pensei ontem quando finalmente descobri, por acaso, a identidade nem tão secreta do personagem de filmes que eu adoro, como Procura-se Amy e Dogma. O primeiro, inclusive, eu tenho em VHS (love ya, Matt). O que eu já sabia sobre Smith é que ele é o diretor dos filmes citados e que agora está em cartaz com Pagando Bem, Que Mal Tem? (em que está apenas atrás das câmeras). Eu estava morrendo de vontade de assistir e, tadá, desejo finalmente satisfeito. 

Tem gente que torce o nariz pra besteirol e acha que comédia só vale a pena mesmo ser for de "humor inteligente, tipo Woody Allen". O que esse pessoal não sabe é que tem, sim, como ser bobo e inteligente ao mesmo tempo; fazer piadas escatológicas e politicamente incorretas sem cair no óbvio ou no constrangedor. Não que não haja clichês no filme. Afinal, todo mundo já sabe o que vai acontecer quando Zack e Miriam, apenas-amigos-desde-sempre, resolvem unir forças em um projeto radical pra tirar os dois da lama. 

Imagine que você não tem dinheiro pra nada. Cortaram a sua luz em pleno inverno e a sua água bem na hora de tirar o xampu do cabelo. Suas partes íntimas foram filmadas por descuido e o vídeo amador agora é um viral do You Tube. A solução do casal protagonista, que está na casa dos 30 sem nada do que imaginava na época de escola (hello, futuro) e divide aluguel e dezenas de contas atrasadas, está longe de ser convencional: fazer um filme pornô de baixíssimo orçamento. O título em inglês é bem no estilo "desisto, deixa qualquer coisa então": Zach and Miri Make a Porno.

Como Zack e Miri, estão Seth Rogen (o gordinho de Ligeiramente Grávidos e O Virgem de 40 Anos) e Elizabeth Banks. Apesar de os dois segurarem super bem o filme, os coadjuvantes garantem uma grande parte da graça. Atores como Jason Mewes (o Jay, dupla de Silent Bob, aqui no papel de Lester), Craig Robinson (Delaney, o amigo que topa bancar a produção) e a pornstar Traci Lords rendem aquelas risadas de fazer pifar um diafragma. Ótima pedida pra rir bastante e curtir uma comédia romântica que é, de um jeito incomum e despudorado, o que Pagando Bem, Que Mal Tem? é. E uma dica (love ya, Matt parte II): só saia do cinema depois que os créditos acabarem.

sábado, 28 de março de 2009

A Guerra Fria, um broche manchado de sangue e um comediante morto

Não sou lá muito fã de filmes de ação mas, por algum motivo, adoro os de super-heróis. Esses dias fui ver Watchmen e adorei, com a única ressalva de que até a maior obra-prima do cinema fica meio cansativa com três horas de filme. Fora isso, a produção impressiona e não é pouco. A direção é de Zack Snyder, o mesmo de 300, outro achado entre os filmes do gênero.

Os efeitos e as ótimas cenas de luta já deleitam aqueles que curtem uma pancadaria de qualidade. E a trilha sonora... ai, a trilha sonora... Nat King Cole, Bob Dylan, Billie Holiday e Janis Joplin são apenas uma amostra do que se pode ouvir, extasiado, nas cenas. Hallelujah, do Leonard Cohen, numa cena de sexo? Quem iria imaginar... 

O filme se passa nos anos 80, em meio à paranoia americana de um cataclisma nuclear provocado pela União Soviética. Os super-heróis estão aposentados da luta contra o crime e vivem incorporados ao sistema. Alguns, tanto da nova geração quanto da anterior, já morreram. Quando o Comediante é assassinado, o sinistro Rorschach decide reunir os antigos colegas para lutar contra o que acredita ser uma ameaça ao grupo. 

Nos passos do Homem-Aranha e do Batman, o mais fascinante aqui são os conflitos humanos, que aproximam os personagens de indivíduos reais e com problemas muito mais difíceis de solucionar que um super-vilão obcecado por dominar o mundo,  como a frustração no casamento, uma timidez paralisante, o preconceito da sociedade, o alcoolismo ou a falta de atenção do parceiro durante o sexo. 

Ah, sim, e pra quem ficar quebrando a cabeça pra descobrir de onde conhece o ator que faz o tal Comediante (Jeffrey Dean Morgan) e também for viciado em seriados de TV, ele era o Denny Duquette de Grey's Anatomy.  O site oficial é bem bacana pra conhecer curiosidades sobre a produção, os quadrinhos que deram origem a ela e para assistir a trechos do filme.

sábado, 21 de março de 2009

"Come on raaaain down on me"

Depois de muito me torturar pensando se ia ou não ao Just a Fest (Los Hermanos + Kraftwerk + Radiohead) graças ao preço do ingresso, na tarde de ontem resolvi jogar de vez a liseira pro alto e ir. Lá fui eu desembestada pra comprar o ingresso antes de a bilheteria fechar e entrei, pela primeira vez, na Apoteose. Engraçado ter sido por algo que não tinha nada a ver com Carnaval.  

A princípio, fui principalmente por causa do Los Hermanos, já que sabe Deus quando eles iriam se reunir de novo, mas os três shows foram uma grata surpresa. A acústica do local, que eu imaginei que devia ser horrorosa, super deu conta do recado, pra começar. Os grupos tocaram sem grandes atrasos e, tirando a falta de lixeiras (o que fez com que, no final dos shows, a Apoteose ficasse parecendo o aterro de Gramacho) e o preço dos comes e bebes (hein? 6 reais por um sanduíche natural?), não vi o que criticar da organização do evento.

Acho que acabei indo com uma expectativa muito grande para os Hermanos, que fizeram uma apresentação boa, mas não ótima, excepcional, cataclísmica, como eu esperava. Como os integrantes haviam prometido, a banda preparou um setlist bem variado (de "A Flor" a "Morena") e longo para o padrão de um festival. Será que eles atendem ao pedido em coro de "volta, Los Hermanos!" e decidem terminar o tal recesso por tempo indeterminado?

Teve um pessoal que desanimou quando o Kraftwerk entrou no palco e a pista esvaziou bastante, mas eu tava lá eufórica com a apresentação. Fora o básico (que eles são os pais da eletrônica e blá blá blá), eu conheço bem pouco do som dos alemães, então foi a oportunidade perfeita de ouvir e ficar curiosa pra procurar por mais. "Musique non stop" e "The Model" foram as que empolgaram mais. Achei duca os efeitos de palco, os macacões (quero um daqueles com listras verdes que brilham!) e os vídeos dos telões, que exibiam imagens de modelos dos anos 40, trens a vapor, a corrida de bicicletas Tour de France e muito mais.

Quando terminou o show, uma muvuca invadiu a pista e começou a se posicionar para o gran finale, com o Radiohead. Eu nem sou lá tão fã assim da banda, mas a apresentação foi, em uma palavra, catártica. O duende Yorke, muito mais simpático e descontraído do que eu podia imaginar, levantou o público por mais de duas horas. Até "Creep" eles tocaram.

Meia hora depois do show, eu ainda não havia saído do transe e continuava berrando trechos de "Paranoid Android". A iluminação do palco e a filmagem exibida nos telões completaram o que já estava incrível. E olha que eu fui agredida por uns brucutus, queimada no dedinho com cigarro e tomei um banho de um vendedor de água, o que, em circunstâncias normais, teria acabado com o meu bom humor. Ainda bem que a música, mais uma vez, salvou a noite.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Escutando "Caminhos Cruzados"

Agora eu só quero um que me trate bem. Que me leve pra um cinema e depois pra jantar. Com quem eu ria gostoso vendo TV até bem tarde e acorde de conchinha no sábado só depois que o sono acabar. Que me faça ter vontade de ligar pra dizer "tava ouvindo uma música e lembrei de você" sem aquele receio de colocar o cara pra correr.

Não quero mais a tormenta, a instabilidade, o frio de medo no começo. Quero combinar uma viagem pro final do ano. Vontade danada de balançar a dois na rede, esperando o sono vir,  escutando o barulhinho bom que o gancho faz... 

sábado, 7 de março de 2009

Curiosidades de Buenos Aires

1- Cadeirante (e turista com mala de rodinhas) se fode

Não se veem rampas de acesso quase em lugar nenhum. No metrô, então, nem se fala, são escadas fixas que não têm mais fim.

2- Onde estão os negros?

Quarta-feira, esperando a minha estação do metrô chegar, comecei a sentir que faltava algo naquele cenário. De repente, percebi: só havia gente branca ou, no máximo, com cara de índio por lá. Dali em diante, fui andando alarmada pelas ruas, procurando, e nada. Os únicos negros que eu vi até o fim da viagem eram turistas e, mesmo assim, muito poucos. Tá certo que deve ser pela forma de colonização do país, mas ainda assim é muito esquisita aquela alvura toda.

3 - Os barbeiros da cidade devem passar fome

Quase todos os homens jovens parecem que cortaram o cabelo em casa, no mais autêntico estilo "peguei-a-tesoura-de-costura-da-minha-mãe-pra-ver-no-que-dava-e-ficou-assim". Mullet tá super na moda por lá, isso quando os cabelos não se assemelham a uns desordenados ninhos de passarinho. 

4 - Os portenhos amam pombos

Enquanto aqui a gente tem pavor de pombos pelas doenças que os bichos podem causar e acha que eles são ratos que voam, lá eles são tipo pets. Nas vezes em que passei pela Plaza de Mayo, havia pessoas pegando as aves nas mãos, deixando que pousassem numa boa nos dedos e tinha até um pai todo orgulhoso vendo o filho sacudindo um pombo de ponta-cabeça, pelo rabo. Pânico.

5 - Os caras de lá são galanteadores

A vida de uma mulher andando nas ruas do Rio pode ser deprimente. Os comentário supostamente elogiosos dos passantes são de "gostosa" pra baixo. Lá, se ouve muito mais "hermosa" (que seria um muito mais gentil "bonita"). Isso quando os caras não puxam conversa do nada e se oferecem pra pagar uma bebida.

6 - Os motoristas de ônibus são os seres mais inocentes do mundo ou os portenhos são muito honestos

Quando se entra num colectivo, o valor da passagem aumenta de acordo com o trajeto que se vai percorrer, além do fato de não haver roleta. Com a cara-de-pau de muitos dos nossos compatriotas, tenho certeza de que a prática não ia dar muito certo por aqui. Pra pagar mais barato, malandro ia dizer que ia descer logo na esquina quando, na verdade, fosse ficar só no ponto final. Isso quando não desse um balão no motorista pra não pagar a passagem. 

7 - Mania de pomelo

O pomelo é uma fruta super ácida, prima da laranja, que é usada como sabor de tudo quanto é bebida de lá. É refrigerante, Gatorade, suco, tudo sabor pomelo. Provei uma Aquarius e me arrependi profundamente. É de beber fazendo careta.

8 - Ai, o doce de leite...

Já tinham me falado que o doce de leite deles era um espetáculo, mas eu continuava incrédula, pensando que nada podia ser melhor que o nosso de Minas. Ledo engano: é uma maravilha mesmo. Tanto o doce em si quanto o helado de dulce de leche granizado (da sorveteria Freddo) são imperdíveis. 

9 - Reações adversas do intercâmbio cultural

Depois de visitar um museu, fui dar uma volta no shopping do bairro. Entrei numa loja e, enquanto olhava as araras, comecei a ouvir uma melodia conhecida. Eu não conseguia lembrar de que música era, até que começou o refrão:

y se pega la boquita a la botella
(en la boca en la botella)
encima la boquita en la botella,
(en la boca en la botella)

Não! Era impossível, seria terrível demais... Mas não dava pra negar, era mesmo uma versão em espanhol para "Na Boquinha da Garrafa".

10 - Não adianta tentar se misturar: todo mundo saca que você é turista

No início, bem que eu achei que o meu Espanhol dava pra enganar. No entanto, bastavam 5 segundos de conversa com um local pra escutar "Y de que parte de Brasil eres?". Só consegui me sair melhor quando fui comprar uma bebida no bar de uma casa noturna, já que não se ouvia o meu sotaque por causa da barulheira e os atendentes devem entender os pedidos por leitura labial. Voltei muito mais solidária com os gringos que cortam um dobrado aqui tentando desenrolar o Português.