quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Epifania no cinema


Hoje, para aproveitar a última semana de cinema nacional a preço de pastel com refresco, vi "Romance" e "Feliz Natal". O primeiro é bonitinho e, pra ser bem redundante, romântico. Overdose de referências à tragédia de Tristão e Isolda, mas vale pelo casal de protagonistas - Wagner Moura e Letícia Sabatella - e por acender de leve a esperança de que eu ainda posso (re) encontrar a tampa da minha panela e viver para sempre bebendo o vinho do amor (não me culpem pela metáfora, peguei emprestada do filme).

Já o segundo, que assisti por causa do Leonardo Medeiros (ator de "Cabra Cega") e de todo o falatório por ser o primeiro filme com direção e roteiro do Selton Mello... Sinceridade? Uma bosta. Um bando de simbologias sem criatividade pra criticar a instituição da família na sociedade, aquela coisa bem "vamos denunciar essa podridão hipócrita para o mundo". Rebeldia preguiçosa e ultrapassada. As distorções de câmera e os closes insistentes também incomodam, só que não no "bom" sentido. Mas tenho que reconhecer: rock and roll a matriarca interpretada pela Darlene Glória tocando o terror chapada o filme inteiro. Winehouse e Narcisa perdem.

Ah, detalhe para o momento "ironias da vida" enquanto eu assistia ao primeiro filme. Eu lá, all by myself, sei lá por quê, pensei: "estou vendo 'Romance' sozinha". Repeti mentalmente a frase algumas vezes, até desassociar a palavra do título do filme, juntei à conversa de ontem com um amigo (em que eu choramingava pela minha solidão) e tive um mini-flashback - à la "Os Normais - das minhas desventuras amorosas. Ri sozinha. Pensei sobre como eu sou reincidente em criar expectativas e imaginar que estou com o cara mais incrível do mundo logo de cara, que "dessa vez vai".

Acabo me revelando muito cedo (o que me lembra da Carrie, de Sex and the City, que se qualificou como "emocionalmente promíscua" pela mesma razão) e metendo os pés pelas mãos. O foda é que, quando finalmente caio em mim e percebo que me estrepei, é um sofrimento só. Choro, noites em claro, sessões intensivas de Jeff Buckley, Astrud Gilberto, Johnny Cash e Billie Holiday. Até eu começar a juntar os caquinhos e dizer que nunca mais vou ser otária desse jeito de novo. A resolução, para prejuízo da minha saúde mental e cardíaca, não costuma ser muito persistente.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Na expectativa do tender com farofa


O movimento de sacoleiras e donas-de-casa ávidas por compras já aumentou nas ruas do Saara, agora tomadas por lojas vendendo pisca-piscas, enfeites para pendurar em pinheiros artificiais, guirlandas e outros artigos típicos para dar o clima da época que vem chegando. Tem gente que se anima tanto para as festividades natalinas que compra até espuma para fazer as vezes de neve no quintal. Em pleno verão carioca.

Os pobres Papais Noéis (será que esse plural tá certo mesmo?), vestidos para enfrentar um frio glacial, já tomaram posse dos tronos destinados a eles nos shoppings cariocas. Ainda terminando suas casquinhas do Bob's para aliviar o calor, pobres crianças são levadas para serem fotografadas ao lado dos caras. Algumas ficam hipnotizadas e acham o máximo, outras parecem constrangidas e há ainda as que choram enlouquecidamente enquanto suas mães gritam "fica aí só mais um pouquinho pro papai tirar a foto, filho".

Assim seria mais divertido:

Uma vez, li que Papai Noel no Brasil deveria ser magricelo, usar camisa de time, bermuda e Havaianas. Não é pra tanto na minha opinião, mas aquela pompa toda do mito - roupas de inverno, chaminé, trenó puxado por renas - já é exagero. Num país em que grande parte da população é cristã (86% se declara católica ou evangélica, conforme estudo divulgado pelo Datafolha em 2007), o Natal se justifica.

Já a figura do Papai Noel acoplada à comemoração me parece meio deslocada na realidade brazuca, assim como na de diversos outros países que a adotaram. Mas, enfim, difícil falar em cultura sem levar em conta essa influência cruzada e difícil falar em Natal sem pensar no Papai Noel. Resultado: anos de nossas infâncias acordando ansiosos no dia 25 pra encontrar um presente que não havia sido deixado por nenhum velhinho vindo do Pólo Norte, mas comprado nas Lojas Americanas da esquina por nossos entes queridos. Que enganação.

A melhor parte do Natal, definitivamente, é a ceia. Dá uma certa culpa falar disso quando tem gente morrendo de inanição na África subsaariana ou até bem aqui mais perto, mas venhamos e convenhamos: vale a pena assistir a todos aqueles especiais sem graça na TV, participar de mais um previsível amigo-oculto e esperar até meia-noite pra exercitar o pecado da gula com ela. Daí em diante, o negócio é se esbaldar com os itens que geralmente só aparecem na mesa nessa data específica, como o chester, a rabanada, o panetone (e seu maravilhoso primo, o chocotone), as nozes e, o meu preferido, o tender. Barbudo nenhum dizendo ho ho ho supera essa alegria.

domingo, 23 de novembro de 2008

Não tiro mais das minhas playlists

Seu Neyla

Zapeando (o que eu faço obsessiva e irritantemente quando paro em frente à TV), peguei o restinho de um programa da Globonews. O entrevistado era Ney Latorraca, por quem eu sempre nutri uma mistura de admiração e antipatia, pelas boas atuações e declarações instigantes acompanhadas de um ar pretensioso (um lance meio Jack Nicholson). Hoje, no entanto, fui pega de surpresa por sua sinceridade, inteligência e seu senso crítico extremos e inesperados. 

Ney falou sobre o destino dos seus bens (que vai doar para entidades beneficentes por considerar o fim mais digno e não pra pagar de humilde), os fracassos de público (como quando assistiu, num cinema vazio, a um dos filmes em que atuou), a sua grande vaidade e o gosto em ser o centro das atenções. Levou ao estúdio santinhos com a sua foto, que diz ter mandado imprimir para autografar e entregar aos fãs, mas que ninguém quer pegar (diz ele que é mais fácil quando oferece a crianças e pessoas de idade). Irozinou os sinais da própria idade, mostrando um truque para esconder o papo nas fotos.

Quando perguntado qual foi a sua maior decepção com uma estrela - depois de contar as tietagens com Sophia Loren e Shirley MacLaine -, disse que havia sido consigo mesmo, quando percebeu que tinha ficado deslumbrado com a própria imagem, numa resposta obviamente dúbia. O jornalista perguntou quando tinha sido a última vez em que ele havia gritado com alguém e Ney respondeu prontamente que tinha sido na manhã daquele dia, com o motorista que se atrasou para buscá-lo.

Mas o ponto que eu achei mais interessante e que provavelmente vai render um próximo post foi quando ele comentou uma declaração anterior, de que os brasileiros se tornaram arrogantes e mal-educados, principalmente ao lidarem com pessoas que estão prestando algum tipo de serviço ou fazendo trabalho de apoio, como porteiros, garçons, técnicos de luz e comissárias de bordo. Disse que as pessoas esqueceram de expressões como "por favor" e também de que a escravidão já terminou faz tempo. E que é necessário haver um resgate da gentileza.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

Cantadas cretinas

Descendo a Rua Augusta - essa já tá velha, mas valhe a pena contar - , chega um pangaré e passa um braço por cima dos meus ombros.

Ele: Garota, você é o meu número...

Eu: Gente, ainda se usa isso? Que brega (tirando o braço do abusado de cima de mim).

Ele: Nossa, que pé grande!

Sério mesmo que ele não conseguiu pensar em nenhuma outra razão para eu recusar aquele galanteio tão gentil além da hipótese de eu ser sapa? Que falta de imaginação (e auto-crítica).

sábado, 15 de novembro de 2008

O casal simbiótico

Rapaz e Donzela não se conheciam, mas tinham um amigo em comum. Se encontraram no aniversário dele, num bar, e começaram a conversar. O papo fluía bem, um assunto trazia naturalmente outro e mais outro. Donzela falou sobre o show que ela estava doida pra assistir, enquanto Rapaz escutava com total atenção. Quando deu 11 horas, Rapaz avisou que precisava ir embora porque tinha prova no dia seguinte e eles trocaram telefones. Alguns dias depois, marcaram um cinema. Donzela estava ansiosa, mas tudo saiu bem. Na despedida, trocaram um beijo que deixou cada um com um sorriso imenso no rosto na volta pra casa. Daí em diante, os encontros foram se tornando mais e mais freqüentes e, em pouco tempo, estavam namorando.

Eles eram mesmo um casal lindo. Se tratavam cheios de mimos e a felicidade deles por estarem juntos era tão grande que dava até para ignorar os apelidinhos bregas que eles usavam pra chamar um ao outro. Um dia, aquele amigo em comum foi mandar um recado para Rapaz no Orkut e viu que seu perfil havia sumido. Estranhamente, o de Donzela também. No dia seguinte, "Donzela & Rapaz forever" pedia autorização. O amigo achou meio esquisito, mas não imaginava que aquele era só o começo. O próximo sinal do que estava por vir foi quando convidaram Donzela para o teatro e ela disse:

- Poxa, eu queria tanto ir a essa peça... Pena que o Rapaz não vai poder esse dia. Tá levando trabalho pra casa, sabe?

Daí em diante, um só saía se o outro pudesse ir também, mesmo que o convite se estendesse a apenas um deles. Até mesmo os programas em que iam juntos começavam a rarear, já que agora eles preferiam dedicar qualquer tempo livre à intimidade do casal. Se telefonavam o dia inteiro, ou porque Donzela queria contar ao "môzinho" sobre uma piada super engraçada da colega de turma ou porque Rapaz "só queria dizer 'eu te amo' ".

Quando falava com amigas, Donzela encaixava a cada quinze seguntos comentários que começavam com "o meu namorado". Já não usavam mais o pronome "eu" ao responder a uma pergunta ou convite; só diziam "nós" ou "a gente". "A gente adora pizza no forno a lenha!". "Não, obrigado, vinho sempre deixa a gente meio tonto...". "Nós torcemos pelo Obama como se a eleição tivesse sido aqui no Brasil!". Os conhecidos agora evitavam a companhia do casal e sobreviviam às longas conversas balançando a cabeça afirmativamente e dizendo "um-hum" para tentar encurtar o suplício.

Era fato: Rapaz e Donzela haviam se tornado um casal simbiótico. Ali não existiam mais dois indivíduos autônomos, mas um organizmo humano semelhante ao de irmãos siameses, só que formado por dois corpos independentes. Quer dizer, em teoria. Na prática, eram incapazes de tomar uma simples decisão - como se o bolo de aniversário da mãe do Rapaz devia ser de brigadeiro ou crocante - sem o aval do outro.  Outro dia, uma amiga veio me contar que eles terminaram. Vai entender, né?

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aves do mal

Xavier Gorce é um cartunista francês que teve a idéia sagaz de criar quadrinhos em que os personagens são pingüins ultra-irônicos, sempre em situações pra lá de humanas. Esses daí estão na revista piauí de novembro:



domingo, 9 de novembro de 2008

Obsessões de Woody Allen, agora na Espanha

Hoje fui à pré-estréia de "Vicky Cristina Barcelona", o novo filme do Woody Allen. Pouco antes da sessão começar, a fila já ultrapassava a entrada do Estação Botafogo e fazia curva bem depois do pipoqueiro. Restaram só algumas poltronas vagas nas fileiras do torcicolo, enquanto o restante da sala foi tomado por gente curiosa pra ver como o diretor ia se sair contando uma história ambientada na Espanha e sem que o próprio interpretasse um dos personagens.
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Na produção, Vicky e Cristina são grandes amigas com personalidades opostas - a primeira é metódica e racional e a segunda, instável e passional - que vão passar uma temporada hospedadas em Barcelona.
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Vicky está noiva de um carinha sem graça e Cristina está à procura de alguém que dê jeito na sua "insatisfação crônica". Uma noite, inesperadamente, aparece Juan Antonio, um charmoso pintor de quem elas só escutaram as fofocas sobre seu divórcio violento. As duas acabam se envolvendo com ele, e ainda aparece a ex-mulher do sujeito pra completar o quiprocó.
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A grande questão do filme é a busca pelo amor como a resposta para todas as inquietações, o que pode até parecer piegas. Mas, como aqui o manda-chuva é Woody Allen, o assunto é tratado com altas doses de sarcasmo e ceticismo, como na frase dita por sua Maria Elena (Penélope Cruz), de que "só os amores não-realizados são românticos" (ou algo parecido).
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"VCB" conta com três dos nomes mais quentes de Hollywood: Javier Bardem (ou "meu pedido de Natal desse ano"), Scarlett Johansson e Penélope Cruz. Estão lá várias das marcas de Allen: os ótimos diálogos, a ironia, a crítica a uma elite que tem muita grana e zero de inteligência, a sexualidade reprimida e as neuroses contemporâneas. No entanto, é interessante observar como o diretor tem evitado a mesmice, tanto no roteiro quanto na estética visual, para tratar mesmo dos temas mais batidos por seus filmes anteriores. A trilha sonora - com deliciosos solos de violão flamenco - e as locações ainda dão um charme a mais ao filme.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ócio nada criativo

Existe uma lenda urbana de que a grande mazela da vida contemporânea é a falta de tempo. Pois eu acho que esta pode ser, pelo contrário, a solução para o nosso caos diário. Nos últimos anos, funcionei na potência máxima quase que o tempo todo, correndo de casa pro trabalho, depois pra faculdade, fazendo cursos nos fins de semana, indo a eventos acadêmicos sempre que podia, me sentindo o Jack Bauer. Olhando rabugenta para os colegas da faculdade que eu considerava abençoados por poderem se dedicar só aos estudos e não aproveitavam a chance. Ah, se eu tivesse aquele tempo todo sobrando...

Até que me vi sem ter absolutamente nada pra fazer, nadica de nada, por 2 meses. Primeiro, fiz uma programação incrível: eu iria ler todos aqueles livros pendentes, revisar as lições de Espanhol e Francês e fazer vários programas culturais. Lindo no papel, mas a realidade era, na maior parte do tempo, eu acordando às 11 da manhã para passar o dia deitada no sofá comendo doce-de-leite de colher enquanto assistia a reprises de seriados na TV. O PC ficava ligado o dia quase todo por nada (mas, mesmo assim, me hipnotizando por horas quando eu parava em frente a ele) e eu padecia de uma brutal ansiedade pra que algo agitasse a vida de novo.

Daí - tadá - foi só começar num estágio pra que a plena administração do meu tempo livre magicamente começasse a se concretizar. As revistas que eu assino já passaram a ser lidas antes da chegada das edições seguintes, por exemplo, o que é um pequeno grande avanço. É como se o comprometimento de parte do meu dia fosse um estímulo pra organizar as horas restantes da melhor forma possível, o que não me dava a menor animação de fazer quando estas significavam o dia inteiro. O ócio simplesmente não funciona pra mim como fator produtivo.

domingo, 2 de novembro de 2008

Defina "velhice"

Sexta-feira em São Paulo, eu e Jaque fomos pra uma balada de rock num club chamado Outs. A casa tinha acabado de abrir e ainda ia demorar um bocado pra começarem os shows da noite (uma banda que tocava tão alto que não se ouvia o vocalista e uma cover do Oasis) e abrirem a pista de cima (onde ia rolar DJ), então a gente sentou numa mesinha pra conversar enquanto bebia uma cerveja. Duas meninas da mesa ao lado puxaram papo. Eis que, um tempo depois, uma delas diz:

- Lá perto de onde eu moro, tem um lugar ótimo, que toca rock das antigas. Só que nenhum dos meus amigos gosta porque lá vai muito tiozão, sabe? De 25, 26 anos...

Eu e Jaque caímos na gargalhada imediata e descontroladamente, e ela, sem entender:

- Gente, é verdade!

Quando consegui retomar o fôlego, perguntei:

- Vem cá, quantos anos você tem?

- 19, e vocês?

Quando dissemos que eu tenho 23 e a Jaque tem 30, ela fez a cara mais surpresa do mundo e disse:

- Não acredito! Nem parece...

Só faltou dizer que a gente estava super conservada.

sábado, 1 de novembro de 2008

Let me in

Secret heart
Why so mysterious
Why so sacred
Why so serious
Maybe you're
Just acting tough
Maybe you're just not bad enough
What's wrong

Let her in on your secret heart