1- Cadeirante (e turista com mala de rodinhas) se fode
Não se veem rampas de acesso quase em lugar nenhum. No metrô, então, nem se fala, são escadas fixas que não têm mais fim.
2- Onde estão os negros?
Quarta-feira, esperando a minha estação do metrô chegar, comecei a sentir que faltava algo naquele cenário. De repente, percebi: só havia gente branca ou, no máximo, com cara de índio por lá. Dali em diante, fui andando alarmada pelas ruas, procurando, e nada. Os únicos negros que eu vi até o fim da viagem eram turistas e, mesmo assim, muito poucos. Tá certo que deve ser pela forma de colonização do país, mas ainda assim é muito esquisita aquela alvura toda.
3 - Os barbeiros da cidade devem passar fome
Quase todos os homens jovens parecem que cortaram o cabelo em casa, no mais autêntico estilo "peguei-a-tesoura-de-costura-da-minha-mãe-pra-ver-no-que-dava-e-ficou-assim". Mullet tá super na moda por lá, isso quando os cabelos não se assemelham a uns desordenados ninhos de passarinho.
4 - Os portenhos amam pombos
Enquanto aqui a gente tem pavor de pombos pelas doenças que os bichos podem causar e acha que eles são ratos que voam, lá eles são tipo pets. Nas vezes em que passei pela Plaza de Mayo, havia pessoas pegando as aves nas mãos, deixando que pousassem numa boa nos dedos e tinha até um pai todo orgulhoso vendo o filho sacudindo um pombo de ponta-cabeça, pelo rabo. Pânico.
5 - Os caras de lá são galanteadores
A vida de uma mulher andando nas ruas do Rio pode ser deprimente. Os comentário supostamente elogiosos dos passantes são de "gostosa" pra baixo. Lá, se ouve muito mais "hermosa" (que seria um muito mais gentil "bonita"). Isso quando os caras não puxam conversa do nada e se oferecem pra pagar uma bebida.
6 - Os motoristas de ônibus são os seres mais inocentes do mundo ou os portenhos são muito honestos
Quando se entra num colectivo, o valor da passagem aumenta de acordo com o trajeto que se vai percorrer, além do fato de não haver roleta. Com a cara-de-pau de muitos dos nossos compatriotas, tenho certeza de que a prática não ia dar muito certo por aqui. Pra pagar mais barato, malandro ia dizer que ia descer logo na esquina quando, na verdade, fosse ficar só no ponto final. Isso quando não desse um balão no motorista pra não pagar a passagem.
7 - Mania de pomelo
O pomelo é uma fruta super ácida, prima da laranja, que é usada como sabor de tudo quanto é bebida de lá. É refrigerante, Gatorade, suco, tudo sabor pomelo. Provei uma Aquarius e me arrependi profundamente. É de beber fazendo careta.
8 - Ai, o doce de leite...
Já tinham me falado que o doce de leite deles era um espetáculo, mas eu continuava incrédula, pensando que nada podia ser melhor que o nosso de Minas. Ledo engano: é uma maravilha mesmo. Tanto o doce em si quanto o helado de dulce de leche granizado (da sorveteria Freddo) são imperdíveis.
9 - Reações adversas do intercâmbio cultural
Depois de visitar um museu, fui dar uma volta no shopping do bairro. Entrei numa loja e, enquanto olhava as araras, comecei a ouvir uma melodia conhecida. Eu não conseguia lembrar de que música era, até que começou o refrão:
y se pega la boquita a la botella
(en la boca en la botella)
encima la boquita en la botella,
(en la boca en la botella)
Não! Era impossível, seria terrível demais... Mas não dava pra negar, era mesmo uma versão em espanhol para "Na Boquinha da Garrafa".
10 - Não adianta tentar se misturar: todo mundo saca que você é turista
No início, bem que eu achei que o meu Espanhol dava pra enganar. No entanto, bastavam 5 segundos de conversa com um local pra escutar "Y de que parte de Brasil eres?". Só consegui me sair melhor quando fui comprar uma bebida no bar de uma casa noturna, já que não se ouvia o meu sotaque por causa da barulheira e os atendentes devem entender os pedidos por leitura labial. Voltei muito mais solidária com os gringos que cortam um dobrado aqui tentando desenrolar o Português.