domingo, 6 de dezembro de 2009

One step back, madam

Eu sempre fui muito tímida. Do tipo que sente o rosto queimando quando tá no centro das atenções, tem taquicardia quando chega a sua vez de dizer quem é o seu amigo oculto, tem horror a apresentar trabalho e prefere prender o dedinho na porta a ser explícita sobre algo que está sentindo. Com homem, então, pior ainda, com direito a sumiço de voz, rosto pegando fogo e falta de capacidade de formar frases inteligíveis. Foi assim até a adolescência.  

Quando eu cresci, no entanto, as coisas mudaram. Chegou uma hora em que eu vi que ia sair perdendo se passasse o resto da vida esperando que tudo o que eu queria caísse do céu. Cheguei à conclusão de que precisava agir e, pra isso, ia precisar me expor. E foi assim que eu comecei a, sempre que batia a timidez, pensar comigo mesma: "vai lá". É claro que nem sempre tomar a iniciativa deu certo, mas eu ainda prefiro seguir aquela máxima de que é melhor me arrepender pelo que eu fiz do que pelo que não fiz.  

Hoje em dia, meu problema é outro. Como me acostumei a dar um passo à frente com os caras, em vez de ficar esperando o telefone tocar, o indivíduo chamar pra sair ou puxar assunto etc., fui percebendo que esse negócio enjoa de vez em quando. Nunca dá pra saber ao certo quando a outra pessoa está dizendo ou fazendo algo espontaneamente ou só respondendo a uma iniciativa sua. Por isso, resolvi que agora eu quero ser cortejada. É, galanteada. Meio idiota resolver alguma coisa que depende de terceiros, eu sei, mas é que parei com essa de proatividade amorosa, de preferir ser prática a brincar de mocinha casadoira. Eu mereço um pouco mais de gentileza nessa vida bruta.

domingo, 29 de novembro de 2009

De volta

Faz tempo, né? Passei tudo isso - quase cinco meses - sem escrever no blog por pura falta de ideias que eu achasse que poderiam render um post. Depois fui perdendo a prática de escrever, de partir de um lugar e desenvolver o texto até o ponto final. Daí fui deixando, deixando, e quando eu vi, já era hoje. O negócio é que, eu não tinha percebido ainda, mas escrever me faz uma falta danada, me tira o peso do peito, me faz entender melhor, joga luz em cima dos pensamentos, faz com que eu faça pelo menos um pouquinho de sentido. Oi de novo.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Adeus à pantera

25 de junho (vulgo, quinta-feira passada) trouxe uma comoção mundial que não se via há muito tempo. Michael Jackson, o "rei do pop", o cara que popularizou o moonwalk, o black or white das meias prateadas, o artista de mil e controversas faces morreu, aos 50 anos, em Los Angeles.

A avalanche de notícias foi tão grande que encobriu uma outra grande perda para a cultura pop: Farrah Fawcett, que perdeu a luta contra o câncer aos 62 anos, também em LA. As primeiras chamadas que surgiam sobre sua morte foram imediatamente colocadas de lado pela mídia, ávida por qualquer novidade sobre Jackson.

Elevada ao estrelato como a linda e loira detetive Jill Munroe do seriado As Panteras (no original, Charlie's Angels), Farrah inaugurou o que seria o corte de cabelo mais copiado do mundo. E ainda mais. Nos anos 70, o comportamento da mulher ainda era cercado de tabus e preconceitos, já que o apogeu do movimento feminista na década de 1960 não destruiu imediatamente todo o aparato de opressão instituído por séculos na sociedade. Jill era uma mulher sexy, independente, esperta e que, ainda por cima, tinha um trabalho considerado masculino.  
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Em 1984, a atriz interpretou Francine Hughes em Cama Ardente, telefilme sobre o caso real da mulher acusada de provocar a morte do marido após sofrer anos com a violência doméstica. Além de receber uma indicação ao Emmy pelo papel, Farrah se engajou na causa. Parte de sua herança foi destinada a instituições de apoio às vítima de abuso. Farrah Fawcett estava longe de ser apenas mais uma mulher bonita: ela foi e continuará sendo um ícone de beleza e atitude.

domingo, 21 de junho de 2009

A diva do apocalipse

Ela chegou sorrateira, cantando uma musiquinha boba de tão fácil, que colava instantaneamente na memória. Bastava ouvir uma vez pra começar logo a cantarolar "just dance/it's gonna be ok/ dara dara/ just dance". O nome trazia uma confiança quase pretensiosa: Lady Gaga, inspirada em Radio Ga Ga, música do Queen. A garota de 23 anos era uma mistura de princesa infernal, Cyndi Lauper, Elke Maravilha e Andy Warhol. Logo depois, o bafafá sobre a moça aterrisou por aqui também.      

O substantivo que melhor a descreve é "excesso". Na maquiagem, nos figurinos excêntricos, no cabelo loiro um passo além do artificial, na atitude ácida, nas declarações polêmicas, na sensualidade agressiva, na aparência longe do padrão. Se não fosse por isso, seria só mais uma aspirante a darling do pop. Boa voz? Ok. Músicas pegajosas? Ok. O álbum segura uma festa? Aham. Nada excepcional, no entanto. O trunfo de Lady Gaga está porém na personagem que ela cuidadosamente construiu para si.  

A cantora e compositora é, sim, um produto. A diferença é que, ao que parece, foi a própria Lady Gaga (nome de batismo: Stefani Joanne Angelina Germanotta) quem o criou e a grande graça, afinal, é brincar com a cultura das celebridades, aproveitando pra subverter os conceitos de sensualidade, beleza, retrô e inovação. Tudo nela grita simulação e estranhamento. No espetáculo chamado Lady Gaga, a música é o que menos importa. Como de costume.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Vendo "Fantástico"

Eu - Caramba, vó, o Adriano não tá fazendo nada no Flamengo, né? (isso porque eu saco tudo de futebol)

Vó - Claro, ele só quer viver na farra!

Eu - É, e olha como ele tá gordo...

Vó - Ele só fica comendo essas mulheres fruta!

Eu - Ah, mas vó, nem deve ser isso, fruta é light. Imagina se ele estivesse comendo a Mulher Lasanha, a Mulher Coxinha, a Mulher Feijoada...

Vó - Hum... é mesmo.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia do Orgulho Solteiro

Dia 12 de junho é sempre a mesma história, né? Tudo que é vitrine e propaganda tem coraçõezinhos voadores, os filmes na TV remetem a romance e as floriculturas parecem ter dizimado todos os roseirais do país.

Tá certo que namorar é uma delícia, mas quem tá sozinho faz o que? Fica de café-com-leite na brincadeira? Coisa nenhuma: quem tá sozinho no Dia dos Namorados tem mais é que se divertir e até mesmo comemorar, pois como diria a minha avó, antes só do que mal acompanhado.

Segue a programação-luxo pra hoje à noite:

* Bate-papo, petisco e cervejinha no Arco Íris da Lavradio - 22h
Rua do Lavradio, 202 - Lapa (entre a Riachuelo e a Mem de Sá)

* Festa Brazooka (onde o DJ Janot esquenta as picapes com bastante música brasileira)
Casa da Matriz - R.Henrique de Novaes, nº107 - Botafogo 
Valetes - R$16 com filipeta até 0h, depois R$20 ou R$25 sem filipeta
Damas - R$12 com filipeta até 0h, depois R$16 ou R$20 sem filipeta
http://casadamatriz.blogspot.com/ (reparem que a filipeta virtual fica na barra à direita)

Beijos e até lá!

domingo, 7 de junho de 2009

Figurante da vida real

Mesmo o telespectador mais distraído já deve ter reparado em um cidadão que aparece ao fundo em quase todas as externas do RJ TV. É um senhor baixinho, com cara de nordestino, sempre enfiado num terno e geralmente falando ao celular. Não interessa a pauta da matéria, lá está o homem disputando espaço em frente às câmeras com os curiosos. Outro dia, finalmente descobri a identidade dessa celebridade anônima: Jaime Dias Sabino, mais conhecido como Jaiminho.

Jaiminho diz que gosta de aparecer, sem saber explicar muito bem a razão. Além de ser presença constante no telejornal, cultiva um outro hábito incomum: ir a enterros de famosos e, quando possível, ajudar a levar o caixão. Afirma já ter se despedido de Getúlio Vargas, Chacrinha, Dina Sfat, Cazuza, Daniela Perez e centenas de outras personalidades (contabiliza ter ido a mais de mil enterros). Para ele, essa é uma forma de demonstrar respeito aos mortos e também de prestar uma espécie de... serviço aos presentes, consolando amigos e família. 

Ao ouvir o baiano contando sua história, fui ficando cada vez mais assustada com a fascinação que a mídia pode causar. Todos somos influenciados em maior ou menor grau por ela, mas é bizarro demais imaginar que um indivíduo passe a vida fazendo de tudo pra simplesmente aparecer na tela - ainda que de forma parasitária - e se sentir próximo das figuras expostas nos meios de comunicação.

É um nível de envolvimento que se baseia na fantasia de que só quem está lá é importante e existe de verdade. Que aqueles personagens que vemos todo dia na TV e nem fazem ideia de quem somos são semideuses com quem temos real intimidade. Já escutei que a televisão é uma máquina de criar ilusões. Mas será que não somos nós que fazemos com que estas ilusões floresçam até esse ponto insano?

domingo, 31 de maio de 2009

Subindo nas tamancas

Alguns amigos dizem que eu sou uma moça fina e elegante. Vai entender, né, mas eles dizem. De fato, não sou de falar alto, prefiro ser civilizada a baixar o nível, costumo prezar pela boa educação e só subo nas tamancas em casos extremos. Esses dias, pude experimentar uma dessas situações em que suspendi toda a minha finesse e me senti muito, mas muito satisfeita mesmo por causa disso.
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Sempre tento ser compreensiva e razoável para analisar as escolhas e ações alheias. A intenção é evitar ser injusta e fazer julgamentos precipitados. No entanto, existem três coisas que não têm perdão pra mim: desonestidade, falta de consideração e falta de ética. São posturas que têm o poder de me tirar do sério e realmente me magoar na alma. Eu quero e mereço muito mais.
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Pois bem, o que aconteceu envolveu as três moléstias acima mencionadas. O carinho, a admiração e o respeito que eu nutria pela pessoa, puft, desapareceram em segundos. Não costumo ser radical nas minhas decisões, mas ficou imediatamente claro que não fazia mais sentido mantê-la na minha vida. Então comuniquei o ser humano degredado e fui apagando os sinais de que ele já havia feito parte dela. Tchau e benção pra telefone, e-mail, MSN, Orkut. De repende, a tristeza, a raiva, a mágoa, tudo passou. Restou só a indiferença.
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E olha que perder o meu carinho já é difícil, mas me fazer querer apagar alguém, sem chances de reconciliações futuras, é um feito notável. Pensando bem, não lembro de já ter feito isso antes (fico culpada até de bloquear gente mala no MSN). Pensando melhor ainda, acho que poucas vezes senti tanta certeza sobre algo. 

quinta-feira, 28 de maio de 2009

E tenho dito

Eu e as minhas manias. Mania de me apaixonar, de entrega, de dizer em vez de calar, de perder o medo. Hoje eu me perguntei por que só sei gostar errado. Pensei mais um pouco e, logo em seguida, cheguei à conclusão de que não gosto errado, gosto do único jeito que faz sentido pra mim: com um desejo desvairado de ser feliz ao lado de um certo alguém. 

Se esconder dessa chance pequena - mas não inexistente - quando se sente o bastante pra pelo menos tentar é medo ou pobreza de espírito. Tentar é se expor ao desconhecido, mas ficar em cima do muro é se apegar às certezas do que se tem agora (e será que a troca vale mesmo a pena?).

Se as coisas vão bem e continuam bem depois de algum tempo e as duas pessoas se curtem, não vejo razão pra não arriscar ficar junto. Sem pressões, rótulos, cobranças, imposições ou obrigações, com as únicas ressalvas da sinceridade e fidelidade. Apenas poder serenar ao lado de alguém, se deixar envolver e querer bem. 

Cansei de ficar me estapeando contra isso: sou romântica, por mais cafona e careta que possa ser. Me apaixono à primeira vista, passo noite em claro, choro ouvindo música e vendo filme, amo sem vergonha, juízo nem medo de outra desilusão. Eu, Cazuza e Vinícius de Moraes somos, ó, farinha do mesmo saco. Isso às vezes me magoa e me faz querer ser diferente mais do que tudo, mas essa sou eu e tenho dito. Quem me quiser, que esteja ciente e me queira ainda mais por causa disso. 

Sabe-se lá por que, lembrei da minha primeira ressaca, cheia de dores de cabeça e enjoos. Perguntei pra alguém se seria sempre daquele jeito ou se depois de um tempo eu iria beber sem precisar passar por aquilo tudo de novo. A pessoa me disse que sim, eu continuaria a ter ressacas, e que seriam todas daquele jeito, eu só aprenderia a conviver com as ditas-cujas. Cheguei à conclusão de que o mesmo vale pras dores de cotovelo. Pena que não existe Engov pra elas.

domingo, 24 de maio de 2009

Um suspiro de alívio em meio ao caos

Frequentemente (miss you, trema), eu tenho uma vontade doida de sair do Rio. É o tempo todo aquele estado de alerta, o medo de ser assaltada, de levar um boa noite Cinderela na noite, do homem que tá me encarando no ônibus, de apanhar quando saio da faculdade em dia de jogo no Maracanã, entre outras insanidades que nem deveriam passar pela cabeça de uma cidadã em situações normais. Cansa.
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Por outro lado, tem havido algo que alivia o meu mau humor - e olha que eu viro o incrível Hulk quando me emputeço - e amansa a minha ira: o pipocar de programas culturais gratuitos ou que custam quase nada pela cidade. São exposições, shows, peças de teatro, cursos, debates, eventos de cinema e mais um monte de coisa legal. Pra descobrir o que está rolando, nem é um bicho de sete cabeças: basta ficar ligado nos sites de jornais, revistas e centros culturais. Muito felizmente, também é cada vez mais comum a prática de criar listas-amigas de descontos pras casas noturnas e ingressos camaradas em algumas casas de espetáculos.
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Ainda tem muita coisa absurda rolando por aí, peças, baladas e shows mais caros que rim no mercado negro, mas só o fato de haver rotas de fuga aos abusos já é um alívio. Tá certo que produtores, proprietários de espaços e artistas precisam colocar comida na mesa, mas vamos segurar a ganância e pensar que nem todo mundo pode bancar patê de foie gras, né, minha gente? Não é melhor receber um público mais numeroso e variado que virar um quadro lindo e valioso de coleção particular, acessível só pros poucos integrantes do clubinho?
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Hoje fiquei sabendo que em junho teremos a nossa virada cultural, seguindo o exemplo de São Paulo. Prevista para rolar dos dias 5 a 7 e se estender pelos quatro cantos da cidade, o evento promete trazer atrações pra todos os gostos. Só espero que a organização seja cuidadosa o bastante pra evitar muvucas e outros poréns geralmente vistos nos eventos de grande porte. Reza a lenda que Marina Lima, Moska e Alceu Valença vão estar lá, então já fiquei com palpitações torcendo pra ser verdade. \o/
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Seguem abaixo alguns sites que eu costumo visitar nas minhas rondas virtuais (dicas adicionais serão muitíssimo bem vindas):
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* CCBB
* MAM

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Om

Outro dia, escrevi aqui sobre a sina de ser passional que, de certa forma, é como um vício: difícil de controlar, dá onda mas, no dia seguinte, faz bater uma tristeza profunda porque raramente a onda compensa os efeitos colaterais. Ao mesmo tempo que sinto que já amadureci em outros aspectos, nesse eu vejo claramente que ainda estou longe de chegar lá.
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Quando eu vejo, já falei, já fiz, já era. E não digo isso como que falando de uma causa perdida, não. Tenho tentado equilibrar emoção e razão, mas vez por outra a balança tende mais para um lado que para o outro e esse bloqueio momentâneo do raciocínio só prejudica a mim mesma no fim das contas.
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E o pior é que tenho a mania de tentar antecipar situações futuras de acordo com a maneira como as coisas vão agora, o que é uma óbvia estupidez. Em vez de ter calma pra acompanhar os acontecimentos no seu ritmo, sofro por antecedência e decido por uma projeção criada por mim, que não necessariamente corresponde ao que virá. Aí, fodeu. Se é auto-proteção ou auto-sabotagem, eu ainda não sei. (atualização em 21/05)
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Mesmo que algumas vezes a impulsividade seja um jeito de dar um passo a mais quando o medo ou a timidez me paralisam, na maior parte do tempo, ela é só falta de juízo. Cinco minutos de reflexão já seriam o bastante pra chegar a uma conclusão sensata, levando em conta muito mais que o desejo imediato. Como diria a minha avó, vontade é uma coisa que dá e passa. Se não passar, aí já é outra coisa.
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E, sim, isso é um mea culpa.
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domingo, 17 de maio de 2009

Tô com o Eddie e não abro

Pearl Jam - You've got to hide your love away (Lennon/McCartney)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Alguém amarre meu pé na mesa

Sabe aquela pessoa que curte um devaneio? Então, sou eu. Pode ser no ônibus, no hall da faculdade enquanto a aula não começa, no restaurante do estágio, na cama olhando pro teto, enfim, em qualquer lugar e ocasião que me permita, eu pratico o hábito de pensar em nada e em tudo. De "hum, será que ainda tem torta na geladeira?" até "essa onda de consciência ambiental é só moda?".

Nesses últimos tempos, o tema principal das minhas viagens é o futuro. Com o fim da faculdade chegando, estágio em andamento e coração indeciso, começo a pensar em trocentas ideias. Lembra do "Você Decide?". Pois passam pela minha cabeça trailers de possíveis finais para as situações que eu ando vivendo, mas sem a tranquilizadora opção de receber a melhor escolha de bandeja.

Pensando agora, até seria bem legal ter uma linha de 0800 para os dilemas mais brabos: "Se você acha melhor pós lato sensu, tecle 1. Para stricto sensu, tecle 2". "Manter o foco da carreira por aqui, tecle 1. Girar o globo terrestre e pôr a mochila nas costas, 2". "Investir no carinha e colocar o meu coração de vidro na reta, tecle 1. Continuar curtindo os prazeres da solteirice sem mais preocupações, 2". Depois, seria só conferir a mais votada e pronto, seguir em frente sem medo. Se bem que, apesar de ser a saída mais fácil, ter suas próprias escolhas feitas por terceiros tem um quê de frustrante.

Mesmo com as noites maldormidas, as dores de estômago e as rugas na testa, ponderar sobre a melhor opção e decidir pela mais adequada me parece um passo importante do processo. Assim como, depois de fazer a escolha, confiar no próprio taco e não ficar se torturando pra tentar descobrir como seria se a decisão fosse outra. Pensar bastante, tentar a sorte e pular de cabeça, simplesmente.

domingo, 10 de maio de 2009

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Abstinência de noite

Devido ao atual jejum de saídas pra dançar à noite, percebi que estou começando a ficar nostálgica. Saudades até mesmo da alegria de quando o bartender finalmente vê a sua comanda sacudindo no ar ou de ouvir o som da porta do banheiro destrancando quando se está à beira da tragédia. De escutar a introdução de uma música que você adora e das conversas divertidíssimas que surgem das maneiras mais inusitadas e com as pessoas mais improváveis.

Ou da troca de olhares com aquele cara incrível que apareceu de repente e que com certeza é muito mais interessante ali, à meia luz, com música e depois de umas cervejas do que ele seria em qualquer outro lugar. Mas o meu momento preferido da noite é, sem sombra de dúvidas, aquele em que a gente está se divertindo tanto, a música tá tão boa e todo mundo tão animado que se esquece do calor, do suor, do dedinho que a biscate ao lado pisou com o salto agulha, enfim, do mundo. Abaixo seguem alguns sons que me deixam nesse estado de desprendimento:

The Ting Tings - Great DJ

O refrão-chiclete e facinho de acompanhar conquista a gente de cara (e lá se vai uma semana pra parar de cantarolar).

Vive la Fête - Noir Désir

A combinação de rock e eletrônica da dupla belga, misturada à voz rouca de Els Pynoo cantando em francês, resulta numa sonoridade sexy e inovadora, mesmo com os berros do final.

She Wants Revenge - Tear You Apart

Adoro a voz do vocalista (que lembra bastante a do Ian Curtis, falecido líder do Joy Division) e a letra que tem tudo a ver com as paixões fugazes que surgem e terminam em menos de uma noite. Isso e mais o refrão tóxico:

"I want to hold you close
Skin pressed against me tight
Lie still, and close your eyes girl
So lovely, it feels so right

I want to hold you close
Soft breasts, beating heart
As I whisper in your ear
'I want to fucking tear you apart' "

Billy Idol - Dancing With Myself

Ele se achava o cara mais gostoso do universo, forçava a barra pra deixar a voz parecida com a do Elvis e usava esse cabelo escroto (além de provavelmente ter algum grau de parentesco com o Supla), mas convenhamos que Mr. Idol continua irresistível...

New Order - Blue Monday

Classicão inconfundivelmente 80's.

The Strokes - You Only Live Once

Strokes são a cara da noite.

Blondie - Heart of Glass

Outro dia eu estava escutando e a minha mãe veio me dizer que essa era brega, vê se pode? Nem ligo, continuo querendo ser a Debbie Harry quando eu crescer.

The Pretenders - Middle of the Road

Posso ser a Chrissie Hynde também?

Ai... uma baladinha pelamordedeus!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

"Filha única de mãe solteira" e outras expressões condenadas pela Defesa Civil

A expressão daí de cima me atormentou por anos na infância, mas hoje em dia eu uso numa boa. Ela serve pra indicar que se está fazendo referência a algo único e que, se for perdido, não haverá outro para pôr no lugar. Deve vir de um tempo em que ser mãe solteira era a máxima desgraça na vida de uma mulher que, traumatizada, tomaria tenência e nunca mais repetiria o feito de procriar sem ser com seu marido de papel passado. 

Agora vamos à razão do meu trauma: durante muitos e muitos anos, eu fui filha única de mãe solteira. O padre da paróquia perto lá de casa nem queria me batizar (sim, é sério). A lógica provavelmente era de que todos somos frutos do pecado - o maravilhoso, diga-se de passagem, pecado original -, mas ter um filho fora dos laços sagrados do matrimônio era certeza de ter comprado uma passagem só de ida pra morada do capeta e ser apontada na rua como biscate.

O castigo que eu devia pagar aliás, era correr o risco de ir parar no limbo caso eu cantasse pra subir ainda bebê. Minha salvação (até aquele momento) foi garantida por uma amiga da minha avó, que tinha um conchavo com o padre da outra paróquia. Depois daqueles longínquos 1985, muitas águas rolaram, a Igreja aboliu o limbo, meu irmão nasceu e a mulherada liberou a pomba, desencanando da ideia de que mulher tem que casar pra ser feliz e respeitada.

Assim como a supramencionada, existem muitas e muitas expressões que e a gente usa sem nem pensar se o sentido original ainda se aplica no contexto atual. "Matar dois coelhos com uma cajadada só", por exemplo. Em primeiro lugar, quem aí já viu um coelho solto e saltitante pelo campo (fazendinha da escola não vale)? Em segundo, entre todas as bugingangas que a gente costuma entulhar em casa, é muito pouco provável que haja um cajado. Em terceiro: em tempos de ecoconsciência feroz, quem vai cometer a barbaridade de assassinar um coelho (hello, Glenn Close em "Atração Fatal"), quanto mais dois, ainda mais à base de porrada?  

Uma amiga me lembrou de quando a gente diz que "caiu a ficha" para os momentos de epifania, que deve ter sido herdada dos tempos em que se usava ficha pra telefonar. Ou quando alguém está enchendo a nossa paciência e mandamos o chato "virar o disco", relembrando os tempos de vinil, vitrolas e agulhas. Tem gente que, quando quer fechar a conta do bar, pede pro garçom "passar a régua". Segundo a grande sábia Jaque, essa vem do tempo em que se cobrava a cerveja medindo a quantidade de líquido na garrafa.

Apesar de seus sentidos defasados, expressões como essas ganharam vida independente e não há quem não saiba exatamente o que cada uma quer dizer. Será que a gente precisa sempre atualizar a linguagem, pra que ela se adapte aos costumes contemporâneos? Ou a língua se modifica de  maneira aleatória, como que por vontade própria?

Acredito que expressões nascem e morrem espontaneamente, de acordo com o uso ou desuso. Pagando de CDF, lembra das aulas de genética na escola? Quando diziam que as mutações não são uma resposta às demandas do ambiente, mas que podem permanecer caso favoreçam a sobrevivência nele? Acho que é por aí. Mas até que ia ser bom se, graças à fotografia digital, não desse mais pra "queimar o filme", nem o nosso nem o de ninguém. Ó que maravilha que seria a nossa vida. 

sábado, 2 de maio de 2009

Com um turbilhão no peito

Como dizem os religiosos, a palavra tem poder, e eu tenho perseverado nela. Auto-sugestão em doses cavalares. Fico dizendo pra mim mesma "Luanda, menos" e eu tento, juro que eu sou obediente a mim mesma e tento. Mas a verdade é que eu sou passional, o que me faz algumas vezes muito feliz e outras sofrer horrores. Se eu fico com alguém, ou não é nada de mais, passatempo, ou o mundo para de girar e eu me encanto com a pessoa. Sem meio-termo, sem ir levando pra ver no que dá, sem "tá ruim, mas tá bom". Se o cara não me tira o fôlego, estar com ele não faz o menor sentido.

Às vezes sou correspondida, às vezes não. Quando a pessoa não sentiu esse algo especial ou não tem coragem o bastante pra se arriscar - e eu falo sem recriminar, porque sei que o risco é grande e o preço é alto -, me recolho ao desamor. Entro no meu casulo de dor-de-cotovelo, quietinha no meu canto com as provisões necessárias de música triste, ombros amigos e sacarose, até que ela passe. Porque, do mesmo jeito que a paixão chega, ela vai embora em algum momento.

Não sou partidária daquela história de que só um novo amor cura outro. Se isso acontece - de aparecer um novo alguém e a gente se deixar envolver de novo -, é porque em alguma hora a gente já chegou à conclusão de que passou. Ou seja, só passa quando a gente já se desligou da pessoa e da frustração por aquilo não ter ido pelo rumo esperado, com a ajuda de um novo amor ou não. Sempre que vem uma desilusão, a dor nos marca com novas cicatrizes e traz uma certeza: nunca mais a gente quer sentir isso de novo. Só há um porém...

Ter um coração apenas morno e que bate o tempo inteiro no mesmo ritmo é mais confortável, mas a chance de amar e ser amada é boa demais pra ser preterida pela mediocridade. Se expor machuca, mas aquela ínfima possibilidade vale a pena. Por que não seguir o conselho recebido outro dia pela Moça do Fio e se deixar humanizar?

P.S. O post foi escrito sob influência de "Antes do Amanhecer" (aquele filme em que Julie Delpy e Ethan Hawke se conhecem numa viagem de trem e passam horas caminhando por Viena) + tarde ouvindo a discografia dos Beatles. Desculpem se ficou piegas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Na sarjeta

Voltando pra casa de madrugada, vejo um cara alto, em pé e encostado numa árvore, com a cabeça baixa. Parece que está vomitando, algo muito provável àquela hora, mas quando passo por ele percebo que me enganei: o cidadão está chorando. Muito. De soluçar e estar com o rosto vermelho, daquele jeito que a gente se envergonha de ficar em público.

Eram 4 da madrugada, o único ser humano próximo dele era um velhinho que dormia  sentado na entrada da pastelaria. O choro do homem era tão desesperado que achei melhor parar pra saber se ele precisava de alguma coisa. Como ele estava usando fones de ouvido, tirei o direito e perguntei:

- "Cara, cê tá bem? Que que houve?"

E ele respondeu:

- "Minha namorada terminou comigo... (soluça) e não vai mais voltar (emenda com choro desconsolado)"

Não havia muito o que eu pudesse fazer. Convenci o indivíduo a voltar pra casa e continuar chorando na cama, que é lugar quente, como diria a minha avó. Ou melhor, acho que convenci, porque ele pode simplesmente ter ido em busca de outro lugar pra chorar em paz agarrado a outra árvore, sem nenhuma garota impertinente enchendo a paciência dele.

Ele tinha razão: não há dor maior que a de um coração partido.

domingo, 26 de abril de 2009

Os losers estão na moda?

Festinha, sexta-feira, casa de um amigo. Ao avançar da noite, abri um vídeo da Beyoncé no You Tube (se eu não me engano, quando eu queria mostrar que a fonte da qual ela sempre bebeu é a Tina Turner). Um dos convidados levantou a bola de que ela incentiva a vulgaridade e a desvalorização feminina e o papo foi indo, indo...enfim, rendeu pra caramba.

O tema geral era de como a sociedade contemporânea é opressiva com os padrões de beleza e com a obsessão de criar um modelo de "vencedor". Um dos tópicos que apareceram foi de que, hoje em dia, na verdade, haveria uma pressão menor e uma tolerância maior às diferenças, já que ser loser agora é moda. Na hora, a frase passou meio batida, mas depois comecei a pensar mais a fundo a respeito.

Já faz um tempo que personagens improváveis no entretenimento se tornam sucesso. Nos atendo só ao mundo da música, vemos Buddy Holly, por exemplo. O cara usava óculos fundo-de-garrafa com aros grossos e era magricelo, meio careca e dentuço, mas se tornou uma influência pra uma cambada de músicos renomados, como o mestre Bob Dylan. A música "American Pie", regravada pela Madonna, foi escrita por Don McLean em homenagem a ele e, em um dos versos, se refere ao 3 de fevereiro de 1959 - quando o cantor sofreu um acidente fatal de avião - como o dia em que a música morreu.

Billie Holiday era negra, pobre, chegou a se prostituir para sobreviver e, segundo alguns, era homossexual. Pra completar, aquele estranho fruto nascido nos Estados Unidos dos anos 10 tinha uma voz incomum. Aquela rouquidão podia ser bonita numa música? Pois era. Não é a toa que, até hoje, Lady Day é considerada uma das grandes divas do jazz.

Dando um salto no tempo, o Weezer chegou com um jeito diferente de fazer rock and roll. Um jeito nerd, pra ser mais exata. O Nirvana é mais um exemplo de banda esquisita - no som sujo e nos integrantes sem a menor pinta de galãs - que deixou a sua marca definitiva na música. A onda emo também: ou alguém aí tem alguma dúvida de que os caras não eram os mais populares da escola?

A vocalista do trio The Gossip, Beth Ditto, é gay e está muito acima do peso considerado aceitável. Cê acha que ela liga? Coisa nenhuma: está sempre com as roupas mais extravagantes e se acha linda, saiu até nua na capa da revista gringa NME (New Musical Express). E ainda temos Susan Boyle, a escocesa coroa e baranga que encantou o mundo cantando I dreamed a dream (do musical Les Misérables) no programa Britain's Got Talent.

O que chama a atenção nos fenômenos loser não é apenas o visual. Além de não terem o "visual certo", eles não falam apenas de tudo que é lindo e florido, sobre amores perfeitos, como são o máximo ou como é maravilhoso ter grana. Os losers cantam as dores de cotovelo, a sensação de ser inadequado, as dúvidas, a solidão.

Talvez venha daí sua identificação com um público imenso que não está mais a fim de tentar se encaixar num padrão inalcançável e que quer ouvir e ver alguém que se pareça com ele. Tá certo que, com o sucesso, surge a questão de se os "perdedores" acabam se tornando "vencedores", mas aí é outra história, que eu estou com uma preguiça dos diabos de abordar.

Passo a bola pra vocês: será que os losers estão mesmo na moda?

terça-feira, 21 de abril de 2009

Operação Lair Ribeiro

Sempre fui gastadeira e nunca importou o tamanho do salário: quanto mais eu ganho, mais gasto. Quando eu bebo, então, nem se fala. É um tal de "imagina, cê vai deixar de ir só porque tá sem dinheiro? Pode deixar que eu pago e um dia você me devolve!". Poupança? Nunca funcionou comigo. Sempre fui de seguir a lógica do "eu mereço" e gastar como uma forma de me recompensar pelo tempo de trabalho ou estudo. Em 2008, os excessos chegaram a um ponto perigoso. No fim do mês, eu havia gasto boa parte do que eu tinha saindo à noite, no shopping ou comendo fora.

Não que eu ache nada disso totalmente supérfluo, mas o que faltava era moderação pra que eu deixasse alguma coisa para prioridades que iam ficando de lado. Como sempre tive horror a dívida, vi que já era hora de virar gente e fazer algo mais útil con mi plata. Em 2009, eu iria começar a enxugar os gastos. O plano já estava em pauta há tempos, mas era como uma daquelas malditas "leis que não pegaram". Decidida, não sem uma intensa dor no coração, levei o corte de despesas a cabo.

O primeiro passo foi deixar meus amados cartões de crédito e de lojas de departamentos em casa, pra evitar a tentação. Existe aquela história de que é bom sempre ter um Visa ou Master na carteira pra qualquer emergência, mas no auge das minhas crises consumistas, até uma sapatilha di-vi-na se torna indispensável a minha sobrevivência e depois eu que me lasco com a fatura.

Depois, precisei me reeducar e diminuir as idas ao cinema, a bares, restaurantes, shows e casas noturnas. A cada saída, eu gastava uns 40 contos e, saindo pelo menos duas vezes por semana, eram no mínimo R$320 por mês. Cheguei à conclusão de que eu poderia perfeitamente cortar essa grana toda pela metade sem enlouquecer ou virar uma eremita. Bastava passar mais um tempinho na comodidade do lar ou escolher programas mais baratos, além de SEMPRE ir em busca de listas amigas e filipetas antes de colocar os pézinhos pra fora de casa.

Se existe uma coisa que eu amo nessa vida é a TV a cabo. Ah, sua programação cheia de filmes e seriados, a riqueza de opções, a qualidade da imagem... a vida é muito melhor com ela. Tenho um daqueles combos, mas como pagar o meu estava meio pesado, optei por um pacote com menos canais e por reduzir a velocidade da banda larga. Esse deu dó, de verdade, mas pelo menos a economia foi boa.

A última mudança foi com o celular. Pagando uma nota todo mês, aceitei o fato de que falo pelos cotovelos e troquei meu plano por outro um pouco mais caro, mas que parece ser mais vantajoso no custo-benefício. Houve uma época em que não havia celular e ninguém sentia falta dele, mas hoje não se pode mais imaginar o dia-a-dia sem o aparelho e não sou eu que vou voltar para os tempos sombrios em que as únicas escolhas eram os orelhões ou os telefones para recado.

Uma vez, ouvi um ator dizendo que já havia desenhado seu caixão e este não ia ter gavetas. Ou seja, vivia sem regular moedinha pois ia sair dessa vida sem levar nada. Concordo plenamente com ele: dinheiro foi feito pra ser gasto. Bem gasto, na verdade, sem pão-durice nem descontrole. O caminho é pensar duas, dez, mil e quinhentas vezes antes de gastar, é fazer do dinheiro uma solução e não um problema. Ainda não cheguei ao ponto que eu considero ideal, mas acho que chego lá daqui a pouco.

Nunca tive lá grandes dívidas, mas quando percebi que eu, com cada vez mais frequência, recorria ao cheque especial e a saques do cartão de crédito, ia cobrindo um gasto com outro ou não fazia ideia de como o meu dinheiro havia ido embora, achei que alguma coisa estava errada. Pra quem também está cortando um dobrado com o orçamento ou simplesmente quer descobrir uma forma mais consciente de gastar, acabei de encontrar o site do Devedores Anônimos no Rio, é http://devedoresanonimos-rio.org/.

domingo, 19 de abril de 2009

Me rendi ao Twitter

Finalmente resolvi aderir a ele. Pra quem quiser acompanhar, o link é http://twitter.com/Luanda_de_Lima

Beijos a todos e té mais!

domingo, 12 de abril de 2009

Testando o oscilômetro

O Mundo Canibal é um site com animações toscas, sarcásticas e politicamente incorretas. Um de seus personagens mais famosos é um palhaço com baixíssima tolerância a coisas irritantes. Para medir o seu "nível de irritabilidade", aparece na tela o oscilômetro, como no vídeo abaixo:

A exemplo do personagem, existem algumas coisas que, por mais banais que sejam, deixam o meu oscilômetro a ponto de explodir (o seu não?):

* Nextel e mp3 no viva voz

Essa é mais comum em transportes públicos. Por que, meu senhor? Por que? Se existe a possibilidade de usar o aparelhinho da forma tradicional, pra que deixar o bicho com o volume nas alturas e acabar com o sossego dos cidadãos inocentes em volta?

* Atendimento automático

O hit dos serviços de atendimento ao cliente é economizar funcionários tentando resolver o máximo de problemas possíveis com base na orientação de uma voz - geralmente feminina - gravada. Além dos minutos a fio esperando a opção que condiz com o motivo da ligação ("para problemas com a sua conta, tecle 1208"), ainda corremos o risco de, quando por acaso apertamos a tecla errada, não conseguir mais voltar pro menu principal e cair num limbo telefônico. Pior ainda são os serviços em que a gente precisa falar o que deseja, porque a mulézinha nunca entende a coisa certa, por exemplo:

Voz de aeroporto - "Diga agora o motivo da sua ligação"

Você - "Alteração de endereço do titular"

Voz de aeroporto - "Ah, entendi: cancelamento da sua assinatura"

Budaguibariu.

* "Não aceita, não aceita!"

Tudo bem que existem outras formas de falar sobre assuntos confidenciais, mas a praticidade faz com que muitas vezes a gente escolha mandar depoimentos no Orkut, já que estes a princípio são visíveis apenas para o destinatário. A merda é quando o indivíduo clica em aceitar a mensagem. Adeus, privacidade.

* Vendedoras zuperamigas

Você está lá, na sua, dando uma olhadinha nos produtos de alguma loja, quando chega aquela pessoa sorridente pra acabar com a sua paz. Adoro vendedoras que chegam, se apresentam, dizem que é só avisar se precisar de ajuda e te deixam voltar para o delicioso esporte do consumo. O que me dá nos nervos são aquelas que mostram a loja inteira, mesmo que você só queira só uma camiseta básica, abrem a cortina do provador - dizendo que "ficou linda!", mesmo que a peça em questão tenha ficado pavorosa - e agem como se você fosse uma amiga de infância. 

* Panfletistas

Não, eu não quero o meu amor de volta em sete dias, vender meu único cordãozinho de outro ou pegar um empréstimo "rápido e sem burocracia". Dependendo do ponto da cidade, é tanta gente distribuindo papel que eu me sinto tendo que desviar das tartaruguinhas do Super Mario Bros.

* Fala, mas não encosta!

Todo mundo tem uma "zona de conforto" em volta de si. Se, durante uma conversa, alguém a ultrapassa, é como se estivesse invadindo esse espaço, especialmente se a outra pessoa não for íntima o bastante pra que a gente permita uma aproximação maior. Nada mais angustiante do que falar com um desconhecido que faz questão de segurar o seu braço ou que tem o desagradável hábito de abusar do contato físico durante a conversa.    

* Musiquinha do plantão da Globo

Juro que tenho taquicardia quando escuto. Sinal de que deu alguma merda das grandes.

* Crianças-prodígio

Desconfio que são todas anãs ou extraterrestres disfarçadas.

* Olhos famintos

Às vezes eu preferiria não ter visão periférica. Vou explicar: eu tenho mania de andar com uma revista ou um livro na bolsa, pra ler sempre que surge um tempinho de folga. O porém é quando percebo que tem um enxerido com o olhão em cima da minha leitura. Uma veia começa a pular na minha testa e a minha concentração vai pras cucuias.

E com você? O que faz o seu oscilômetro disparar? 

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Aquela camiseta

Há uns dias, eu ia postar um texto todo meloso sobre como uma foto me fez lembrar de outros tempos, em que eu estava enrolada com um cara que não me queria. De quando eu ainda acreditava em amor pra vida toda, alma gêmea, essas coisas. De quando eu ainda não conhecia o cinismo que nasce de uma decepção depois de outra e mais outra. De quando eu não sorria com sarcasmo quando alguém diz "eu te amo" num filme qualquer.

Lembrei que uma vez dormi vestindo aquela camiseta de banda que ele usa na foto, inebriada com a sensação de tê-lo mais perto. Do perfume importado e pedante, que ainda hoje me faz parar na rua vez ou outra, tentando adivinhar quem será o dono do cheiro dele. 

Olhei pra foto, pensei, ri com o canto da boca e a deixei de lado. Era uma lembrança desbotada, de quando eu amava mais e também sofria mais. Hoje, nem mesmo o tal cara pode me fazer sentir o que eu senti em outros tempos. Hoje o texto me pareceu ridículo. Estou a cada dia mais indiferente. Não sei se sinto medo ou alívio.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Amor de borracha

Não, eu não vou falar sobre vibradores, antes que alguém abra um sorrisinho cretino. Esse post é sobre A Garota Ideal, que passou na última Maratona do Odeon e estreia por aqui dia 30. Na tal Maratona, o filme foi o último a passar, lá pelas cinco da manhã (quando todo mundo já tirava um cochilo na poltrona), mas fez o público acordar e rir horrores com a história.

Lars - Ryan Gosling, irresistível com cara de cachorrinho abandonado - é um cara solitário e meio weirdo, que vive na casa vizinha à de seu irmão e da cunhada, grávida do primeiro filho. Ela está preocupada com o crescente isolamento do cunhado, mas desiste de insistir quando o marido conversa com Lars e conclui que está tudo bem.

Uma noite Lars bate à porta com uma novidade: está recebendo uma visita em casa. Segundo ele, é Bianca, uma brasileira (rá rá) que conheceu pela internet e anda em uma cadeira de rodas, razão pela qual pede que o irmão e a cunhada cedam um quarto e façam companhia a sua namorada enquanto ele está no trabalho.

Para a surpresa do casal, Bianca é uma boneca de borracha, em tamanho real, que Lars trata como uma pessoa como qualquer outra. Quando a cunhada decide levá-lo a uma psicóloga - a ótima Patricia Clarkson -, esta os aconselha a entrar no jogo dele até que o delírio passe. Apesar da estranheza no início, não apenas o casal, mas toda a cidade começa então a tratar a boneca como um ser humano. Bianca se torna voluntária no hospital, vai à missa, acompanha Lars em uma festa do trabalho, enfim, se integra perfeitamente ao cotidiano local. Ao mesmo tempo que é divertido, o filme é de uma melancolia sem tamanho e faz pensar sobre s0lidão e sobre como às vezes projetamos os nossos desejos sobre terceiros. Doce e perturbador.

domingo, 5 de abril de 2009

"Não sonhe, seja"

A frase aí do título é de um dos ótimos filmes a que eu assisti ontem: Rocky Horror Picture Show. É um musical de terror e rock, de 1975, com várias referências aos filmes B dos anos 50. RHPS começa com o noivado dos jovens santinhos Brad e Janet - a divina Susan Sarandon no começo da carreira - que, por causa de um pneu furado, vão parar num castelo assustador e acabam descobrindo as delícias da perdição.
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Hipnotizante o sweet transvestite interpretado por Tim Curry, sexy com meia arrastão e um olhar insano permanente. O filme é, basicamente, sobre a eterna briga entre conservadorismo e progressismo, sobre como a liberdade sexual incomoda e assusta. Considerando que alguém leia esse blog e siga as minhas sugestões (existe probabilidade negativa?), se ligue que o mordomo do castelo é o criador do roteiro original, Richard O'Brien.
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O dvd da edição especial de 25 anos do lançamento vem com um documentário bem legal sobre a produção, a peça que deu origem a ela, seu sucesso tardio e o inesperado culto ao filme, que ainda hoje é exibido regularmente em alguns cinemas nos Estados Unidos. As sessões reúnem fãs que conhecem as falas e as músicas de cor e ainda aparecem fantasiados como os personagens.
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Engraçada a ligação entre RHPC e o outro filme que eu vi, o israelense Bubble (esse, bem mais recente, de 2006). O nome se deve ao modo como algumas pessoas se referem a Tel Aviv, uma bolha em que todos parecem viver alheios à realidade política local.
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No filme, três amigos judeus - Noam, Yelli e Lulu - dividem um apartamento e vivem entre um café ao som de Bebel Gilberto, encontros e desencontros amorosos, uma rave aqui e um showzinho de jazz acolá.
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Quando Noam se apaixona pelo palestino Ashraf, os amigos decidem ajudar o novo namorado do amigo a ficar do lado judeu da fronteira, mas as coisas acabam se complicando e o conflito entre judeus e palestinos entra metendo o pé na porta, sem falar da óbvia homofobia que atinge o casal.
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E dá pra falar de homofobia, intolerância religiosa, amizade, conflitos no Oriente Médio, amor, cultura, sexo e mais um bando de temas, tudo no mesmo filme? Pois o diretor Eytan Fox foi habilidoso o bastante pra costurar isso tudo num filme pop, com referências que vão da boy band Take That a Jules e Jim, clássico de François Truffaut.
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Bubble - por que não traduzir para A Bolha? - consegue ser divertido, atual, politizado, sensível e charmoso. As cenas de sexo passam longe da vulgaridade, o amor e a amizade sinceros dão a tônica do filme e ainda tem Keren Ann cantando a delicada Sit in the Sun na trilha. Definitivamente, entrou para a lista dos meus preferidos.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Pornô romântico

"Cara, então o Kevin Smith é o Silent Bob?!", pensei ontem quando finalmente descobri, por acaso, a identidade nem tão secreta do personagem de filmes que eu adoro, como Procura-se Amy e Dogma. O primeiro, inclusive, eu tenho em VHS (love ya, Matt). O que eu já sabia sobre Smith é que ele é o diretor dos filmes citados e que agora está em cartaz com Pagando Bem, Que Mal Tem? (em que está apenas atrás das câmeras). Eu estava morrendo de vontade de assistir e, tadá, desejo finalmente satisfeito. 

Tem gente que torce o nariz pra besteirol e acha que comédia só vale a pena mesmo ser for de "humor inteligente, tipo Woody Allen". O que esse pessoal não sabe é que tem, sim, como ser bobo e inteligente ao mesmo tempo; fazer piadas escatológicas e politicamente incorretas sem cair no óbvio ou no constrangedor. Não que não haja clichês no filme. Afinal, todo mundo já sabe o que vai acontecer quando Zack e Miriam, apenas-amigos-desde-sempre, resolvem unir forças em um projeto radical pra tirar os dois da lama. 

Imagine que você não tem dinheiro pra nada. Cortaram a sua luz em pleno inverno e a sua água bem na hora de tirar o xampu do cabelo. Suas partes íntimas foram filmadas por descuido e o vídeo amador agora é um viral do You Tube. A solução do casal protagonista, que está na casa dos 30 sem nada do que imaginava na época de escola (hello, futuro) e divide aluguel e dezenas de contas atrasadas, está longe de ser convencional: fazer um filme pornô de baixíssimo orçamento. O título em inglês é bem no estilo "desisto, deixa qualquer coisa então": Zach and Miri Make a Porno.

Como Zack e Miri, estão Seth Rogen (o gordinho de Ligeiramente Grávidos e O Virgem de 40 Anos) e Elizabeth Banks. Apesar de os dois segurarem super bem o filme, os coadjuvantes garantem uma grande parte da graça. Atores como Jason Mewes (o Jay, dupla de Silent Bob, aqui no papel de Lester), Craig Robinson (Delaney, o amigo que topa bancar a produção) e a pornstar Traci Lords rendem aquelas risadas de fazer pifar um diafragma. Ótima pedida pra rir bastante e curtir uma comédia romântica que é, de um jeito incomum e despudorado, o que Pagando Bem, Que Mal Tem? é. E uma dica (love ya, Matt parte II): só saia do cinema depois que os créditos acabarem.

sábado, 28 de março de 2009

A Guerra Fria, um broche manchado de sangue e um comediante morto

Não sou lá muito fã de filmes de ação mas, por algum motivo, adoro os de super-heróis. Esses dias fui ver Watchmen e adorei, com a única ressalva de que até a maior obra-prima do cinema fica meio cansativa com três horas de filme. Fora isso, a produção impressiona e não é pouco. A direção é de Zack Snyder, o mesmo de 300, outro achado entre os filmes do gênero.

Os efeitos e as ótimas cenas de luta já deleitam aqueles que curtem uma pancadaria de qualidade. E a trilha sonora... ai, a trilha sonora... Nat King Cole, Bob Dylan, Billie Holiday e Janis Joplin são apenas uma amostra do que se pode ouvir, extasiado, nas cenas. Hallelujah, do Leonard Cohen, numa cena de sexo? Quem iria imaginar... 

O filme se passa nos anos 80, em meio à paranoia americana de um cataclisma nuclear provocado pela União Soviética. Os super-heróis estão aposentados da luta contra o crime e vivem incorporados ao sistema. Alguns, tanto da nova geração quanto da anterior, já morreram. Quando o Comediante é assassinado, o sinistro Rorschach decide reunir os antigos colegas para lutar contra o que acredita ser uma ameaça ao grupo. 

Nos passos do Homem-Aranha e do Batman, o mais fascinante aqui são os conflitos humanos, que aproximam os personagens de indivíduos reais e com problemas muito mais difíceis de solucionar que um super-vilão obcecado por dominar o mundo,  como a frustração no casamento, uma timidez paralisante, o preconceito da sociedade, o alcoolismo ou a falta de atenção do parceiro durante o sexo. 

Ah, sim, e pra quem ficar quebrando a cabeça pra descobrir de onde conhece o ator que faz o tal Comediante (Jeffrey Dean Morgan) e também for viciado em seriados de TV, ele era o Denny Duquette de Grey's Anatomy.  O site oficial é bem bacana pra conhecer curiosidades sobre a produção, os quadrinhos que deram origem a ela e para assistir a trechos do filme.

sábado, 21 de março de 2009

"Come on raaaain down on me"

Depois de muito me torturar pensando se ia ou não ao Just a Fest (Los Hermanos + Kraftwerk + Radiohead) graças ao preço do ingresso, na tarde de ontem resolvi jogar de vez a liseira pro alto e ir. Lá fui eu desembestada pra comprar o ingresso antes de a bilheteria fechar e entrei, pela primeira vez, na Apoteose. Engraçado ter sido por algo que não tinha nada a ver com Carnaval.  

A princípio, fui principalmente por causa do Los Hermanos, já que sabe Deus quando eles iriam se reunir de novo, mas os três shows foram uma grata surpresa. A acústica do local, que eu imaginei que devia ser horrorosa, super deu conta do recado, pra começar. Os grupos tocaram sem grandes atrasos e, tirando a falta de lixeiras (o que fez com que, no final dos shows, a Apoteose ficasse parecendo o aterro de Gramacho) e o preço dos comes e bebes (hein? 6 reais por um sanduíche natural?), não vi o que criticar da organização do evento.

Acho que acabei indo com uma expectativa muito grande para os Hermanos, que fizeram uma apresentação boa, mas não ótima, excepcional, cataclísmica, como eu esperava. Como os integrantes haviam prometido, a banda preparou um setlist bem variado (de "A Flor" a "Morena") e longo para o padrão de um festival. Será que eles atendem ao pedido em coro de "volta, Los Hermanos!" e decidem terminar o tal recesso por tempo indeterminado?

Teve um pessoal que desanimou quando o Kraftwerk entrou no palco e a pista esvaziou bastante, mas eu tava lá eufórica com a apresentação. Fora o básico (que eles são os pais da eletrônica e blá blá blá), eu conheço bem pouco do som dos alemães, então foi a oportunidade perfeita de ouvir e ficar curiosa pra procurar por mais. "Musique non stop" e "The Model" foram as que empolgaram mais. Achei duca os efeitos de palco, os macacões (quero um daqueles com listras verdes que brilham!) e os vídeos dos telões, que exibiam imagens de modelos dos anos 40, trens a vapor, a corrida de bicicletas Tour de France e muito mais.

Quando terminou o show, uma muvuca invadiu a pista e começou a se posicionar para o gran finale, com o Radiohead. Eu nem sou lá tão fã assim da banda, mas a apresentação foi, em uma palavra, catártica. O duende Yorke, muito mais simpático e descontraído do que eu podia imaginar, levantou o público por mais de duas horas. Até "Creep" eles tocaram.

Meia hora depois do show, eu ainda não havia saído do transe e continuava berrando trechos de "Paranoid Android". A iluminação do palco e a filmagem exibida nos telões completaram o que já estava incrível. E olha que eu fui agredida por uns brucutus, queimada no dedinho com cigarro e tomei um banho de um vendedor de água, o que, em circunstâncias normais, teria acabado com o meu bom humor. Ainda bem que a música, mais uma vez, salvou a noite.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Escutando "Caminhos Cruzados"

Agora eu só quero um que me trate bem. Que me leve pra um cinema e depois pra jantar. Com quem eu ria gostoso vendo TV até bem tarde e acorde de conchinha no sábado só depois que o sono acabar. Que me faça ter vontade de ligar pra dizer "tava ouvindo uma música e lembrei de você" sem aquele receio de colocar o cara pra correr.

Não quero mais a tormenta, a instabilidade, o frio de medo no começo. Quero combinar uma viagem pro final do ano. Vontade danada de balançar a dois na rede, esperando o sono vir,  escutando o barulhinho bom que o gancho faz... 

sábado, 7 de março de 2009

Curiosidades de Buenos Aires

1- Cadeirante (e turista com mala de rodinhas) se fode

Não se veem rampas de acesso quase em lugar nenhum. No metrô, então, nem se fala, são escadas fixas que não têm mais fim.

2- Onde estão os negros?

Quarta-feira, esperando a minha estação do metrô chegar, comecei a sentir que faltava algo naquele cenário. De repente, percebi: só havia gente branca ou, no máximo, com cara de índio por lá. Dali em diante, fui andando alarmada pelas ruas, procurando, e nada. Os únicos negros que eu vi até o fim da viagem eram turistas e, mesmo assim, muito poucos. Tá certo que deve ser pela forma de colonização do país, mas ainda assim é muito esquisita aquela alvura toda.

3 - Os barbeiros da cidade devem passar fome

Quase todos os homens jovens parecem que cortaram o cabelo em casa, no mais autêntico estilo "peguei-a-tesoura-de-costura-da-minha-mãe-pra-ver-no-que-dava-e-ficou-assim". Mullet tá super na moda por lá, isso quando os cabelos não se assemelham a uns desordenados ninhos de passarinho. 

4 - Os portenhos amam pombos

Enquanto aqui a gente tem pavor de pombos pelas doenças que os bichos podem causar e acha que eles são ratos que voam, lá eles são tipo pets. Nas vezes em que passei pela Plaza de Mayo, havia pessoas pegando as aves nas mãos, deixando que pousassem numa boa nos dedos e tinha até um pai todo orgulhoso vendo o filho sacudindo um pombo de ponta-cabeça, pelo rabo. Pânico.

5 - Os caras de lá são galanteadores

A vida de uma mulher andando nas ruas do Rio pode ser deprimente. Os comentário supostamente elogiosos dos passantes são de "gostosa" pra baixo. Lá, se ouve muito mais "hermosa" (que seria um muito mais gentil "bonita"). Isso quando os caras não puxam conversa do nada e se oferecem pra pagar uma bebida.

6 - Os motoristas de ônibus são os seres mais inocentes do mundo ou os portenhos são muito honestos

Quando se entra num colectivo, o valor da passagem aumenta de acordo com o trajeto que se vai percorrer, além do fato de não haver roleta. Com a cara-de-pau de muitos dos nossos compatriotas, tenho certeza de que a prática não ia dar muito certo por aqui. Pra pagar mais barato, malandro ia dizer que ia descer logo na esquina quando, na verdade, fosse ficar só no ponto final. Isso quando não desse um balão no motorista pra não pagar a passagem. 

7 - Mania de pomelo

O pomelo é uma fruta super ácida, prima da laranja, que é usada como sabor de tudo quanto é bebida de lá. É refrigerante, Gatorade, suco, tudo sabor pomelo. Provei uma Aquarius e me arrependi profundamente. É de beber fazendo careta.

8 - Ai, o doce de leite...

Já tinham me falado que o doce de leite deles era um espetáculo, mas eu continuava incrédula, pensando que nada podia ser melhor que o nosso de Minas. Ledo engano: é uma maravilha mesmo. Tanto o doce em si quanto o helado de dulce de leche granizado (da sorveteria Freddo) são imperdíveis. 

9 - Reações adversas do intercâmbio cultural

Depois de visitar um museu, fui dar uma volta no shopping do bairro. Entrei numa loja e, enquanto olhava as araras, comecei a ouvir uma melodia conhecida. Eu não conseguia lembrar de que música era, até que começou o refrão:

y se pega la boquita a la botella
(en la boca en la botella)
encima la boquita en la botella,
(en la boca en la botella)

Não! Era impossível, seria terrível demais... Mas não dava pra negar, era mesmo uma versão em espanhol para "Na Boquinha da Garrafa".

10 - Não adianta tentar se misturar: todo mundo saca que você é turista

No início, bem que eu achei que o meu Espanhol dava pra enganar. No entanto, bastavam 5 segundos de conversa com um local pra escutar "Y de que parte de Brasil eres?". Só consegui me sair melhor quando fui comprar uma bebida no bar de uma casa noturna, já que não se ouvia o meu sotaque por causa da barulheira e os atendentes devem entender os pedidos por leitura labial. Voltei muito mais solidária com os gringos que cortam um dobrado aqui tentando desenrolar o Português.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dois pra lá, dois pra cá

Os filmes de dança deveriam ocupar sua própria sessão na locadora, em vez de ficarem injustamente ao lado dos musicais. Como se as produções com e sobre dança fossem iguais a um "My Fair Lady" ou a um dvd da Ivete Sangalo. Não, senhor.

Os exemplares dessa espécie têm algumas características facilmente observáveis e que os torna um gênero à parte, como a superação dos conflitos pela dança, o corpo como instrumento de catarse, a dança quase como ritual de acasalamento e, principalmente, a capacidade de levar o público a acompanhar o filme com as mãos e/ou os pés no ritmo da música.

Mesmo quem dá nó nas pernas quando dança sabe o quanto é bom escutar uma música contagiante e se deixar levar, por isso esses filmes costumam ter tanto apelo junto ao público. Lembrei de alguns representantes desse grupo especial do cinema e os mesmos seguem abaixo para o deleite tanto de desajeitados quanto de pés-de-valsa. 

* "Os Embalos de Sábado à Noite" (1977) - Clássico absoluto com John Travolta no papel de Tony Manero (adoro o nome). Durante a semana, Manero é um anônimo vendedor de uma loja de tintas, mas nas noites de sábado ele é o rei da discoteca. Pausa para conter o riso involuntário com o termo. Continuando... o filme não é um ícone à toa. O figurino (dá-lhe calça boca-de-sino), as coreografias, a trilha dos Bee Gees e até o jeito de andar de Manero marcaram época.

 

* "Flashdance" (1983) - Deus abençoe o fim dos anos 80. Com esse filme fica claro porque condicionadores leave-in, calça baixa e o declínio do permanente revolucionaram a vida feminina. Aqui, Jennifer Beals é a operária de uma metalúrgica que faz bicos dançando num inferninho e sonha em ser bailarina profissional. "Flashdance" é tão conhecido que aparece em "Shrek 2", no clipe de "I'm Glad" (de J.Lo) e em muitas outras referências da cultura pop.

* "Dirty Dancing - Ritmo Quente" (1987) - Pra quem acha que o único blockbuster de Patrick Swayze foi "Ghost",  taí mais uma amostra do quanto o cara se deu bem fazendo um galã canastrão. Aqui, ele é Johnny, professor de dança de um hotel em que Baby, uma adolescente riquinha, vai passar férias com a família nos anos 60. Uma noite, ela entra escondida no alojamento dos empregados e descobre que eles adoram fazer festas com danças super sensuais. Ela decide, então, ter aulas com Johnny e participar de um concurso de dança. Detalhe para "I've Had the Time of my Life", que ganhou o Oscar de Melhor Canção Original. O filme rendeu uma continuação em 2004, com o sem sal do Diego Luna fazendo um cubano cheio dos requebrados.

* "Vem Dançar Comigo" (1992) - O cult-brega une alguns dos maiores clichês do cinema: um jovem que sonha alto, uma baranga que se torna uma mulher deslumbrante ao longo do filme, um hit grudento - no caso, "Love Is In The Air" - e vilões maquiavélicos. O mais bacana do filme é que ele assume a sua cafonice nos figurinos, na maquiagem, nos cabelos e principalmente nas interpretações exageradas. 

* "Footloose - Ritmo Louco" (1994) - Dá pra imaginar uma cidade do interior em que é proibido ouvir música pagã e dançar? Graças a um trauma pessoal do pastor da paróquia local, é isso mesmo que acontece no filme. E quem chega pra salvar a população dessa crueldade? Sobe tema de "2001: Uma Odisséia no Espaço", porque lá vem o rebelde...Kevin Bacon! 

* "Billy Elliot" (2000) - Durante as greves de mineiros numa pequena cidade da Inglaterra, o menino que dá título ao filme treina boxe ao lado de um estúdio de balé. Em pouco tempo, ele se encanta com a dança e começa a ter aulas escondido. Tá na cara que vai ser difícil para que ele mesmo e principalmente para que seu pai casca-grossa aceitem seu interesse inusitado. 

* "No Balanço do Amor" (2001) - Depois de perder a mãe num trágico acidente e se mudar para uma nova cidade com o pai, a personagem de Julia Stiles conhece um rapaz negro que a ajuda a se integrar ao novo ambiente e expande seus horizontes ao apresentá-la ao hip hop. O casal precisa, então, encarar uma penca de preconceitos e fazer com que ela supere o trauma recente. 

* "Dança Comigo" (2004) - Richard Gere é como o vinho (inevitável a metáfora de quinta mão). Além de todo o charme do ator, o filme ainda conta com a sempre irretocável Susan Sarandon como uma mulher de meia-idade que vê seu casamento esfriando, além da caliente Jennifer Lopez como a professora de dança de um grupo engraçadíssimo. Boa parte do charme da produção está nos coadjuvantes, como o advogado que criou um personagem latino para dançar sem virar piada no escritório e uma cabeleireira extravagante que se torna a rainha do estúdio à noite.