domingo, 28 de setembro de 2008

Alguém invente (logo) o pára-brisas para óculos

Mais um domingo atipicamente frio e chuvoso no Rio. Dia de usar cachecol, bota de cano alto e me empanturrar de doces de São Cosme e Damião (doados gentilmente pela minha vizinha) usando a desculpa de que preciso de reserva lipídica. Não tem Kleenex que deixe as lentes dos óculos menos turvas.

Como em Magnólia (aquele filme com Tom-Cruise-cabelinho-chanel e Philip Seymour Hoffman), acredito que o clima afeta o humor dos indivíduos. No frio, a gente acaba ficando mais introspectivo e solitário, com vontade de ter os pés aquecidos por outros pés. De comer chocolate e ver tv a cabo, de ouvir jazz ou música tocada no violão ou piano (nesse exato momento, a opção é Aimee Mann, por sinal, trilha de Magnólia). As horas demoram mais a passar; melhor aproveitá-las em boa companhia.

A serotonina da barra de chocolate devorada em segundos já começa a fazer efeito e aplacar o motim hormonal de hoje mais cedo. Chegam boas novas por telefone. Life's sweet sometimes...



 

Overdose de Placebo (captou?)

Do outro lado da lente


Se existe algo que faz parte do cotidiano de todo carioca é a violência urbana. Se não diretamente, ao menos pelas notícias veiculadas na imprensa. "Abaixando a máquina", documentário do Festival (na mostra Cenas do Rio), dirigido por Guillermo Planel e Renato de Paula, mostra um lado pouco conhecido dessas notícias: o dos fotógrafos.

A câmera acompanha profissionais de alguns dos maiores jornais do Rio de Janeiro no seu dia-a-dia, em que correr em tiroteios, se esconder atrás de carros para fugir dos tiros e acompanhar enterros de vítimas é tão habitual quanto tomar café de manhã. Além disso, o filme discute questões éticas envolvidas no ato de fotografar e na relação com os fotografados.

Além das imagens de campo, há também depoimentos dos próprios fotógrafos, de líderes comunitários, psicanalistas e autoridades. É uma boa oportunidade para, além de conhecer mais sobre o trabalho daqueles profissionais, observar a situação atual do Rio de Janeiro por um outro ângulo.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A miséria de todo dia


Hoje fui ao sobrado do Festival para me reunir com os outros voluntários do blog (by the way, http://festivaldorio2008noticiasdofront.blogspot.com/), mas quando chegamos, tinha havido uma pane na rede e ninguém tinha internet. Resolvi dar uma passada nas Americanas da esquina e comprar alguma coisa pra comer enquanto a gente não podia trabalhar. 

Quando cheguei lá, já tonta de fome, vi que estava rolando aquela "promoção" de três barras de chocolate por R$10,00 e escolhi um Alpino, um Crunch e um meio amargo. Já saí da loja comendo uns pedaços de Alpino, enquanto conversava com o Breno e a Paula. Eis que um menino de rua bem novo, de uns 9 anos, negro e descalço (nesse dia chuvoso e frio de hoje) para ao meu lado e diz "oi, tia, dá um pedaço aí!". Sem pensar duas vezes, enfiei a mão na sacola da loja, tirei a barra de meio amargo e entreguei a ele.

O moleque ficou, literalmente, de queixo caído olhando pra barra de chocolate. Tanto que, só uns 10 segundos e alguns metros depois, escutei ele gritando "que pedaço, hein, tia? Obrigado!". Fiquei pensando naquela cara embasbacada dele... Foi engraçada e triste ao mesmo tempo. Será que ele já tinha comido alguma coisa durante o dia? Pra quantas pessoas ele teria que pedir dinheiro até juntar aquilo que eu tinha gasto sem a menor importância? Alguém costuma lhe dar alguma coisa simplesmente pra vê-lo feliz? Com quem ele vive? Até quando ainda vou lembrar desse menino?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Prenúncio

Português (sempre eles) vê uma casca de banana à frente. Pára com ar preocupado e diz: "ai, c... , lá vou eu me f... todo outra vez..."

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O tempo das coisas (for the times they are a-chaaangin')

Sei lá quantas vezes já disse e ouvi "não era o momento", "isso aconteceu na hora certa" ou "ainda não está na hora", muitas vezes confundindo conveniência e inflexibilidade. Como assim? É conveniente não comentar sobre a ex do seu amigo na presença da atual. É inflexível não mudar planos cuidadosamente criados por algo que tenha a possibilidade de ser melhor.

Lembrei de um caixote que levei na praia há uns anos. Estava lá eu, tão feliz quanto se pode estar nesse mar gelado do Rio (ai, que saudades do mar morninho da minha terra, por mais estranha que a frase tenha ficado), quando levantei de um mergulho e vi uma onda monstruosa se formando na minha frente. Fiquei pensando: "Jesusmariajosé, eu mergulho ou tento 'pular' a onda?". Por causa desses segundos em que hesitei, me ralei toda, engoli meio oceano Atlântico e fui parar lá na beira com o top do biquíni torto e o cabelo cheio de areia. Ainda acho que alguém vai me reconhecer na rua e se mijar de rir lembrando do episódio.

Taí o perigo de ser inflexível quando algo interessante aparece de repente: ficar paralisado pelo medo de fazer a escolha errada, acabar não fazendo nada e se arrepender depois. Nem sempre existe uma segunda chance e, às vezes, o jeito é se contentar com aquela máxima de nossas avós de que "o que não tem remédio, remediado está" que, convenhamos, é um prêmio de consolação muito do vagabundo.

Não existe receita, simpatia nem livro de auto-ajuda (eca) que seja universal e dite as regras do que e de quando fazer, dizer, desistir ou começar. Ou que indique o erro ou o acerto absoluto. Vez ou outra eu até quero que exista, mas sempre me rendo a mudar de idéia e concluir que a vida seria muito sem graça se houvesse um roteiro para ela. Bate 3 vezes na madeira.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Pesadelo urbano

As ruas são as de São Paulo, mas poderiam ser as de qualquer metrópole. Estão desertas, silenciosas, dominadas pela sujeira e pelos cães vira-latas. As pessoas, desorientadas e animalescas, vagueiam em busca de comida, saqueando supermercados com algum estoque e passantes com um pouco mais de sorte. Todos foram, pouco a pouco, atingidos por uma epidemia de cegueira. Danou-se a idéia de civilização.

Os primeiros foram isolados em quarentena, sem que ninguém tivesse ainda aprendido como se virar naquela nova situação. A casa coletiva se tornou uma grande latrina e, não demorou muito, uma ditadura também. O "rei da ala 3" pedia jóias e dinheiro (pra quê mesmo?) e, quando esses se esgotaram, as mulheres das outras alas em troca de comida. Deu no que deu.

Ensaio sobre a cegueira é angustiante não só pela idéia em si, quando o público se imagina naquela situação e pensa "será que eu agiria assim também"? "Eu estaria mais para a Julianne ou para o Gael"? Pior ainda é considerar a metáfora.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O bicho

Às vezes digo que tem um animal preso dentro de mim que eu não sei como conter. É uma força que só consigo atenuar, me apertando o peito como 1 tonelada de concreto. Um encantamento misturado com o desejo de sentir tanto que me faça explodir e simplesmente sumir, delicadamente sumir em câmera lenta, degustando os últimos milésimos de segundo um a um.

A paz que existe em mim combina de um jeito estranho com essa intensidade que me arrebata vez ou outra, em alternância. Talvez seja a razão para gostar tanto de ser embalada por Madeleine Peyroux quanto por ser atingida no estômago por System of a Down. Ou curtir Cinema Paradiso tanto quanto Trainspotting. Ou para conseguir observar racionalmente os contras (às vezes, muitos) e, ainda assim, pular de cabeça. Ser extremamente prudente ou insensata.

Fico pensando como é estranho que alguns esperem que a gente seja personagem plano de novela. Bom ou mau. Mocinho ou bandido. Racional ou passional. Uma coisa ou outra, pra sempre. O indivíduo real não é maniqueísta. E nem sempre o que é certo ou errado está claro.

Sabe "Bom conselho", do Chico Buarque?

"Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade"

Já desperdicei demais as minhas vontades. Foi-se o tempo.

domingo, 14 de setembro de 2008

sábado, 13 de setembro de 2008

Em modo standby ou Make your mind

Um dos itens que fazem parte do meu "Top 10 inferno na Terra" (logo abaixo de panfletistas da Presidente Vargas, pastores evangélicos pregando em ônibus e crianças fazendo manha na rua) é passar o dia com a sensação de que deixei algo por fazer ou alguém com quem falar, sem saber direito a razão. Pior ainda quando eu sei o que (ou quem) é que falta, mas não posso fazer nada, rien du tout, para resolver. Maldita consciência de como as coisas têm que ser...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Em greve

Vejam que maravilha: a minha programação para setembro era de, basicamente, dar mais atenção à faculdade e procurar um estágio. Pois não é que anteontem, em assembléia, os professores da UERJ decidiram entrar em greve a partir de segunda-feira? Os técnico-administrativos ainda vão decidir se entram no barco ou não. Não discuto que seja um direito legal, que o governo e a reitoria não estejam buscando nenhuma forma racional de diálogo, que a situação é precária, mas que é um baita banho de água fria para os alunos, isso é. 

Sou da comissão de formatura da minha turma e estamos tentando fechar contrato com alguma empresa para fazer a nossa colação de grau em 2010. Será que já vamos ter concluído mesmo o curso em 2010? E mais ainda, será que ainda vai haver UERJ em 2010? Sempre tem um cabeça-de-vento pra dizer "oba, férias!" quando se anuncia uma greve, mas a maioria dos alunos com quem eu tenho conversado está profundamente puta com a situação a que a universidade chegou. Não com os professores ou com os outros servidores, mas com a greve em si, que representa a intransigência e o caos a que chegou a tentativa de obter melhorias justas e ter como resposta muita porta na cara.

Quando cheguei à UERJ, já peguei uma greve, que atrasou o início do semestre em 2 meses, com resultados pífios. Fico me perguntando se a greve, mais uma vez, é a medida de mais impacto para chegar a um acordo viável e satisfatório ou se os únicos a saírem prejudicados serão os alunos e os próprios servidores, com quem o diálogo vai se tornar ainda mais tenso.

Fiquei sabendo agora que os alunos decidiram invadir a reitoria. Estou indo pra lá ver como está a situação, se é coisa séria ou só um motivo pra reunir gente em torno de uma rodinha de violão. Algo me diz que é a primeira opção. Quem quiser acompanhar mais a respeito, convido para dar uma olhada em http://uerjiano.com/ (blog em que escrevo com alguns amigos).

sábado, 6 de setembro de 2008

Best for last (Adele)

Wait, do you see my heart on my sleeve?
It's been there for days on end and
It's been waiting for you to open up
Just you baby, come on now
I'm trying to tell you just how
I'd like to hear the words roll out of your mouth finally
Say that it's always been me

That's made you feel a way you've never felt before
And I'm all you need and that you never want more
Then you'd say all of the right things without a clue
But you'd save the best for last
Like I'm the one for you

You should know that you're just a temporary fix
This is not rooted with you it don't mean that much to me
You're just a filler in the space that happened to be free
How dare you think you'd get away with trying to play me

Why is it everytime I think I've tried my hardest
It turns out it ain't enough cause you're still not mentioning love
What am I supposed to do to make you want me properly?
I'm taking these chances and getting away
And though I'm trying my hardest you go back to her
And I think that I know things may never change
I'm still hoping one day I might hear you say

I make you feel a way you've never felt before
And I'm all you need and you never want more
Then you'd say all of the right things without a clue
But you'd save the best for last
Like I'm the one for you

You should know that you're just a temporary fix
This is not rooted with you it don't mean that much to me
You're just a filler in the space that happened to be free
How dare you think you'd get away with trying to play me

But, despite the truth I know
I find it hard to let go and give up on you
Seems I love the things you do
Like the meaner you treat me the more eager I am
To persist with this heartbreak and running around
And I think that I know things may never change
I'm still hoping one day I might hear you say

I make you feel a way you've never felt before
And I'm all you need and that you never want more
And we'll say all of the right things without a clue
And you'll be the one for me and me the one for you