segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O bicho

Às vezes digo que tem um animal preso dentro de mim que eu não sei como conter. É uma força que só consigo atenuar, me apertando o peito como 1 tonelada de concreto. Um encantamento misturado com o desejo de sentir tanto que me faça explodir e simplesmente sumir, delicadamente sumir em câmera lenta, degustando os últimos milésimos de segundo um a um.

A paz que existe em mim combina de um jeito estranho com essa intensidade que me arrebata vez ou outra, em alternância. Talvez seja a razão para gostar tanto de ser embalada por Madeleine Peyroux quanto por ser atingida no estômago por System of a Down. Ou curtir Cinema Paradiso tanto quanto Trainspotting. Ou para conseguir observar racionalmente os contras (às vezes, muitos) e, ainda assim, pular de cabeça. Ser extremamente prudente ou insensata.

Fico pensando como é estranho que alguns esperem que a gente seja personagem plano de novela. Bom ou mau. Mocinho ou bandido. Racional ou passional. Uma coisa ou outra, pra sempre. O indivíduo real não é maniqueísta. E nem sempre o que é certo ou errado está claro.

Sabe "Bom conselho", do Chico Buarque?

"Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio o vento
Na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade"

Já desperdicei demais as minhas vontades. Foi-se o tempo.

Nenhum comentário: