terça-feira, 26 de agosto de 2008

A grande pornochanchada verde-amarela

Até a próxima sexta-feira, eu serei a estudante de Jornalismo mais desinformada do país, já que a minha maratona diária não tem me permitido sequer ler uma revista semanal até a próxima chegar na minha caixa de correio. Me tornarei, então, uma recém-desempregada entrando na busca por um estágio. Minhas dores de estômago de ansiedade já começaram a aparecer.

Mesmo com toda a correria, um certo assunto de cunho nacional conseguiu me atingir: as eleições. Mais uma vez, o país se prepara para escolher os ocupantes dos cargos municipais de prefeito e vereador. Se prepara... Pareceu estranho. Será que o brasileiro se prepara de verdade para votar?

O Brasil tem diversos motivos históricos que desanimam qualquer afã cívico. Para começar, a quase inexistência de participação popular nas transformações socio-políticas do país. Pensemos na Independência do país, no fim da escravidão, na conquista do voto irrestrito, no fim da ditadura militar, nas eleições diretas para presidente. Não que não tenha havido movimentos importantes no país, mas quase todos foram encarados como caso de polícia e reprimidos violentamente. Zero de diálogo ou democracia de fato.

Juntando a isso, a construção de um cenário político em que os nossos excelentíssimos representantes usam e abusam do aparelho público em benefício próprio também não estimula ninguém a exercer seus direitos de cidadão. Quem tem TV a cabo, muda de canal quando começa o horário eleitoral; quem não tem, desliga o aparelho e vai fazer outra coisa até começar a novela. "Debate dos candidatos? Que saco...". "Político é tudo ladrão". "Eu sempre voto nulo".

Eu mesma tenho sido uma alienada desde sempre e me envergonho muito disso. Cada vez isso me incomoda mais e estou começando a tentar mudar essa situação. Participação política não é só lembrar que se é eleitor na hora de entregar o título ao mesário no dia da votação. Além de conhecer os candidatos e suas propostas, é fundamental fiscalizar de perto a gestão de todas as instâncias do poder público. Cada vez mais, aumenta a preocupação com a transparência da informação, mas ainda existe muita malandragem pelos gabinetes espalhados por aí.

Um bom ponto de partida é o portal Transparência Brasil (http://www.transparencia.org.br/), que propõe um maior acesso à informação pública, seja com um histórico dos parlamentares, os dados de quem financiou cada campanha (ou seja, quais podem ser os interesses escusos dos políticos) e um banco de dados com notícias ligadas à corrupção. O Contas Abertas (http://contasabertas.uol.com.br/) divulga orçamentos e prestações de contas públicas, facilitando muito o acompanhamento do que está sendo feito do nosso suado dinheirinho pago em tantos impostos. É claro que há o risco de fraude nos dados divulgados pelas esferas políticas, mas a boa notícia é que dados oficiais podem e devem ser contestados nesse caso.

Também me indicaram o livro "Política-quem manda, por que manda, como manda", do João Ubaldo Ribeiro, para entender melhor sobre esse tema sobre o qual ninguém explica e todo mundo acha que entende quando, na verdade, sabe tão pouco. Alguém tem para me emprestar?

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A caminho da terra em que se come purê no cachorro quente

Hoje vou para São Paulo e estou empolgadíssima com isso. Vendo a minha euforia, alguns amigos começaram a pôr em prática aquela velha rixa Rio-São Paulo e dizer "ah, que é isso, aquele lugar sujo, cinzento, barulhento, aquela gente esquisita", usando, para justificar esse último argumento, o costume paulistano de colocar purê no cachorro quente. Rebati dizendo que carioca come macarrão com feijão (inclusive existe Miojo sabor feijão, credo), que é a combinação gastronômica mais bizarra que eu conheço e terminou o assunto.

De novo, vou ficar só  um fim-de-semana (vou hoje à noite e volto domingo à tarde) e vou passar o sábado quase inteiro num seminário jornalístico sobre cobertura de eleições. Dessa vez, vou para a casa de uma amiga e a minha esperança é a gente conseguir sair sábado à noite e fazer algo domingo (será que o MASP abre?). Foi uma novela para conseguir fazer a inscrição no seminário e, como a minha dureza não permitiu ir por via aérea, vou enfrentar 6 horas na estrada na ida e mais 6 na volta (já estou preparando o kit-sobrevivência, com livro, revista, água e biscoitos), mas nada consegue me desanimar.

Adoro justamente o que todo mundo levanta como motivo para desgostar de São Paulo. O barulho, os prédios enormes, as tribos, a movimentação incessante, o clima, o mercado mais amplo para a minha área e a sensação de que estou realmente numa metrópole, de que as coisas estão acontecendo. Tudo bem, o trânsito é um caos e o sotaque ainda me dá vontade de rir de vez em quando, mas enfim, os nativos devem se sentir da mesma forma a meu respeito. Ah, e aquela história de que eles gostam de sacanear quem é do Rio e não dar informação é lenda urbana; todos foram muito solidários quando fui me perder por aquelas bandas da outra vez. Se bem que, apesar de ter vivido no Rio quase a vida inteira, sou cearense...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Eu também preciso, Elis

De dia, desdenho, digo que estou melhor assim, que tenho muito mais e melhores escolhas e alternativas. Conto piada e rio às gargalhadas mas, se me distraio um segundo, começo a pensar longe, tão longe no espaço de só uns poucos dias... Saio, danço como se não houvesse ninguém olhando, bebo dois ou três copos, corro, trabalho, pego o ônibus, leio, falo com uma amiga ao telefone, ouço música, faço anotações em folhas soltas durante a aula.

Mas, besteira. Repasso tudo mentalmente sem querer. A cada ligação, espero que quem esteja do outro lado não seja quem é, que haja alguma mudança novelesca que me favoreça, que de alguma forma o que sinto seja sentido do lado de lá, seja a falta, a vontade de ter ou a angústia do silêncio. Quando o dia vai terminando e tudo continua igual, lá vem ela soturna de novo, marejando os olhos até vir o sono.

Pois é, por orgulho eu menti de novo: me perturba, sim. Por enquanto, não há nada a seu respeito que não me perturbe. Tormento infértil que termina onde tudo começou, como se nada tivesse existido.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Mulholland Dr.

Silencio.
No hay banda.
No hay orquestra.

domingo, 10 de agosto de 2008

Filmes de amor

No sábado, tive um acesso compulsivo cinematográfico e aluguei 4 filmes na locadora. Até agora, vi 3 e falta "Cidade dos Sonhos", que finalmente vou assistir, depois de todo o blablablá sobre ele (falando nisso, a balconista me pediu pra explicar o filme pra ela se eu entender, veja só). Ontem vi "Jules e Jim" e "Amor em 5 tempos".

Fui ludibriada pela capa do primeiro, que eu já namorava fazia tempo. Eu já tinha criado toda uma história na minha cabeça, achava que era uma versão sixties de "Três formas de amar", mas o filme se passa no comecinho do século XX. Os personagens-título são amigos que se apaixonam pela mesma mulher, a impulsiva e volúvel Catherine, mas o interessante é perceber que o laço mais forte é o de amizade profunda entre os dois caras, que nem cogitam a possibilidade de brigar pela mulher. O triângulo amoroso dura boa parte da vida dos personagens e acaba mal, com Catherine jogando o carro em que estava com Jim num rio e deixando Jules sozinho, sem mulher e sem amigo. You bastard!

Já a história de "Amor em 5 tempos" é mais atual e mostra 5 momentos da relação de um casal, partindo do divórcio e indo até quando os dois se apaixonaram. Me lembrou "Brilho eterno de uma mente sem lembranças" e também aquelas reflexões que a gente sempre faz sobre os nossos relacionamentos, que muitas vezes tomam rumos tão diferentes daqueles que pensamos, mas que sempre valem a pena. A gente tem mania de dizer que faria de tudo pra voltar no tempo e não ter conhecido tal pessoa ou tomado tal atitude, mas o fato é que o nosso destino é tatear no escuro eternamente. Numa dessas, a gente pode encontrar a tal felicidade ou passar direto por ela.

Hoje vi "Desejo e Reparação", que é excepcional, mas triste de doer. Basicamente, uma jovem rica e o filho da empregada se apaixonam, mas são separados por uma mentira da irmã dela, que tem conseqüências drásticas na vida dos 3 personagens. Além da trama em si, é interessantíssimo observar a forma como o filme trata a questão dos vários pontos de vista e versões de um mesmo evento.

Coincidentemente, todos os filmes falam de amores perdidos e de como as relações são muito mais complexas na prática do que se pode imaginar. Os sentimentos, a vida, os conflitos, os interesses, as outras pessoas, são tantos fatores que complicam algo que devia ser simples, não? Devia ser apenas eu amo você e você me ama. E foram felizes para sempre.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Trechinho

- Bem, como vai você?
- Levo assim, calado, de lado do que sonhei um dia; como se a alegria recolhesse a mão pra não me alcançar...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Vagando pela Paissandu


Hoje assisti a "Uma garota dividida em dois" depois de, como de costume, me perder no caminho do Estação Paissandu (e só conseguir chegar no cinema com a ajuda de uma transeunte bondosa que me mostrou o rumo certo).
Resumão: Uma jovem, linda e loura apresentadora de TV se apaixona por um escritor consagrado, 30 anos mais velho e casado, enquanto é assediada pelo milionário e desequilibrado herdeiro de um grande laboratório farmacêutico (que, by the way, é obcecado pelo rival e passa meio filme fazendo ceninhas sarcásticas quando o encontra).
Os protagonistas, no entanto, são a vulgaridade e as obsessões presentes nos relacionamentos entre os personagens. A tal apresentadora desempenha o papel de gostosinha da emissora em que trabalha e aproveita a atração que exerce sobre os homens para alavancar a carreira. Mesmo a paixão arrebatadora que ela demonstra pelo escritor parece leviana e simulada.
Este também se apaixona por ela, mas não demonstra nenhuma disposição em abandonar a comodidade do casamento que já dura 25 anos pela incerteza de um relacionamento novo. Além disso, o seu grande talento parece ser fazer citações de autores célebres e parecer um gênio ao invés de construir suas próprias idéias.
Já o outro vértice do triângulo é um jovem mimado cujo interesse pela mocinha aumenta na mesma proporção em que é rejeitado por ela e que tem a obsessão de destruir e desmoralizar o rival, mesmo antes de conhecê-la. O esforço em conquistar a apresentadora também parece ser parte do seu sentimento doentio pelo escritor, que considera uma farsa.
Com 20 minutos a menos de projeção, o filme seria bem melhor mas, ainda que fique um pouco arrastado no final, valeu o ingresso. Ou, pelo menos, a ida ao Big Bi que que fica ali do lado e que tem a melhor vitamina de morango das redondezas. Falando nisso, por que os atendentes de lanchonete cismam em chamar de "morango ao leite" e fazer cara de riso quando eu chamo do outro jeito?

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Mania de fazer balanços

Eu não agüento, vai chegando o dia de completar mais uma primavera (a gíria é pré-histórica, mas é tão bonitinha que dá pena de não usar) e me sinto incontrolavelmente impelida a analisar a minha vida no período entre o último aniversário e o próximo. Pensar no que mudou, no que está e quero que continue igual, no que estou me contorcendo mentalmente para que mude logo, em como vejo o futuro hoje e como via há um ano. TOC? Que seja.

Do ano passado pra cá, decidi deixar de trabalhar para fazer estágio, descobri que era mais forte do que pensava, fiz uma tatuagem numa euforia arrebatadora por ser mulher. Comecei a encarar o amor como uma descoberta tortuosa e, ainda que muitas vezes angustiante e dolorosa, um impulso que não vou mais tentar impedir. Que ele venha, tome conta de mim com todos os efeitos colaterais e, se um dia decidir ir embora, que vá e passe a vez. Percebi que ele é, parafraseando Marisa Monte, o corte e a cicatriz. Pecar por omissão é que eu não vou.

Meus planos de estudo e profissão começaram a tomar forma. Aqueles livros que comprei no primeiro período da faculdade e continuavam intactos finalmente começaram a ser lidos, me animo cada vez mais pra correr atrás de seminários, debates e cursos ligados às áreas que me interessam, vou começar a fono daqui a pouco pra deixar a antiga dicção de narradora de F1, intensifiquei as pesquisas por bolsas de estudos de pós no exterior, finalmente consegui puxar matérias extras na faculdade para o próximo semestre (o que nunca dava pra fazer por causa do trabalho).

Comecei a beber. Socialmente, sim, mas não é um hábito que me deixe muito satisfeita comigo mesma. Principalmente por eu já me sentir flutuando depois de 4 choppes. No final da minha última incursão à Lapa, já na fila do caixa pra pagar a comanda, senti que ia desmaiar. Depois de uns momentos de mal estar, cabeça entre os joelhos pra aumentar a pressão e a ajuda de amigos solícitos, ficou tudo bem. Pode ter a ver com o calorão que fazia, com a barriga vazia há sei lá quantas horas, mas fiquei meio assustada. Dá uma solidão danada passar mal na rua, não sei se quero facilitar das próximas vezes. Feels miserable.

E o violão, que continua quietinho no canto dele, pegando poeira... Esse vai ficar pro próximo balanço.

domingo, 3 de agosto de 2008

Sei lá, Paulinho

Hoje assisti de novo àquele documentário sobre o Paulinho da Viola, "Meu tempo é hoje". O homem é um combo de qualidades: tem aquela voz doce e grave, um gênio criativo incrível, bom humor, simplicidade, reverência com o passado sem saudosismo e uma gentileza só dele, além de outros dons menos conhecidos (como os dotes de marceneiro, relojoeiro, mecânico, pai de família e jogador de sinuca). 

Comecei a escutá-lo com uns 12 anos, quando tia Ana Paula mandou uma coletânea dele pra minha avó. O CD ficou uns tempos esquecido, até que um dia eu o coloquei pra tocar. Uns anos depois, quando trabalhava no Sheraton, comentei animada sobre o cantor com um hóspede do hotel e emprestei o CD a ele, que nunca mais me devolveu. Mesmo assim, nunca mais parei de ouvir Paulinho, ainda que nas vozes de outros intérpretes, como Teresa Cristina, Marisa Monte, Velha Guarda da Portela e Roberta Sá.

Além do magnetismo que o samba naturalmente já tem, mesmo que só com um cavaquinho e uma caixa de fósforos, as músicas de Paulinho têm um toque delicado, de quem compõe com cuidado para interpretar cada som da forma exata, com a entonação certa, para escolher cada palavra sem pressa, com atenta
sensibilidade. Um perfeccionismo sem rabugice, de quem transformou o que faz com mais gosto em trabalho.

De quem canta:
"Não levarei arrependimentos nem o peso da hipocrisia.
Tenho pena daqueles que se agaixam até o chão
Enganando a si mesmos por dinheiro ou posição
Nunca tomei parte desse enorme batalhão,
Pois sei que além de flores, nada mais vai no caixão.
Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim"

Conversas de pulgueiro (parte I)

6ª feira, porta de um pulgueiro na Lapa, eu já lá pelas tantas, carinha vê minha estimada blusa "have a Nietzsche day". Eis o diálogo insano:

- Você lê Nietzsche?
- Tô começando a ler agora (sem dar muito papo).
- Pesado, né?
- É (...).
- E você vai entrar aí com essa mochila?
- Hum-hum. Dá licença que eu vou ali falar com ... (já saindo)

(resposta mental: "não, vou deixar minha mochila aqui fora fazendo companhia pra você, seu mala"). Asshole.