domingo, 5 de abril de 2009

"Não sonhe, seja"

A frase aí do título é de um dos ótimos filmes a que eu assisti ontem: Rocky Horror Picture Show. É um musical de terror e rock, de 1975, com várias referências aos filmes B dos anos 50. RHPS começa com o noivado dos jovens santinhos Brad e Janet - a divina Susan Sarandon no começo da carreira - que, por causa de um pneu furado, vão parar num castelo assustador e acabam descobrindo as delícias da perdição.
.
Hipnotizante o sweet transvestite interpretado por Tim Curry, sexy com meia arrastão e um olhar insano permanente. O filme é, basicamente, sobre a eterna briga entre conservadorismo e progressismo, sobre como a liberdade sexual incomoda e assusta. Considerando que alguém leia esse blog e siga as minhas sugestões (existe probabilidade negativa?), se ligue que o mordomo do castelo é o criador do roteiro original, Richard O'Brien.
.
O dvd da edição especial de 25 anos do lançamento vem com um documentário bem legal sobre a produção, a peça que deu origem a ela, seu sucesso tardio e o inesperado culto ao filme, que ainda hoje é exibido regularmente em alguns cinemas nos Estados Unidos. As sessões reúnem fãs que conhecem as falas e as músicas de cor e ainda aparecem fantasiados como os personagens.
.
Engraçada a ligação entre RHPC e o outro filme que eu vi, o israelense Bubble (esse, bem mais recente, de 2006). O nome se deve ao modo como algumas pessoas se referem a Tel Aviv, uma bolha em que todos parecem viver alheios à realidade política local.
.
No filme, três amigos judeus - Noam, Yelli e Lulu - dividem um apartamento e vivem entre um café ao som de Bebel Gilberto, encontros e desencontros amorosos, uma rave aqui e um showzinho de jazz acolá.
.
Quando Noam se apaixona pelo palestino Ashraf, os amigos decidem ajudar o novo namorado do amigo a ficar do lado judeu da fronteira, mas as coisas acabam se complicando e o conflito entre judeus e palestinos entra metendo o pé na porta, sem falar da óbvia homofobia que atinge o casal.
.
E dá pra falar de homofobia, intolerância religiosa, amizade, conflitos no Oriente Médio, amor, cultura, sexo e mais um bando de temas, tudo no mesmo filme? Pois o diretor Eytan Fox foi habilidoso o bastante pra costurar isso tudo num filme pop, com referências que vão da boy band Take That a Jules e Jim, clássico de François Truffaut.
.
Bubble - por que não traduzir para A Bolha? - consegue ser divertido, atual, politizado, sensível e charmoso. As cenas de sexo passam longe da vulgaridade, o amor e a amizade sinceros dão a tônica do filme e ainda tem Keren Ann cantando a delicada Sit in the Sun na trilha. Definitivamente, entrou para a lista dos meus preferidos.

Nenhum comentário: