quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Money, it's a gas



Eu e Taís temos o costume de dizer que só nós nos entendemos (assim como todas as amigas do mundo devem dizer uma à outra). Hoje liguei pra ela para pedir uns conselhos sobre a minha eternamente capenga vida financeira e começamos a conversar a respeito. Chegamos à conclusão de que as pragas e salvações da vida cotidiana são o cartão de crédito, o cartão de débito (por vezes juntos, num combo de destruição) e o limite de cheque especial.

A cena: você sai de casa para o teatro. No caminho, algo chama a sua atenção em uma loja. Algo supérfluo ou tranqüilamente adiável, mas que em 5 segundos se torna completamente indispensável a sua existência daqui pra frente. Você não tem dinheiro, mas lembra que está com um dos benditos (adjetivo altamente questionável) cartões. Faz a compra, passa o cartão, recebe um boletinho azul - a cor da tranqüilidade, segundo a cromoterapia - e sai todo satisfeito do estabelecimento. Foi quase mágico: você comprou um mimo para si mesmo sem ver uma notinha de real saindo da carteira. Mágico, como você descobre depois, é o chá-de-sumiço no seu saldo positivo quando tira o próximo extrato bancário ou o crescimento das suas dívidas ao receber a fatura do cartão de crédito. Pior ainda quando o extrato vem acompanhado de um discreto sinal de negativo ou um valor digitado em vermelho. Cor de sangue.

Vejam como são tinhosos os administradores de banco e cartões de crédito. Apenas o ato de retirar as cédulas da carteira e vê-la ficando vazia já era um fator de controle dos gastos. Quando era a última notinha, então, era um apego só. Mais ainda se a agência do seu banco fosse longe, porque isso significava o seu deslocamento até lá para sacar mais. Ou seja, a visão do dinheiro sendo gasto e a preguiça nos ajudavam a economizar.

Daí surgiram os caixas eletrônicos fora das agências (estrategicamente posicionados em shoppings e supermercados, por exemplo) e os tais adventos mencionados mais acima. Quase todas as lojas, boites e até botequins têm uma maquininha do Visa e do Master (Amex é coisa de rico e é mais difícil de achar). Em alguns lugares, você nem precisa levantar da mesa e interromper a conversa para pagar a conta, porque alguém leva o aparelho até você.

O limite do cheque especial, então, é uma coisa louca, um verdadeiro vício. Money addiction. No começo, você diz que nunca vai usar e se orgulha muito de ter tanto auto-controle. Daí, um dia, resolve usar só um pouquinho, só dessa vez. Meses depois, você não consegue mais viver sem e se livrar dele é como perder um braço. A gente sabe que aquele dinheiro não é nosso e que vamos pagar juros altíssimos por ele, mas daí a cortar as asinhas do hedonismo já são outros quinhentos. "Pai rico, pai pobre" não me ensinou nada.



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