domingo, 5 de outubro de 2008

A mulher de olhos e textos agudos


Hoje foi o último dia da exposição "Clarice Lispector - A hora da estrela" no CCBB. Apesar de já tê-la visto em Sampa ano passado, eu tinha que ir de novo. Telas com fotos preto-e-brancas dela cobrindo frases de alguns de seus livros, o vídeo com uma entrevista de pouco antes de sua morte (em que aparece uma Clarice angustiada), a sala cheia de gavetas em que há cartas de amigos, manuscritos, fotos, diplomas e documentos. Muito mais escuridão do que claridade nas salas, talvez numa tentativa de simbolizar a introspecção da escritora.

Comecei a ler Clarice faz pouco tempo, 2 anos no máximo. Escolhi justamente "A hora da estrela" pelo título e por ficar curiosa para saber se ela iria conseguir contar uma boa história em tão poucas páginas. Conseguiu. Ela escreve sobre Macabéa, uma nordestina jovem e simples. "Quanto à moça, ela vive num limbo impessoal, sem alcançar o pior nem o melhor. Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando. Na verdade - para que mais que isso? O seu viver é ralo." Me apaixonei pelo jeito simples e sincero dela de escrever, apaixonado e contraditório, como se tivesse acabado de se dar conta de algo extraordinário, quisesse compartilhar com alguém e esse alguém fosse apenas você. Pena não ter dado tempo de sermos contemporâneas.

Ah, olha que curioso: no site que a editora Rocco fez para a escritora, achei um trecho de um livro dela que tem tudo a ver com o post de ontem.

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”

Um comentário:

Felipe Melo disse...

Pô, ainda não tive oportunidade (lê-se: "não tomei vergonha na cara") de ler Clarice. Vou fazê-lo assim que terminar os Saramagos que estão na fila... hehehehe

Resolvi estabelecer uma meta literária, cuja origem é desconhecida, mas que achei interessante: comprar 2 livros por mês, até o fim da vida (?). Comecei a fazer isso no começo do ano, mas não tô dando conta de ler tudo não! SOCOOOORROO!!!

Até o fim do ano compro uns da Clarice. Alguma sugestão?


Bjuss

Felipe Melo