sábado, 25 de outubro de 2008

Feito cegos num tiroteio

Lá pelos idos de 2005, entrei na sala escura do Paço, alguns minutos depois do começo do filme. Na tela, "Edukators". O roteiro combinava perfeitamente com tudo o que martelava as minhas idéias na época, além de ter sido o meu primeiro contato com o Jeff Buckley (presente do começo ao fim com uma versão de "Hallelujah", do Leonard Cohen). A desorientação ideológica, o esvaziamento das bandeiras, a perspectiva do fracasso de todas as revoluções e a hegemonia do individual sobre o coletivo; foi uma daquelas experiências raras em que algo consegue traduzir com exatidão o que nem a gente podia explicar.

Lembrando disso, pensei também em filmes como "Os sonhadores", "Cabra-cega", "Across the universe" e "Batismo de sangue", todos cheios de nostalgia por tempos em que era muito claro o papel de cada indivíduo para mudar o mundo, em que havia uma atmosfera de revolução e se tinha certeza do que combater e de onde se queria chegar. Devia ser bom se confortar nas utopias. Hoje, a gente olha pra trás e vê que os projetos de igualdade e equilíbrio social resultaram em repressão, massacres e distorções. Os planos mais bem-intencionados se demonstraram impraticáveis ou inocentes.

Sim, houve mudanças, mas cadê aquela realidade prometida de felicidade generalizada? As religiões ainda dão conta de reconfortar alguns com a idéia de que existe um sentido pra tudo o que acontece, alguma forma de compensação entre os fatos (por isso alguns seriam agraciados pela vida e outros, derrotados por ela) e que a tal perspectiva não é desse mundo. Alguns elementos do consumo contemporâneo - livros, filmes, terapias, psicotrópicos - tentam atenuar, mas a verdade é que estamos todos perdidos.


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