quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Agora em ponto

Viva a diferença! Ou não? Não estamos num ponto de evolução social em que conseguimos aceitar cada indivíduo com as suas particularidades? Que cena linda, todos nos damos as mãos e rumamos felizes em direção à tolerância (sem trocadilho com "casa de tolerância", que nem se diz mais).
Então por que todo mundo ainda teima em dizer que está no tempo certo disso ou daquilo? Para alguns aspectos concretos, realmente existe o tempo ideal ou mais indicado. Mas não entendo a cara-de-pau que é dizer a alguém quando já se atingiu o limite de sentir ou deixar de sentir algo.
Se já passou um ano e o viúvo continua triste pela morte da esposa com quem viveu 45 anos, já empurram o coitado para o baile da terceira idade do clube da esquina.
Quando a mãe continua enchendo a casa com fotos do filho já falecido, um belo dia ela vai chegar e os retratos vão estar escondidos em cima de algum armário.
A garota que ainda não se sente bem para namorar de novo se vê rodeada de gente dizendo que tudo o que ela precisa é se envolver com outro cara. Chovem encontros arranjados e gente querendo apresentar "um amigo simplesmente perfeito".
Mais do que cara-de-pau, é um desrespeito aos sentimentos alheios. E o pior é que a pressão externa é tão intensa que quem "parou no tempo" começa a se sentir até culpado pelo que sente. Porque sofrer é uma aberração, algo que deve ser evitado e afastado a todo custo.
Será que é tão abominável assim aceitar que não há padrão para o sofrimento? Diante de situações semelhantes, cada pessoa tem uma reação diferente. Em "Munique", Avner (personagem do Eric Bana) volta da missão de vingar os atletas israelenses mortos nas Olimpíadas com o psicológico destroçado. Mas também poderia ter chegado em casa, nunca mais pensado nos assassinatos dos quais participou e seguido normalmente com a vida (o filme é supostamente baseado no relato de um agente do Mossad que teria participado da operação).
O que alguns chamam de superação eu chamo de escapismo, tanto do que cinicamente tenta controlar os sentimentos do outro quanto do que se esconde sorrindo por não se dar a chance de agir conforme o próprio tempo.

7 comentários:

Carol Sousa.. disse...

Acho que muitas vezes não se respeita o tempo do outro. Em todos os aspectos aliás.... É horrível você se ver rodeado de pessoas que acham que sabem o que é melhor pra você melhor até que você mesmo....

por outro lado, quando se trata única e exclusivamente de sofrimento, claro que tem que se respeitar o tempo do outro, mas às vezes já não é mais uma questão apenas de tempo. Uma pessoa pode ficar triste por alguém próximo ter falecido, lógico. Mas desde o momento que atristeza vira a única coisa na vida dela, é hora que alguém tentar ajudar sim.... claro que não assim, escondendo as fotos, mandando pro baile, apresentando alguém... mas alguma coisa há de se fazer. Não pra arrancar a pessoa da tristeza, mas pra fazer com que ela queira sair sozinha....
=)


Voltarei mais vezes aqui, Lu!


=****

Luanda Lima disse...

Oi,Carol
Você tem razão,eu não vejo nada de mais em oferecer ajuda a alguém que está sofrendo,chamar pra sair etc,o que eu acho inaceitável é recriminar a pessoa por "ainda" se sentir daquela forma ou tentar forçá-la a fazer algo para o qual não se sinta confortável. No texto eu também não quis entrar no ponto em que o sofrimento já vira algo patológico,como na depressão,por exemplo.Aí a situação já é bem diferente...
Ah,e volte sempre!

Anônimo disse...

Estava eu outro dia choramingando minhas últimas lágrimas dessa minha última dor de cotovelo (é a segunda no ano! Qdo pensei que depois da paixão fulminate que tive com um esse ano, pensei que tão cedo me apaixonaria de novo (pq p mim se apaixonar n eh tão fácil assim),mas lá estou eu de novo vivendo altos momentos de felicidade e como até então com pouco tempo de validade, e again, sofrendo... AGora sei o que é a máxima que diz que um amor cura outro amor. Mas essa última ilusão foi menos impactante que a anterior...mas rendedu algumas crises de choro sim. E já no final dessas, estava eu tristinha no sofá derramando uma pequena última lágrima e eis que surge minha mãe mandando eu parar de chorar por causa de homem! Que eu não era a primeira e nem seria a última pessoa a sofrer por causa disso na terra... -Essa última frase até concordo e serve de consolo sim MAS mandar alguem parar de chorar??? COM QUE DIREITO? Pq devemos ocultar nossas emoções?? A troco de quê nao viver o que se está vivendo naquele momento, cujas lágrimas são a exteriorização de tal emoção?
Isso eu nunca vou entender no ser humano: Sua faculdade de querer ocultar o que teoricamente lhe faz sofrer. Já pararam para pensar na morte? Ninguém gosta de falar nela!! Uma coisa tão cotidiana e comum, uma função biológica, trágica sim, mas ainda sim esperada para cada um de nós seres vivos que passamos pelo ciclo: Nascer, reprodizir e morrer. Eqto algumas culturas celebram a morte, outras fazem questão de não tocar nesse assunto como se fosse um tabu...e se a pessoa que está sofrendo com uma perda dessas, acham que ela não pode ficar sozinha, vão sempre querer camuflar com atos ou palavras...qdo todos nós deveriamos VIVER tais emoções,pois trata-se de um luto natural, uma transmutação emocional, seja a perda de um namorado ou a morte de uma pessoa querida...

(Lua vc sabe quem eu sou...só p nao expor mto...)

Karynne A Butelli disse...

Estou adorando esse site!!

Concordo com todas acima!!

Ninguém respeita muito o tempo do outro, as lembranças do outro e o sofrimento do outro...eh como se tivéssemos que negar isso para nós mesmos e para o mundo, pq as pessoas não sabem lidar com suas e as emoções dos outros....

Beijos à todas!!

Luanda Lima disse...

Um grande "FODA-SE" aos insensíveis!

Anônimo disse...

Outra pérola da minha mãe nesse meu momento (que já está passando, eu diria que já até passou, mas tô meio sem paciência e um pouco de mal humor- falta de amor dá nisso..)

Eis que ela me diz: "Tá vendo só, esse parapan, os atletas dão o exemplo vivo de que temos que estar felizes por sermos sadios...Vc tem tudo, dois braços, duas pernas...tem que se lembrar disso qdo pensar em ficar triste!

E por causa disso as pessoas não tem o direito de ficar tristes, pq tem outras em situação pior ( e nada compráveis com a nossa!??) PQP já ouvi isso uma vez de uma amiga...que eu tinha uma casa, um teto e cama quentinha, n tinha nda que ficar triste com nada. DETESTO ISSO!!! Carácoles, pq não nascemos enfermos ou miseráveis não podemos ter nossos momentos de tristeza por questões de vida mesmo, amor, amizade etc??? Parece isso sim que temos que viver numa euforia esquisofrênica por lembramos a todo instante que não estamos numa cadeira de rodas ou dormindo na rua...

Luanda Lima disse...

Eu sempre fico revoltada com isso,com essa mania cretina de fazer escala de pontos para os motivos de sofrimento!