domingo, 26 de abril de 2009

Os losers estão na moda?

Festinha, sexta-feira, casa de um amigo. Ao avançar da noite, abri um vídeo da Beyoncé no You Tube (se eu não me engano, quando eu queria mostrar que a fonte da qual ela sempre bebeu é a Tina Turner). Um dos convidados levantou a bola de que ela incentiva a vulgaridade e a desvalorização feminina e o papo foi indo, indo...enfim, rendeu pra caramba.

O tema geral era de como a sociedade contemporânea é opressiva com os padrões de beleza e com a obsessão de criar um modelo de "vencedor". Um dos tópicos que apareceram foi de que, hoje em dia, na verdade, haveria uma pressão menor e uma tolerância maior às diferenças, já que ser loser agora é moda. Na hora, a frase passou meio batida, mas depois comecei a pensar mais a fundo a respeito.

Já faz um tempo que personagens improváveis no entretenimento se tornam sucesso. Nos atendo só ao mundo da música, vemos Buddy Holly, por exemplo. O cara usava óculos fundo-de-garrafa com aros grossos e era magricelo, meio careca e dentuço, mas se tornou uma influência pra uma cambada de músicos renomados, como o mestre Bob Dylan. A música "American Pie", regravada pela Madonna, foi escrita por Don McLean em homenagem a ele e, em um dos versos, se refere ao 3 de fevereiro de 1959 - quando o cantor sofreu um acidente fatal de avião - como o dia em que a música morreu.

Billie Holiday era negra, pobre, chegou a se prostituir para sobreviver e, segundo alguns, era homossexual. Pra completar, aquele estranho fruto nascido nos Estados Unidos dos anos 10 tinha uma voz incomum. Aquela rouquidão podia ser bonita numa música? Pois era. Não é a toa que, até hoje, Lady Day é considerada uma das grandes divas do jazz.

Dando um salto no tempo, o Weezer chegou com um jeito diferente de fazer rock and roll. Um jeito nerd, pra ser mais exata. O Nirvana é mais um exemplo de banda esquisita - no som sujo e nos integrantes sem a menor pinta de galãs - que deixou a sua marca definitiva na música. A onda emo também: ou alguém aí tem alguma dúvida de que os caras não eram os mais populares da escola?

A vocalista do trio The Gossip, Beth Ditto, é gay e está muito acima do peso considerado aceitável. Cê acha que ela liga? Coisa nenhuma: está sempre com as roupas mais extravagantes e se acha linda, saiu até nua na capa da revista gringa NME (New Musical Express). E ainda temos Susan Boyle, a escocesa coroa e baranga que encantou o mundo cantando I dreamed a dream (do musical Les Misérables) no programa Britain's Got Talent.

O que chama a atenção nos fenômenos loser não é apenas o visual. Além de não terem o "visual certo", eles não falam apenas de tudo que é lindo e florido, sobre amores perfeitos, como são o máximo ou como é maravilhoso ter grana. Os losers cantam as dores de cotovelo, a sensação de ser inadequado, as dúvidas, a solidão.

Talvez venha daí sua identificação com um público imenso que não está mais a fim de tentar se encaixar num padrão inalcançável e que quer ouvir e ver alguém que se pareça com ele. Tá certo que, com o sucesso, surge a questão de se os "perdedores" acabam se tornando "vencedores", mas aí é outra história, que eu estou com uma preguiça dos diabos de abordar.

Passo a bola pra vocês: será que os losers estão mesmo na moda?

9 comentários:

Unknown disse...

SUPER na moda. E digo mais: toda forma de perversão aos valores mais difundidos do século passado estão nesse bolo. Só dar uma olhada nos filmes de super-heróis, onde o vilão mudou completamente daquele "idiota com um plano infalível" para uma das peças principais (e porque não, a mais importante) de toda trama.
A valorização do oposto tá na moda em tudo, na música, cinema, teatro, nossa casa, internet, escola...

Foi uma bela festinha... pena que eu tava com muito sono pra poder participar de todo o processo! =p
Mas fiquei feliz de ver que a Beyoncé faz os jovens chegarem a essas conversas mais profundas (não deveria ser esse o papel do governo, congresso, políticos e etc? Mais uma inversão...).

beijosmeconvidaprapróximafesta!

Vera disse...

Vi uma vez na Super Interessante uma matéria sobre isso.

Sobre os cdf's estarem com tudo.

O maior exemplo é o Gates, o dono da Microsoft. E o Steve Jobs, o dono da Apple...?

Gosto do jeito deles. Bem melhores que os atiradinhos (que eu odeio). Risos.

Beijos.

Luanda Lima disse...

Ah, sim, frase interessante que eu li na Época hoje, de Oscar Wilde:
"É melhor ser bonito do que ser bom, mas é melhor ser bom do que ser feio".

Unknown disse...

Nossa, que legal, quando eu ia imaginar que uma observaçãozinha ia gerar tanto papo!
Cara, basicamente, o que eu acho:

1)O que diferencia uma pessoa feliz e outra infeliz é que uma é do jeito que é e não tem nenhum problema, nem rancor em relação a isso e a outra tem. A feliz sabe que seu carisma vem do que ela é sem máscaras e sabe reconhecer que tipo de opiniões a seu respeito realmente importam. Acho que isso explica o Buddy Holly, por exemplo, que era aquilo lá mesmo e fazia música boa...Aliás, é o tipo de pessoa que acho mais interessante, porque é a que tem tudo p/ ser subestimada e puxa o tapete da galera.

2)Esse papo de "perdedor" e "vencedor" é ilusão. A grande verdade é que somos todos futura comida de minhoca. Não importa o quão bonito ou bem-sucedido vc seja.Só criam essa idéia de "vencedor" p/ ser mais fácil de manipular as pessoas p/ seguirem um padrão imposto e não pensarem muito a respeito de como a vida delas não precisa girar em torno de consumo,consumo, consumo...Tem muita gente nascida e criada em favela que nunca precisou fazer análise como as socialites, o que p/ mim representa um sucesso na vida muito maior. Então, o que interessa é saber aproveitar o tempo que vc tem entre o berço e o caixão, fazendo o que vc gosta, com quem vc gosta e não deixando nunca de valorizar os bons momentos, os aprendizados dos maus momentos e principalmente, as pessoas amadas que verdadeiramente se importam com vc.

3)Em geral, as pessoas são o que escolhem ser. Posso não ter escolhido ser gordo ou magro. Mas eu escolho se isso vai ficar servindo de justificativa p/ existência dos meus problemas e se eu vou ou não fazer alguma coisa a respeito.E se, fazendo ou não algo a respeito, eu sou capaz de ser feliz comigo mesmo. É fogo, às vezes a maior dificuldade no mundo é a de se perdoar pelo o que se é...

Hã... Acho que é só, por enquanto...
Se vc leu até aqui, beijo, abraço e vai tratar de ser feliz nessa vida.

Felipe Melo disse...

Gostei do post, mas... não conconcordo muito com a sua definição de "loser" (a mão que afaga é a mesma que apedreja... hehehe). Acho que se enquadraria mais no termo "freak", ou "bizarros", ou até mesmo "incomuns, diferentes". Isso porque, na minha concepção, os loser são os que perdem no final, são os fracassados, seguindo ou não modelos vencedores. Buddy Holly é um freak vencedor, Bill Gates é um nerd vencedor, Susan Boyle é um ser bizarro vencedor... São pessoas fora dos padrões da sociedade (os padrões existem, aceitemos ou não) que venceram. Obviamente, pessoas "diferentes" são candidatos natos a losers, mas acho que a moda é vencer fora dos padrões, e não necessariamente ser um loser.

Será que estamos falando a mesma coisa usando termos diferentes? Vai saber.....

bjus

Luanda Lima disse...

Galera, que fique claro que eu não concordo com essa divisão entre supostos "vencedores" e "perdedores", hein? O post é justamente pra mostrar como, apesar das pressões e da pobreza de espírito institucionalizada, tem muita gente por aí que subverte esses valores e, muitas vezes, os ironizando.

E Mello, da maneira como eu entendo, o "freak" seria, curta e grossa, alguém esquisito. Assim, um "freak" seria sempre um "loser", mas não necessariamente o contrário. Mais uma vez, me parece ser a definição corrente...

Mattheus Rocha disse...

"E eu que já não quero mais ser um vencedor"...

Janis Joplin !!!!!

Felipe Melo disse...

Sem querer polemizar e muito menos ser chato, acho que o loser, como o próprio termo diz, são os perdedores, os fracassados. Então, um "freak" que vence na vida não é um loser, concorda? (ah, diz que sim, vai... hauhuahuaha). Logo, um freak nem sempre é um loser.

"... levo a vida devagar, pra não faltar amooor!" [Loser Manos]

Luanda Lima disse...

Mello,
Acho que o próprio conceito de "vencer na vida" é artificial...