domingo, 25 de maio de 2008

Vinho e batidas (de carro)


Nesse domingo preguiçoso, estou escutando compulsivamente "Lilac Wine", do Jeff Buckley. É uma canção febril, inundada por embriaguez, melancolia e doçura, assim como a voz do cantor, que só descobri há pouco mais de um ano (infelizmente, bem depois de sua morte precoce, em 1997). A música compara o torpor trazido pelo álcool ao do amor e também fala da tentativa inútil de dissipar o sofrimento de um amor perdido à base de álcool. "Listen to me…I cannot see clearly. Isn't that she coming to me nearly here?", canta a voz melodiosa. O tal vinho lilás do título, ao mesmo tempo que inebria, apenas concentra o sentimento do qual se tenta se livrar.  

Hoje finalmente assisti a "Crash-Estranhos Prazeres", do David Cronenberg, que ganhei de um amigo que estava se desfazendo dos agora jurássicos VHS. Basicamente, os personagens do filme ficam excitados com acidentes de carro, com a sensação de estar no limite entre a vida e a morte. Ou seja, o perigo é um vício e uma alternativa para intensificar as sensações, numa sociedade em que tudo é banalidade e se torna imediatamente entediante.

O vinho e as situações de risco simbolizam aquilo a que nos apegamos para evitar a mediocridade, a sensação de que somos absolutamente iguais a todo o restante. São afirmações de que cada indivíduo passa por situações únicas e que só podem ser plenamente compreendidas por ele ou talvez vagamente por um grupo seleto que compartilhe de experiências semelhantes. De que existe um abismo entre o eu e o mundo. E que, algumas vezes, é fundamental conscientizar-se disso para compreender a sua própria identidade.
  
                                                                                    

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