sábado, 22 de março de 2008

Que belo estranho dia pra se ter alegria


Quando ele chegou, experimentei imediatamente aquela sensação confusa e excitante de vazio no estômago, eletricidade percorrendo o corpo e injeção imediata de vida. Uma reviravolta silenciosa na alma, um caos súbito que só eu percebi. Eu estava lá queimando e ele nem percebia, não só por distração, mas também pelo meu esforço monumental de evitar demonstrar algo que eu ainda nem sabia o que era.

Soube, alguns dias depois, que o moço já tinha alguém e comecei uma estratégia para cair em mim. Comecei a evitar pensar nas possibilidades entre nós, a me forçar a ver que dali sairia, no máximo, amizade e ponto final. Passamos a sair juntos, com outras pessoas, e eu ainda tentando me manter firme no plano de desprendimento. O porém é que saber que não vale a pena insistir em algo e deixar de querer são duas coisas completamente distintas.

Pensei, muitas vezes, em falar, mas para quê? Simplesmente para aliviar a pressão no peito e acordar com ressaca moral no dia seguinte? Não era uma boa idéia. Conheci outras pessoas, me envolvi com algumas, mas nenhuma causou sequer uma palpitaçãozinha ou tirou meus pés do chão por um milésimo de segundo que fosse.

Daí, quando eu já estava bem perto da aceitação, veio a notícia de que o alguém dele já não era mais o alguém de ninguém. Looping de montanha-russa no estômago de novo. Sondei para saber como ele estava se sentindo e a resposta foi inesperadamente otimista. Decidi, então, que estava na hora de fazer algo, já que ele ainda não percebia que a minha maior ambição era simplesmente passar os sábados seguintes
vendo dvd no sofá ao lado dele. Só que (tadá) eu nunca tinha assumido essa postura com um cara antes! Nunca, mesmo morrendo de vontade, havia conseguido ultrapassar a minha timidez igualmente intensa e me arriscar rumo ao completo desconhecido que é o outro.

Depois de pensar, repensar e decidir parar um pouco de pensar para não desistir de vez, achei que havia chegado o momento ideal. Eu só queria experimentar a vertigem de tentar e ver o que ia acontecer, sem expectativas de casa, labrador e cortininhas brancas na janela. Aproveitei o escuro do ambiente para ficar mais à vontade (ainda assim, meu corpo continuava rígido por inteiro) e falei. Não só falei como precisei repetir várias vezes por causa da música ensurdecedora do lugar. E eu que estava preparada para dizer de uma vez só e o mais rápido possível "você tem consciência de que estou interessada por você desde a primeira vez em que te vi?" e desaparecer imediatamente depois, se pudesse...

Depois de meio segundo de tensão insuportável, ele falou. E não era o que eu esperava ouvir. Numa mistura de tentar me manter inteira e ainda curtir o restante da noite, decidi pensar naquele momento surreal (em que eu tinha me exposto como nunca antes e levado um balde de água fria na cabeça) só no dia seguinte. A menina cantava "Eu só aceito a condição de ter você só pra mim/Eu sei, não é assim, mas deixa/Eu só aceito a condição de ter você só pra mim/ Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir" e era isso que eu sentia; tudo doía dentro de mim enquanto eu ria e cantava junto.

Ainda assim, nem por um momento, me arrependi, pelo contrário. A sensação de liberdade por ter expulsado finalmente o que já pesava no meu peito há tanto tempo equilibrava-se no mesmo nível da frustração por não poder ao menos tentar mostrar a ele que a gente poderia dar certo.

Nesse dia, acabei sentindo também uma compaixão sem limites pelos homens, que herdaram de seus tatatatatataravós a árdua tarefa de dar o primeiro passo, arriscando seu orgulho próprio pela chance de ser feliz ao lado de alguém. Tá certo que alguns fogem assustados assim que percebem que a felicidade exige o risco de se entregar, mas isso já é outra história. O que importava era que eu estava livre por finalmente dizer o que eu sentia e alegre (ainda que a alegria estivesse misturada com a frustração natural), por não carregar mais no peito aquelas palavras não-ditas. O que fazer com elas, agora já ditas, dependia apenas dele.

8 comentários:

Anônimo disse...

Acho que você entendeu um pouquinho do que se passa dentro de um coração masculino apaixonado...

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Parabéns, amiga...
embora tenha sido, aparentemente, em vão, você deu o primeiro passo: Tentou!!!
I wiss I had same Strength to do that!!
Boa sorte na próxima tentativa!!!
Nunca desista de satisfazer seu "eu lírico" ha ha ha.
Taz.

Luanda Lima disse...

Meu eu lírico ficou satisfeitíssimo, já meu eu eu ficou com uma dor-de-cotovelo danada... Mesmo assim, acho que a experiência valeu para saber um pouquinho mais sobre como o outro lado (o lado negro da força) se sente. De qualquer modo, não acredito de todo que tenha sido em vão...

Unknown disse...

Miga queria ter a sua coragem quase suicida de ser feliz! Algumas vezes a gente cai do precipicio outras a gente voa...e você já aprendeu a voar.

Anônimo disse...

Embulho no estrombago é uma das melhores piores sensações do mundo.

É a certeza que algo bom está acontecendo, mas que algo de ruim pode acontecer.

Adorei o post. Adorei o blog.

Luanda Lima disse...

Oba!

Anônimo disse...

estou orgulhosa, lu!