domingo, 10 de janeiro de 2010

O mundo, sorrindo, se enche de graça - reloaded

Imaginem a cena, situada nos idos de 1962: Tom e Vinícius estão sentados numa mesa do Bar Veloso, curtindo a brisa da praia e vendo Helô Pinheiro passar, no esplendor de sua juventude. Seus cabelos balançam suavemente com o vento e a beleza da moça deixa todos embasbacados, hipnotizados com a imagem. A atmosfera do momento é tão envolvente que a dupla se sente inspirada para compor e daí nasce Garota de Ipanema

Corta pra 2010. É janeiro, um verão infernal. As pessoas suam, grudentas, pingando pelo caminho. O calorão e a muvuca da praia as deixam de mau humor, então todo mundo está meio nervoso. No bar, o que vale é a lei da selva. "Zéééé, traz mais uma aqui! Ei, você! Eu chamei primeiro, seu merda!". Os lugares em que o ar condicionado parece mais forte são disputados a pontapés. As mulheres se abanam, improvisando leques com a revista da semana. Os homens, resignados, cultivam círculos úmidos debaixo do braço. As filas da Sorveteria Itália e do Yogoberry são intermináveis.

Um grupo de rapazes está sentado num boteco perto do calçadão, conversando, bebendo cerveja e, é claro, suando. Saindo da praia, vem uma bela jovem, caminhando naquela preguiça característica do momento. Seu rosto é suave e, como o corpo ainda está molhado pelo último mergulho no mar, ela está só de biquíni e chinelo, na esperança de secar até chegar do outro lado da rua. Um dos caras percebe sua aproximação e cutuca os outros. Um deles vira na direção da moça, que agora passa ao lado do bar, e susurra "Hummmm... te chupava todinha!". É, outros tempos (quem sabe não rendia um funk?).

5 comentários:

Barbara Tuche disse...

Nossa!! Adorei!! Falou tudo!!
Como eu queria ter vivido aqueles tempos de Vinícius e Tom Jobim! Eu até era nascida, mas muito petite!rs

Você escreve muito bem!! Parabéns! Adorei! Não para de postar, não! =D

=**

Mattheus Rocha disse...

É, os tempos mudaram. Vivemos uma "desvolução" cultural. Não que eu goste muito de bossa nova (acho um gênero extremamente superestimado), mas entre as cocotas e as musas, fico com as musas.

Luanda Lima disse...

Obrigada, Barbara! Fiquei super feliz quando vi que você tinha comentado aqui no blog. O blog tava aposentado, mas voltou à ativa firme e forte =D.

E, Matt, eu gosto bastante de Bossa Nova, mas também acho o gênero superestimado...

Unknown disse...

Outros tempos mesmo...Não tenho muita pinta de musa mas quem sabe naquele tempo eu ouviria algo melhor do que: "Isso é que é bunda heim???". Escreva mais lu, sempre gostoso ler suas obeservações. Bjs

Camila GSS disse...

hahaha muito bom gatona, adorei!

PS.: Não sou uma estranha qualqur, "estudo" na UERJ com você.