Ela chegou sorrateira, cantando uma musiquinha boba de tão fácil, que colava instantaneamente na memória. Bastava ouvir uma vez pra começar logo a cantarolar "just dance/it's gonna be ok/ dara dara/ just dance". O nome trazia uma confiança quase pretensiosa: Lady Gaga, inspirada em Radio Ga Ga, música do Queen. A garota de 23 anos era uma mistura de princesa infernal, Cyndi Lauper, Elke Maravilha e Andy Warhol. Logo depois, o bafafá sobre a moça aterrisou por aqui também. O substantivo que melhor a descreve é "excesso". Na maquiagem, nos figurinos excêntricos, no cabelo loiro um passo além do artificial, na atitude ácida, nas declarações polêmicas, na sensualidade agressiva, na aparência longe do padrão. Se não fosse por isso, seria só mais uma aspirante a darling do pop. Boa voz? Ok. Músicas pegajosas? Ok. O álbum segura uma festa? Aham. Nada excepcional, no entanto. O trunfo de Lady Gaga está porém na personagem que ela cuidadosamente construiu para si.
A cantora e compositora é, sim, um produto. A diferença é que, ao que parece, foi a própria Lady Gaga (nome de batismo: Stefani Joanne Angelina Germanotta) quem o criou e a grande graça, afinal, é brincar com a cultura das celebridades, aproveitando pra subverter os conceitos de sensualidade, beleza, retrô e inovação. Tudo nela grita simulação e estranhamento. No espetáculo chamado Lady Gaga, a música é o que menos importa. Como de costume.

